Naquele dia, Bob decidiu que não iria abrir as portas da taberna. Também não havia como, o local estava parcialmente destruído depois do ataque da tripulação do Don Santana. Por isso, ouviam a todo instante bêbados gritando desesperados pedindo rum. Os bucaneiros mais insaciados arremessavam garrafas e pedras sobre as janelas da taberna, que por sorte permaneciam fechadas também. Gabriel achava graça e ficava ali sorrindo, discretamente, do modo como Bob reagia.
-Amotinados. A morte vos espera! -Vociferava o homenzinho, enraivecido, mordendo um pano amparado em seu ombro.
Bob ausentou-se durante a parte da tarde e Gabriel continuou organizando a taberna. No final do dia o local já voltava ao seu estilo tradicional. Mesas e cadeiras já estavam restauradas e colocadas em seu lugar e o rum que havia sobrado enfeitava a prateleira do fundo. Faltava ali o tradicional barril de rum Scalle's, que certamente os piratas mais antigos iriam cobrar.
Gabriel Havenon limpava, cuidadosamente, a janela da taberna quando Bob se aproximou.
-Não perca tempo, você deve ir atrás de Rhuan Apache o mais rápido possível. -disse Bob.
Gabriel não havia percebido que o Bob tinha voltado, quando viu o homenzinho, desastradamente, derrubou um balde de água que estava próximo.
Bob fechou a cara.
-Preste mais atenção no que vai fazer garoto. -Ele continuou: -Devereis partir hoje ainda.
A noite já havia chegado e o tempo nebuloso da noite anterior agora havia dado lugar a uma lua exuberante, cercada por infinitas estrelas.
Gabriel Havenon olhou para a porta que estava aberta e, nesse instante, alguns piratas entravam na taberna. Ele ficou intrigado.
-Você abriu a taberna, então vai precisar de minha ajuda...
Bob deu um sorriso irradiante, que só havia dado uma vez na vida - na época em que restaurou o balcão da taberna -.
-Não se preocupe com isso, rapaz. Contratei uma nova funcionária. -Ele usou como espelho a lâmina da faca que estava perto dele e ajeitou sua barba rala e por fazer.
Gabriel Havenon abriu um sorriso. Era mesmo animador saber que ia sair daquela taberna e poderia viver sem remorso, Bob demonstrava estar feliz com sua nova funcionária.
Bob colocou novamente a faca sobre a mesa e entregou um saquinho que segurava para Gabriel. O saquinho estava cheio, pelo seu barulho, continha moedas, um punhado de moedas. O rapaz abriu o saco de esguelha, viu ali um objeto quadrado e o retirou de imediato do saquinho.
-É uma bússola. -Afirmou Gabriel, admirado.
-Sua mãe me pediu para guardar essa bússola para vós. Ela foi de seu pai. É um presente de família.
A bússola, uma pequena caixinha azul marinha, era entalhada com uma cobra, precisamente desenhada sobre a tampa do objeto. A bússola que por toda a vida pertencera ao seu pai, o doutor Carlos Havenon.
Gabriel abriu-a e a agulha de direção se direcionava, precisamente, para o Norte. Ele fechou o saquinho, que continha também um monte de moedas, Insalur, (nome das moedas que circulavam em todas as ilhas piratas) e o colocou no bolso de sua calça. Permaneceu ainda segurando a bússola, observando-a.
-Está dispensado Gabriel. -Comunicou Bob.
Gabriel Havenon dirigiu-se para o seu quartinho. Sabia que não tinha muita coisa para pegar ali. Correu até seus livros relacionados à medicina e os colocou junto com a bússola. Ele demorou ainda a sair, porque teve dificuldade para formar uma trouxinha com um pano para guardar seus pertences.
Ele novamente tentou pentear seu cabelo desgrenhado, sem hesito, retornou à taberna para se despedir de Bob. Quando parou na porta, reparou que a taberna estava completamente cheia e havia um diferenciado público feminino presente.
Bob aproximou-se do rapaz empurrando piratas bêbados que gritavam a todo o momento e assobiavam pelas belas moças.
Gabriel Havenon não pôde deixar de reparar naquelas moças, que também fixaram seus olhares nele e, cochichavam algo, que pela distância não poderia ser ouvido.
-Tem certeza que você ficará bem, Bob? - Perguntou o Gabriel.
-Claro que tenho certeza.
Bob chamou por uma das garotas:
-Amora, venha até aqui.
Estava explicado o motivo de tamanha felicidade de Bob! Naquela taberna com uma garçonete substituindo Gabriel atrairia ainda mais o movimento para aquele lugar. E ele bem sabia que aquelas belas donzelas eram na verdade, amigas dessa nova garçonete, Amora. Ela então se aproximou e parou ao lado do homenzinho.
-Bonjour! -Ela o cumprimentou, seu tom de voz era doce.
-Olá, senhorita. -Gabriel retribuiu.
Amora vinha de uma família exilada francesa, seus cabelos eram anelados e os olhos de um verde intenso. Sua voz encantava qualquer homem que a ouvisse, diziam ao seu respeito, ser a melodia de uma sereia. Gabriel Havenon, observou, ela também poderia ser uma ótima cantora.
O rapaz sorriu para ela.Bob indicou para a garçonete que ela voltasse aos seus afazeres, ele então falou:
-Rhuan Apache provavelmente deve estar ao leste daqui, nas tabernas frequentadas pelos exilados portugueses ou espanhóis, nunca entendi direito os ibéricos, sempre unidos e com idiomas diferentes... -disse Bob com uma voz esclarecedora. -Agora vá Gabriel, não perca mais tempo.
Bob estendeu seu braço. Gabriel se aproximou e lhe deu um abraço apertado. Depois pegou uma garrafa de rum que estava na mesa de um bêbado que já estava desmaiado.
-Até mais, Bob. -Sorriu o rapaz.
Bob não disse mais nada, apenas acenou com a cabeça, sabia que se falasse algo ia acabar chorando de emoção. Gabriel Havenon sorriu e saiu carregando a garrafa de rum.
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OS REINOS EXÍLIOS - Espadas e Conflitos
FantasíaVocê aceitaria abandonar toda sua vida e embarcar em uma jornada completamente desconhecida e cheia de aventuras? John Weaver vivia sua vida na monotonia de uma taberna, em uma noite atípica, viu toda sua rotina se transformar com a visita inesper...