Prólogo.

178 41 42
                                    

Ao abrir os olhos naquela manhã de domingo, Sarah Campbell sentiu uma sensação esquisita, que lhe causava uma angústia sem razão aparente. Era vazio.

Espreguiçou-se demoradamente na cama, virando de um lado para o outro, desejando não ter acordado tão cedo. Afinal, a Policial estava no seu dia de folga. O dia de espairecer a mente, deixando de lado todo sangue e perversão que vinham de bagagem com a profissão escolhida.
Não que ela pudesse reclamar, adorava a adrenalina que corria nas veias durante as perseguições. E quando prendia alguns dos malditos criminosos que estavam a solta, se achando invencíveis e donos do mundo, ela sentia uma felicidade quase genuína. Quase.

Levantou-se por fim, pensando que deveria preparar um café e assistir ao jornal, para ficar por dentro de tudo que estava acontecendo na cidade. Mesmo longe, não conseguia se desligar do trabalho. Era parte dela, de quem ela era.

Sentou-se no sofá, confortável com sua xícara em mãos, ligando no noticiário.

Um sorriso começou a aparecer timidamente nos cantos de seus lábios. O jornalista, tão engomado que parecia um boneco – pensou ela, falava sobre apreensão de drogas em um bairro perigoso da cidade. Alguns traficantes conseguiram fugir, porém, para o deleite de Sarah, outros não tiveram um final tão feliz.

Notícia tão boa que até se esquecera do vazio que teimou invadir seu peito durante a manhã.

Sarah sempre foi muito boa em contornar situações como essa. Quando se tratava de sentimentos, ela fugia como o diabo foge da cruz. Achava que a maneira mais fácil de lidar com eles, era não lidando de maneira alguma.

Porém, ela não podia fugir apenas de um vazio incontestável, que era o de sua própria casa. O silêncio, que antes lhe trazia prazer e serenidade, naquele dia em específico, pareceu a incomodar e irrita-la um pouco. Olhando à sua volta, ficou parada, esperançosa, como se solução de seu incômodo fosse se materializar em frente dela a qualquer momento. O que não aconteceu, obviamente.

Decidiu então que sairia para correr. Sarah nunca fora de fato o tipo que adora se exercitar, mas o cansaço a distraíria e a daria um bom motivo para sair de casa, ficando longe daquela sensação vazia que teimava em continuar ali.

Enquanto corria, aumentando gradativamente a velocidade, um mantra já antigo repetia-se, ecoando na sua mente:

Sou uma mulher segura de 28 anos, tenho uma casa boa e o trabalho que sempre quis, não preciso de mais nada! - ou ninguém!-, sua mente sorrateiramente, acrescentou.

PRESA A VOCÊ. PAUSADA.Onde histórias criam vida. Descubra agora