Capítulo 19

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Nos dias posteriores o frio e o céu nublado permaneceram, mas agora sem a persistente chuva o tempo parecia insistir em exprimir que continuaria daquela maneira na maioria do oceano Atlântico.

A viagem com destino a uma ilha pequena e pouco habitada estava sendo concluído e a paisagem que procuravam já podia ser vislumbrada ali do convés principal. O espaço físico era privilegiado, porém naquele lugar não tinha praticamente nada, decerto porque aquele limitado espaço de terra já fazia parte dos domínios de Stantler e daquele lugar não se esperava nada, além de um local para, esporadicamente, um tripulante ou outro atracar seu navio. Poucas casas e comércios haviam naquela ilha e eram cercadas por todos os cantos por árvores de várias espécies. O cais era composto por uma muralha de pedras desgastadas pelo tempo. Naquele dia apenas alguns navios estavam atracados na ilha.

Era isso que Mentor Ruedell precisava: discrição.

Sem providenciar nenhum motim, o capitão ordenou que alguns tripulantes devessem "pegar emprestado" qualquer barco da ilha para que Gabriel Havenon e Rhuan Apache pudessem chegar até Stantler.

Para uma tripulação experiente em saquear e torturar, aquilo era quase que roubar doce de uma criança. Talvez até mais fácil porque muitos barcos estavam sem ninguém em suas intermediações, o que significava que bastava adentrar a bordo de algum, desancorá-lo e zarpar.

O Don Santana permaneceu um pouco afastado e esperava o feito de sua tripulação. Não demorou e surgiu ao seu lado um barco mediano com apenas uma vela aberta ao vento que balançava copiosamente.

Toda a tripulação agora estava reunida no convés do navio. Gabriel Havenon estava novamente com a sua trouxinha preparada para a sua nova empreitada. Rhuan Apache, usando seu habitual sobretudo preto, com um olhar impaciente, os braços cruzados e uma barba aparada aguardava para, finalmente, se despedir da tripulação - a novidade é que agora um tripulante carregava duas malas com seus pertences -.

Mentor Ruedell aproximou-se e permaneceu ao lado do boticário e do navegador. Em uma de suas mãos ele segurava uma maleta preta e a entregou para Gabriel.

-Todo bom boticário carrega uma maleta igual a essa. -Falou o capitão.

Gabriel Havenon sorriu em retribuição.

-Muito bem. A rota e o plano já estão traçados. -Enfatizou Mentor Ruedell.

Rhuan Apache com um aceno se despediu e caminhou para a embarcação que fazia companhia ao Don Santana. Gabriel Havenon cumprimentou alguns dos tripulantes que acabaram se tornando pacientes que ele havia cuidado com empenho, apertou a mão de seu amigo Lyan e também do capitão do navio. Ele procurou em vão pela Cecília Beatrice e percebeu que ela não estava presente em sua despedida. Veio à tona que talvez ele pudesse ter interpretado mal à noite em que os dois haviam conversado ali mesmo no convés do navio. Mas o momento pediu para que ele esquecesse aquele assunto rapidamente.

Oscar Fontaine aproximou-se e apertou a mão de Gabriel.

-Espero que não morra. -Havia ironia na voz do imediato.

-Eu vou tentar. -O boticário respondeu com um sorriso de lado.

A embarcação ganhou distância em relação ao Don Santana. Guiar aquele barco era uma coisa bastante simples e o oceano contribuía muito. Não iria demorar muito a anoitecer e ao amanhecer já estariam avistando a ilha de Stantle - segundo o parecer de Rhuan Apache -.

Então lhes restavam uma coisa, beber rum. Rhuan Apache já estava preparado para a ocasião, junto de seus pertences haviam várias garrafas de rum.

OS REINOS EXÍLIOS - Espadas e ConflitosOnde histórias criam vida. Descubra agora