Capítulo 1

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Se as janelas estivessem abertas era possível ter uma visão ampla do mar e metros abaixo as rochas sendo acometidas pelas incassantes ondas. Admirado pela visão repetida, mas nunca monótona, John Weaver parecia perdido em um mundo distante.

-Anotou?

Não houve resposta.

Um homem corcunda de poucos cabelos e esses brancos como as nuvens caminhou se arrastando até onde o rapaz estava sentado.

-Eu lhe perguntei, John, se você copiou tudo que eu disse?

De repente, o rapaz encarou o senhor e pareceu constragido.

-Me desculpe doutor Estevan, o final eu acabei perdendo.

Sem cerimônias o senhor puxou o caderno e observou o que estava escrito.

-Mas isso eu já mencionei tem mais de quinze minutos. -Estevan pareceu se zangar.

-Eu sei, eu acabei me distraindo. -Tentou se justificar John.

-Você sabe que meu tempo é curto, fui um médico famoso na Europa e procurado por outros médicos, químicos e boticários de todos os cantos do mundo. Se me dedico a lhe ensinar quero que você se empenhe ao máximo, entendeu?

John assentiu e sem que percebesse sorriu de lado.

Fazia quase meia década que doutor Estevan havia começado a lhe ensinar os ofícios da cura e da manipulação de medicamentos naturais. Mesmo que as aulas não fossem sempre frequentes ele havia aprendido muito com aquele médico.

Era recorrente John se destrair perdido em seus pensamentos e ele sempre ouvia o Estevan lhe adverter e acabava achando engraçado o médico se gabar de seus conhecimentos, mesmo que todos os vizinhos garantissem que ele nunca conseguiu um diploma de alguma universade. Mas para John aquilo pouco importava, admirava aquele senhor e reconhecia que nos últimos anos aprendeu como nunca pudera imaginar em toda sua vida.

-Hoje o livro que estamos estudando é para mim o mais importante, ele abrange métodos utilizados pelos médicos mais ousados em dessecação de cadáveres. Claro que todos com autorização do papa. Abra na lauda 447. -Pediu Estevan.

John praticamente havia decorado seus três livros de medicina que havia ganhado em sua infância. Sabia que na página 447 de um desses livros, chamado - mais conhecido como: Fábrica -, havia um desenho muito bem detalhado de um corpo humano feito por Andreas Vesalius, o famoso médico especialista em dissecação de cadáveres. Era uma imagem um tanto quanto pertubadora de um corpo humano aberto. Estevan havia pedido nos últimos meses que ele tratasse de estudar todas as anotações do médico belga. E John mesmo tendo lido os livros tantas vezes - que perdeu as contas - focou naquele objetivo.

Mais uma vez o senhor estava debruçado sobre a mesa onde John havia repousado o livro, agora na página 447 aberta.

-Está vendo, esse homem morreu por algo que afetou seus pulmões. Repare como está diferente seu pulmão esquerdo em relação ao direito.

John assentiu. Já havia reparado antes.

-Você sabe o que pode ter sido? -Questionou o rapaz interessado.

Estevan analisou atentamente a imagem e aproximou seu rosto do livro como se tentasse identificar à doença ou talvez porque não enxergasse tão bem.

-Charuto. -Afirmou o médico. -Ele fez uso exagerado de charutos durante sua vida. Não poderiamos fazer nada por esse homem.

-Ele então era rico. -Indagou John.

Estevan o encarou, mas dessa vez pareceu assentir.

Os relatos indicavam que no século 16 surgiram os charutos, eram confeccionados com folhas inteiras e perfeitas de tabaco e depois trabalhadas em um árduo processo até finalmente ficarem prontas. Por esse motivo sempre foram caros e restritos as classes mais altas. Mas alguns trabalhadores acabaram inovando por pegar as sobras desses charutos e fazer um método mais simples para poderem fumar, surgindo assim, os cigarros.

Estevan retirou seu relógio de bolso e examinou as horas. Aquilo era um indicativo que no passado aquele médico tivera poder. Sem contar sua residência, decorada com móveis finos e construída em um lugar de destaque na região.

-Você não deveria estar na taberna as quatro horas, John? Por que você já está trinta e quatro minutos atrasados.

-Estou perdido, Bob irá me esfolar vivo!

O rapaz tratou de pegar seus livros de medicina e seu caderno e saiu as pressas lembrando de agradecer o médico enquanto já começava a correr.

-Obrigado, Estevan! 

Eu irei dividir os capítulos em tópicos afim de facilitar a leitura para nós. Acredito que assim teremos uma leitura melhor. Por favor, não esqueçam de me ajudar votando e comentando !! Muito obrigado.



OS REINOS EXÍLIOS - Espadas e ConflitosOnde histórias criam vida. Descubra agora