Capítulo 6

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Gabriel Havenon decidiu esperar para se aproximar de Mentor Ruedell no dia seguinte. Mas nem por isso saiu da cola dele e de sua tripulação. Acomodou-se em uma taberna que possuía uma varanda que ficava em frente ao beco e esperou, pacientemente, para saber aonde a tripulação do Don Santana iria.

Ao raiar o sol, a tripulação saiu cambaleando da taberna, guiados pelo senhor de barba grande e grisalha e seu chapéu enorme. E agora que ele estava caminhando, era fácil reparar que andava com uma ligeira dificuldade.

Sem ponderar, Gabriel os seguiu por um longo período. Ao chegar às intermediações do porto principal de Matioli, se escondeu atrás de alguns caixotes de madeira e os viu adentrarem a bordo do Don Santana.

Não era um navio grande, mas tinha a fama de ser o mais veloz entre os navios corsários, parecia ser construído com madeiras de carvalho muito antigas e apodrecidas - dava a ligeira sensação que deixaria os tripulantes a naufrágio a qualquer momento -. O brigue tipo fragata, com suas velas brancas e cinzentas, era incomodado pelo vento forte, mesmo estando fechadas.

O sono deixava Gabriel atordoado. Apesar de ser acostumado a ficar até tarde da noite trabalhando na taberna de Bob, ele ainda tinha dificuldades em manter os olhos abertos. Ficar de tocaia é um serviço extremamente sonolento. Talvez horas já houvessem passado e o silêncio ainda reinava a bordo do navio. Certamente, estavam todos dormindo aos montes, de ressaca, pelo excesso de rum consumido.

Passado, talvez, mais algumas horas, finalmente, a tripulação se reuniu no convés do navio. Mesmo estando a certa distância Gabriel Havenon avistou o capitão Rhuan Apache em meio a eles.

E para sua surpresa aconteceu o que ele menos imaginava naquele momento. O navio começou a zarpar deixando-o para trás!

Com o Don Santana abrindo passagem num mar inquieto, Gabriel viu a figura de Rhuan Apache na balaustrada do navio e, com asserção, procurando por ele.

O desespero começou a tomar conta de Gabriel. Seria possível que em sua primeira tarefa como pirata ele falharia de um jeito tão infantil? Tampouco, ele não poderia imaginar que o navio iria zarpar tão precipitadamente... E o que isso importaria, afinal? Havia falhado de qualquer maneira.

Ele fechou o punho e bateu com força em um dos caixotes de madeira. Sabia que deveria ter ido ontem à noite falar com o capitão Ruedell e que agora havia perdido a sua oportunidade. Haveria então outra oportunidade de entrar a bordo do Don Santana? Quando?

Ele não poderia ficar esperando...

Um homem completamente sujo de carvão havia acabado de atracar um barco, que mais se parecia com um bote, no porto. Extenuado, subia à rua de acesso a ilha de Matioli, com toda certeza, atrás de uma taberna. Destarte, Gabriel analisou aquilo como sua única oportunidade.

Ele desatracou o pequeno barco e zarpou em direção ao Don Santana. Previamente, achou correto deixar algumas moedas Insalur de ouro no lugar em que antes estava atracado o pequeno navio. E com o pequeno barco ganhando distância, pode avistar, perfeitamente, o homem correr de volta atrás de seu barquinho.

Não foi fácil seguir o Don Santana, mesmo com o navio pirata estando de velas fechadas. O pequeno barco, carregado com sacos de carvão, mesmo estando com as velas abertas ainda permanecia distante. Gabriel temia perder o Don Santana de vista a qualquer momento. Então, repentinamente, teve uma ideia, começou a jogar os sacos de carvão no mar para o barco ficar mais leve. E parecia, de maneira brilhante, que seu plano estava dando certo e o pequeno barco, aos poucos, ganhava velocidade. Gabriel Havenon estava tão sujo como o dono do barco, mas isso pouco importava. A distância estava cada vez mais se encurtando.

Gabriel sorria com satisfação. Mas então, ele começou a reparar, não era porque o barco estava rápido que ele se aproximava do navio pirata, e sim, porque o Don Santana esperava ele se aproximar. Será que agora mais uma vez o plano havia dado errado e ele seria torturado por ser confundido com um invasor? Essa resposta ele iria descobrir em breve!

Um homem, usando um elegante sobretudo de couro preto, apareceu na balaustrada do navio e fez um sinal para Gabriel subir a escada que dava acesso ao convés. Ele não podia nem pensar em fugir, dezenas de piratas apareceram sobre a balaustrada, olhando para ele que estava, completamente, sujo de carvão.

OS REINOS EXÍLIOS - Espadas e ConflitosOnde histórias criam vida. Descubra agora