Capítulo 20

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Horas mais tarde a embarcação copiava o movimento monótono do mar. Gabriel e Rhuan estavam sentados sobre caixotes de madeira, observando o horizonte. Garrafas de rum aos seus pés e uma quase acabando, na mão do navegador que se intitulava como capitão.

O boticário já começava a sentir o efeito do rum, mas se precisasse diria que poderia beber pelos menos mais uma dúzia de garrafas de rum.

Ele se mostrou pensativo por um momento.

-O que estás a pensar? -Perguntou Rhuan Apache.

-Porque estamos ajudando Mentor Ruedell?

-Não estamos ajudando ele. Estou auto me ajudando. Sois vós que ficastes criando uma amizade desproporcional com ele e sua tripulação. -Rhuan o encarou. -Acredite não são homens de confiava.

Gabriel Havenon olhou para ele incrédulo. Ainda não tinha formulado em sua mente qual seria o propósito do ranzinza pirata a sua frente. Ele tomou um gole exagerado de seu rum. Até agora ele havia concordado em se tornar um espião e servir a bordo de um navio pirata, temido em meio ao Atlântico.

Mas o que ele estava lucrando até ali?

Além do fato de ser quase morto pelo imediato do navio, sua vida ainda era comparada com a que ele levava na taberna de Bob, seu pai de criação.

Tomando mais um gole de seu rum e derramando um pouco em sua camisa ele sorriu de lado pelo desastre causado. Veio-lhe um pensamento: agora ele era um boticário. Havia uma melhora considerável até aquele momento em sua vida, de maneira nenhuma poderia esquecer-se disso.

Porém, seria somente isso e sua vida teria que ser baseada em um jogo de sorte?

Finalmente, a pergunta que ele tanto queria fazer ao Rhuan Apache poderia ser feita. Gabriel começou:

-Porque você me chamou para essa aventura exatamente? Certamente, me conhecias de algum modo.

Rhuan Apache apenas encarou o boticário. Fez menção de falar alguma coisa, mas apenas sorriu de lado. Ele se levantou e caminhou até onde estavam os seus pertences. Procurou por um papel e o encontrou enrolado em uma camisa.

Desdobrando a carta, minuciosamente, ele a entregou nas mãos do boticário.

-Não te entreguei antes porque sei que seu espírito agitado, iria entregar todo nosso plano arquitetado.

Gabriel Havenon, então começou a ler:

"Olá meu nobre amigo Carlos Havenon, venho anunciar notícias animadoras e coerentes sobre a transfusão e a função do sistema cardiopulmonar. A partir deste estudo tenho certeza que vários homens passarão a compreender melhor a infusão de sangue. Apenas no inicio o estudante Edmund King estava me ajudando no meu trabalho, mas agora começo a ter novos apoios. Galeno de Pérgamo muito nos ajudou sobre seus conhecimentos anatômicos. Mas devo discordar de vários pontos deste nosso amigo que transcorreu a mais de um milênio (não estou gritando aqui, que sou um exilado pirata discordando dele).

E muito obrigado por me presentear com o livro de Galeno: "O Melhor Médico é Também um Filósofo". Com toda certeza eu ei de concordar com ele. Soube de seu limitado estado de saúde a muito deplorável. Logo vós meu amigo que luta pela saúde de tantas vidas junto a mim e os outros detentores dos conhecimentos medicinais, sofrendo pelo mal da doença.

Mesmo tão limitado vós muito contribuiu para a medicina. Robert Hooke por seu pedido, recentemente, esteve ao meu lado em vários experimentos e muito te agradece pelo apoio que nos destes. Seus conselhos sempre serão (e será) o nosso redirecionamento e claro, nosso encorajamento. Um dia nós seremos lembrados pela cura.

Um grande abraço para meu melhor amigo. De Richard Lower."

Rhuan Apache, percebendo que Gabriel Havenon havia terminado de ler a carta, se pronunciou.

-Richard Lower escreveu ao seu pai. Infelizmente ele não chegou a ler essa carta.

Gabriel Havenon estava estupefato demais para demonstrar qualquer sentimento. Ele encarava a carta quase sem piscar os olhos.

"Rhuan Apache conhecia meu pai?"

Pareceu que o navegador leu a mente do boticário.

-Estive na Espanha, por um acaso é uma rota de sonhadores, assim como Portugal. -Ele se silenciou, talvez por enfatizar uma ironia e continuou: -Conheci teu pai em uma rota pirata, por assim dizer e, somente um verdadeiro pirata ou exilado conheceria esse local na Espanha. Carlos sempre esteve limitado. Mal conseguia andar devido a sua frágil saúde. Ele me procurou e me falou de você e de sua mãe. Decerto, ele não sobreviveria a uma viagem a Matioli. Eu posso lhe garantir Gabriel, tudo que ele mais ansiava era retornar para a sua família.

OS REINOS EXÍLIOS - Espadas e ConflitosOnde histórias criam vida. Descubra agora