Capítulo 15

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Gabriel Havenon encontrava-se ao lado de Lyan na mesa da cozinha do navio. Estava ansioso para se encontrar com o capitão do navio e poder receitá-lo. Havia elaborado uma receita simples e confiava nas orientações que havia aprendido, há alguns anos: um senhor costumava ir até a taberna de Bob e, explicava que muitas das doenças eram causadas pelo tipo de alimentação pela qual o indivíduo consumia. Gabriel sabia, claramente, a vida a bordo de um navio era sempre limitada à alimentação e muitas das vezes os piratas decidiam trocar o alimento pela garrafa de rum. Afinal de contas, nem de tudo era tão ruim assim.

Lyan tentando comer uma massa de trigo dura, que era chamado ali a bordo de pão, reparou que o rapaz mal havia mexido em seu café da manhã.

-Está sem fome marujo?

-Estou ansioso Lyan. Muito ansioso. -Respondeu o rapaz.

Gabriel começou a contar ao senhor a sua frente o que havia acontecido durante a noite, mas logo teve que interromper a conversa por que o imediato havia parado ao lado da mesa onde estavam.

-O capitão te espera em sua cabine, marujo. -Falou Oscar Fontaine sem nenhuma cordialidade.

O imediato, postado ao lado da mesa, preservava uma expressão enraivada.

Gabriel Havenon levantou-se rapidamente e encarou o imediato do navio.

Depois falou:

-É boticário, por favor.

Ele saiu caminhando decidido até a cabine do capitão do navio.

Ao bater na porta, calmamente, não obteve resposta, então decidiu entrar mesmo assim. Parado ao lado da cama do capitão havia uma sonolenta Cecília Beatrice, segurando uma garrafa de rum e um Rhuan Apache, com os braços cruzados e a expressão séria.

Repetindo o gesto, novamente, Mentor Ruedell pediu para o rapaz se aproximar.

Gabriel Havenon agindo como na noite anterior, caminhou, lentamente, vacilando nos passos e agora sentia uma aceleração em seu coração e temia que ao fim de sua consulta o paciente não ficasse contente e pudesse como premiação o mandar para o enforcamento.

Ao se aproximar de Mentor Ruedell viu o seu estado excruciante.

-Capitão o senhor está com febre... -O boticário, percebendo que deveria agir instantaneamente, pediu: -Preciso de um pano úmido.

Rhuan Apache, assistindo a cena, sem ainda entender nada, falou:

-Irei buscar na cozinha.

Então ele saiu em passos acelerados até a cozinha.

O capitão, inutilmente, tentou se sentar na cama, mas padecia demais para isso e desistiu.

-Cecília me passe à garrafa de rum. -Ele sussurrou para a bela mulher, agora ela havia retirado o seu casaco de lã e usava uma camisa branca. Então continuou: -Vamos boticário fale-me sobre a sua receita médica.

Gabriel Havenon pigarreou e antes de Cecília entregar ao capitão a garrafa de rum ele fez um sinal e pegou a garrafa das mãos da bela moça.

Estudar o que falar para o seu paciente poderia ser arriscado demais. Decidiu ser incisivo, sem muitos rodeios com as palavras. Iria falar o que se deveria fazer corretamente. Então ele começou:

-Bem, capitão. A receita médica é algo que acho que se diz respeito à alimentação, portanto, não será tão doloroso. Começarei falando pelo lado mais simples.

-Cabível boticário, agora me passe minha garrafa de rum. -Ordenou Mentor Ruedell.

Gabriel Havenon analisou a situação e decidiu ser conclusivo:

-Pensando bem capitão, terei que começar pela parte mais difícil mesmo. - Suspirando profundamente e temendo a reação do capitão, ele continuou: - Capitão, para o tratamento poder dar certo o senhor terá que cortar todo o rum. - Ele falou quase que em um sussurro: -Terá que parar de beber rum, capitão.

