Capítulo 11

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Gabriel Havenon, chegando ao convés principal, percebeu que a maioria dos tripulantes permanecia já a postos, armados e preparados para zarparem. Lyan, utilizando suas roupas simples, aproximou-se do rapaz e o entregou uma espada e uma arma.

-Boa sorte, grumete. -Desejou Lyan.

Gabriel apenas assentiu. Não tinha nenhuma intenção de descer até a cidade e saquear a população. No entanto, pelo visto ele não teria outra saída, senão acompanhar toda a tripulação.

Rhuan Apache, de braços cruzados em um canto do navio como de costume, com seu rosto de poucos amigos, observava a movimentação dos tripulantes, pertinazes pelo ataque.

Gatunos e corsários, homens que se tornaram piratas pelo destino incerto, acostumados a usarem roupas exageradas, correntes de ouro, pares de pistolas, espadas e chapéus e tantos outros apetrechos, naquela manhã, em especial, pareciam se preparar para uma festa pomposa. Vozes ruidosas, grunhidos e sotaques carregados se misturavam a bordo do Don Santana.

A porta da cabine do capitão foi escancarada. Cecília Beatrice adornava um vestido vermelho com brocados em ouro - a anágua aumentava o volume de seu suntuoso vestido -. Ela, naquele dia, mostrava um sorriso ponderado.

Não demorou muito e outro homem saiu de dentro do aposento.

E para a surpresa de todos não era o capitão Mentor Ruedell e sim o seu imediato. Ele tinha um ar de superioridade e usava um chapéu quase tão grande quanto de seu capitão, sua roupa era excêntrica como o vestiário dos tripulantes.

Normalmente, quem fazia o discurso antes de qualquer saque era o próprio capitão, mas dessa vez todos eles foram surpreendidos.

-Que seja proveitoso o dia de hoje senhores! -O imediato sorriu. -Não tenham dó de nada e nem ninguém. Hoje vós sois a lei!

Parecia que o discurso do capitão era bem próximo daquilo, quando Oscar Fontaine levantou a sua espada todos ovacionaram e levantaram em seguida suas espadas também.

A tripulação começou a descer do Don Santana. Os piratas murmuravam e grunhiam, alguns gesticulavam, perguntando se o capitão ia participar do saque. Mas dessa vez parecia que não. Quando todos já haviam descido do navio, restava ali em cima apenas Lyan e Cecília Beatrice, observando a tripulação.

A primeira visão da cidade foi magnífica.

Centenas de casas, estilo barroco, subiam por ruas tortuosas e íngremes de uma encosta a frente do porto; janelas venezianas, outras de origem árabes, além de treliças e mais diversas janelas de guilhotina, pintadas nas mais diversas cores, aumentava o charme colonial na ilha.

O porto estava pacato, havia apenas dois navios mercantis fazendo companhia ao Don Santana.

Ao caminharem por entre as ruelas se depararam com senhores de todas as idades parados a porta de suas casas. Mulheres, estendendo roupas e gritando com suas crianças - alguns desses brincavam despercebidos do perigo -.

Rhuan Apache informou ao imediato sobre o grande armazém que os espanhóis tinham na encosta ao extremo leste.

Uma floresta tropical formada por árvores muito altas e dispersas, com folhas perenes e uma elevada diversidade de epífitas, principalmente bromélias e , podia ser percebido adentrando a ilha a se perder de vista, fazendo fronteira com a propriedade espanhola. Naquela edificação era onde se encontrava os mais diversos produtos destinados a toda a colônia e principalmente, depois que as mercadorias passavam pela alfândega, instalada também naquele armazém, todos os artigos de maior valor eram enviados, diretamente, para a coroa espanhola, como: ouro, esmeralda, prata e outros demais apetrechos. Um posto do exército espanhol fazia a vigia do local, mas se comportava silenciosamente naquela manhã. Apenas três soldados faziam guarda na entrada, sem notar a ameaça que se aproximava.

OS REINOS EXÍLIOS - Espadas e ConflitosOnde histórias criam vida. Descubra agora