OS REINOS EXÍLIOS - Espadas e Conflitos

Capítulo 16

Não pense que depois de algumas semanas, mesmo com o navio se direcionando a ilha pirata de Stantler, a tripulação estaria mais calma. O clima de revolta ainda permanecia e os mais ouriçados não davam tanta atenção a Oscar Fontaine. Apesar de que ele continuava agindo da maneira correta, se silenciar nesses momentos era a melhor maneira de se entender com a tripulação.

O jeito autoritário e frio que Rhuan Apache carregava em sua aura e que se acentuava em sua personalidade, pouco questionável, era a mais servida para esse momento. Ele mesmo guiava o leme e repassava às ordens a tripulação do navio. Alguns piratas, talvez por um respeito que aquele misterioso homem pudera ter adquirido a bordo do Don Santana, faziam o que o navegador pedia. Muitos já haviam percebido que Mentor Ruedell estava bastante debilitado. A febre que ele tivera nos primeiros dias havia cedido e agora que tinha decorrido mais uma semana no cansativo oceano Atlântico, todos sabiam, ao menos, o capitão estava vivo. Mesmo ninguém ainda o avistando pessoalmente.

Gabriel Havenon, diariamente, analisava o seu ilustre paciente. A febre ele conseguiu curar através de uma receita, feita a base de algumas ervas (ele mesmo havia recolhido da plantação que ficava na cozinha do navio). Mesmo assim o capitão ainda não havia demonstrado uma recuperação satisfatória. Porém, ele reparou que o capitão já não possuía a palidez que o figurava. Não queria dar falsos testemunhos ao seu paciente, por isso, guardou aquela informação anotada em seu caderno, deixando-o sempre preservado em sua acomodação no Don Santana. O boticário preferia acompanhar, discretamente, a alimentação do capitão e pelo que estava avaliando, Mentor Ruedell fazia o que ele sempre pedia.

Só não tinha certeza mesmo se Mentor Ruedell havia largado o rum.

A tripulação no início da expedição não compreendeu porque um marujo recém-chegado estava se hospedando em um quarto de privilégio a bordo do Don Santana. Muitos tripulantes serviam aos intentos do capitão já faziam várias estações e agora se sentiam indignados por terem que conviver com aquela realidade.

Era uma injustiça na opinião da maioria deles, exceto para o Lyan, que entendia o motivo.

O boato de que aquele novo tripulante era quase um médico foi difundido entre toda a tripulação do Don Santana. Muitos debochavam da capacidade do boticário, então Gabriel Havenon achou mais correto provar para todos ali que ele era um bom profissional e ofereceu seus serviços a toda tripulação. Houve muitas negativas quanto aquele serviço extra a bordo, mas os piratas pareceram começar a aceitar aquele novo marujo e finalmente, Gabriel Havenon também pode mostrar seus domínios no que diz respeito à medicina. E agora ele agradecia ao destino por estar com sinusite e seu nariz está totalmente tampado. Ali, a bordo do navio, a maioria dos casos era para resolver um caso de unha encravada. E mostrando destreza com uma pinça e um cortador de unhas o boticário retirava a unha que trazia dor aos tripulantes.

Rhuan Apache observava tudo, atentamente e, notava que o seu companheiro a bordo estava se familiarizando demais com a tripulação do Don Santana. Ele só não podia ter certeza se aquilo era algo positivo ou negativo, mas naquele momento ele sabia consigo mesmo que o só tempo poderia responder aquela pergunta. Ao menos uma coisa ele havia acertado, o boticário tinha uma vocação para pirataria, ou ao menos para algo similar.

O Don Santana, um dos navios mais temidos e conhecidos nas águas do Atlântico, havia se transformado em uma clínica. A sensação do momento era o doutor a bordo que tratava da tripulação. E aquilo foi um ponto favorável para Mentor Ruedell, que acabou ganhando mais algumas semanas para a sua recuperação, que até aquele momento estava acontecendo a passos acelerados, ao menos na opinião pessoal do boticário.

Então, em uma manhã clara e com poucas nuvens no céu, uma surpresa que poderia ser considerada positiva para a maioria da tripulação, aconteceu.