Provavelmente, Mentor Ruedell tinha um poder oculto, porque quando ouviu aquelas palavras em segundos ele conseguiu ficar sentado em sua cama e a sua voz até se tornou mais rígida.

-Como ousa falar isso seu verme insolente?

"Pronto, irei morrer!" Pensou consigo mesmo o boticário, enquanto engolia em seco, tentou recuperar o raciocínio e colocar em ordens as palavras que se embaralharam em seu cérebro.

-É o que se diz capitão. O rum ataca negativamente outros órgãos e, portanto, enfraquece o coração ainda mais. -Ele pensou por alguns instantes e continuou: -O vinho! Capitão, o vinho consumido em menores quantidades até faz bem. Poderás consumir o vinho. Os ingleses e os italianos fazem muito isso, posso te garantir.

-MAS EU NÃO SOU UM INGLÊS E MUITO MENOS UM ITALIANO! -Esbravejou Mentor Ruedell.

-É à base do tratamento capitão. -Insistiu Gabriel.

-Continue...

-Hum... precisa também trocar o peixe do Caribe por peixes mais ao norte do Atlântico. São melhores, sabe? -Gabriel tinha ouvido falar daquele comentário, mas não sabia ao certo. Mas por segurança resolveu colocar na receita médica. Ele continuou: -O senhor precisa consumir também mais cebola de cabeça. Faz bem também para o coração. Ah e ovo de galinha, senhor.

-Naturais do oriente as cebolas. Temos isso a bordo Cecília? -Perguntou o capitão.

-Sim capitão. -Respondeu Cecília que mesmo sonolenta estava atenta a conversa.

Gabriel Havenon ao menos percebeu que ele estava dando atenção a suas orientações, então resolveu continuar:

-Consuma mais água, capitão. E principalmente, estão dizendo em Londres que muitos problemas do coração podem ser causados por preocupações que o senhor tenha. Em resumo mantenha-se mais calmo.

Nesse instante, a porta se abriu e Rhuan Apache veio trazendo alguns panos enrolados em uma das mãos e na outra um balde com água.

-Aqui está, marujo. -Rhuan Apache falou encarando o boticário a sua frente.

Mentor Ruedell, que havia novamente deitado em sua cama, se contorcia de frio.

-É só isso Gabriel? -Quis saber o capitão.

-Sim senhor, faça isso por algum tempo e vai melhorar. -Respondeu prontamente o boticário, aliviado por ter sido ao menos escutado.

Gabriel Havenon, para ser sincero, não tinha certeza quanto a isso. Apenas especulou algo que sempre ouvia de um ou outro pirata na taberna de Bob. E ainda sem comprovação acadêmica, ao menos em seu livro não constava, ele resolveu arriscar.

Séculos mais tarde, aquilo seria referência para tratamentos de muitas doenças. Teria um profissional designado para área destacada da medicina, o nutricionista.

Com a ajuda de Cecília Beatrice e com o ranzinza Rhuan Apache, ao lado de braços cruzados, o boticário usou os panos para diminuir a febre do capitão do navio. Ele molhava o pano no balde e estando úmido, depois de torcê- lo, colocava-o na testa do capitão. Ao fazer isso por quase uma hora ele deixou a bela mulher incumbida de continuar a tarefa e saiu da cabine de Mentor Ruedell indo direto para o seu quarto, exclusivo, a bordo do Don Santana. Ao final daquela sua primeira consulta oficial e dada à importância dela, estava contente por ao menos o paciente ter ouvido as suas orientações. Só não tinha tanta certeza se o capitão iria cumprir com as suas prescrições.

... ...

Olá senhores e miladys, Como está a leitura até aqui? Sei que tenho muitas coisas para corrigir nessa história, mas quero continuar entregando uma obra de alto nível para todos vocês. Por favor, não esqueçam de me ajudar votando e comentando!! Muito obrigado..

OS REINOS EXÍLIOS - Espadas e ConflitosOnde histórias criam vida. Descubra agora