Capítulo 3

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John usava um avental preto e por baixo uma camisa branca. Tinha a altura mediana, o cabelo preto era liso e desgrenhado e os olhos eram de um castanho muito escuro, quase podiam ser confudidos com duas esferas negras.

Ainda o encarando, o homem abriu um modesto sorriso.

-Já estive aqui algumas vezes, embora faça muito tempo. Muito prazer, me chamo...

-Nolan Deakins, o navegador! -John o interrrompeu. -Me lembro da última vez que esteve aqui no Guia Noturno. Isso já faz oito anos. Você me contou que era amigo de meu pai.

O homem alto assentiu.

-Daquela vez você era apenas um adolescente. Hoje já podemos conversar como homens. E estou aqui para isso, John Weaver. -Nolan perguntou ao Bob: -Será que poderia permitir que eu tenha uma conversa com o rapaz, Robert?

-Claro, claro, fiquem a vontade.

John seguiu o homem alto até a varanda. A chuva caia insistemente e a neblina vinda do mar penetrava pelas ruas próximas do porto.

O homem alto e com a expressão séria encarou por um tempo a visão das residências e de outras tabernas que ficavam próximas. Parecia procurar uma maneira de começar aquele diálogo.

-Lembro que você tinha me dito da última vez que estive aqui que queria se tornar um médico. Ainda continua tendo aptidão para a cura, como seu pai, John?

-Sim. -O rapaz encarou o homem alto. -Tenho me dedicado aos estudos quase que diariamente.

-Talvez seja de família, essa vocação. -Nolan suspirou e um vapor condensado saiu de sua boca. -Gostaria de ouvir uma proposta que tenho a lher oferecer?

-Estou inclinado a ouvi-la. -John franziu o cenho interessado no que seria aquela barganha.

-Preciso lhe dizer que seu pai confiou a mim uma tarefa antes de morrer. Assuntos antigos que me seguem como fantasmas. -De modo abrupto Nolan mudou de assunto. -Sempre soube que aqui você sempre foi bem acolhido desde que sua mãe também faleceu.

John Weaver não queria ficar emocionado lembrando seu passado na frente de um homem em que ele lembrara de ter visto apenas uma vez na vida. Ele engoliu em seco e perguntou:

-E qual seria essa tarefa?

-Não posso entrar em detalhes, não agora. -Nolan o encarou. -Preciso que confie em mim. Sei que isso parece insano, mas agora necessito da ajuda do filho de Carl Weaver, e não poderia estar na frente de outra pessoa fazendo esse pedido.

John ficou em silêncio. Não imaginava que aquela conversa pudesse ser um pedido de ajuda, o que significaria em ter que deixar a taberna de Bob, o homem que o criou desde a sua infância.

-Como você bem lembrou, sou um navegador. Ajudei durante vários anos muitos capitães e homens dos mares a navegar em meio ao oceano Atlântico. –Nolan continuou: -Preciso adentrar a bordo de um navio. Um navio de corsários.

-Um navio?

-Sim. Trata-se do Sombra da Noite.

Sem que percebesse John arqueou as sobrancelhas.

-Já ouvi histórias sobre esse navio, claro. Há quem diga que ele é proibido de pisar em todas as ilhas exílios.

-Há algumas verdades nessa história, John. -Nolan encarava o rapaz a sua frente. -Mas como toda lenda ouve exageros. Ouvi dizer que atracaram faz dois dias no porto leste aqui de Matioli.

-Não pode ser! -John ficou incredulo. -Ninguém mencionou nada.

-O que mostra que a história sobre o Sombra da Noite não passa de uma história para crianças dormirem. -Respondeu Nolan.

Robert apareceu na varanda e chamou John para ajudá-lo. O movimento era incensante e mesmo estando tarde e chovendo muito não parava de chegar pessoas.

-Eu lhe agradeço pelo convite. Mas sinceramente porque precisa de mim? -Perguntou John. -Posso ser um morador de uma ilha , mas não sei nada sobre navios. Sei apenas o ofício de garçom. Acredito que não poderei lhe ajudar em seu intento. -Ele procurou ser sincero.

-Eu imaginei que você poderia me responder dessa forma. Preciso, antes de qualquer coisa, de homens leais e corajosos. Esse é o requisito que procuro avaliar. -Nolan respondeu demonstrando certeza no que dizia. -Escute o que eu te digo. Aceite o meu chamado e descobrirá um novo mundo. Eu não estou aqui por acaso meu rapaz. Acredite!

O homem alto com uma expressão séria, concluiu:

-Estarei aqui em Matioli. Caso se convença me procure.

Bob reapareceu na porta e dessa vez parecia estar demal humor.

-Entre agora, John! Eu necessito de ajuda. -A voz do Bob saiu abafada em meio ao barulho da chuva, maso rapaz entendeu o que ele havia dito.

Foi tão rápido que John não percebeu!

Enquanto John se distraiu com Bob o chamando de volta aos afazeres, ele não percebeu que Nolan, como um vulto, desapareceu de vista em meio à chuva que ainda insistia em cair sobre as terras daquele reino.

OS REINOS EXÍLIOS - Espadas e ConflitosOnde histórias criam vida. Descubra agora