Capítulo 21.

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Sarah demorou longos minutos para criar coragem e discar os números. E após feito, levou mais tempo para chamar. A cena toda era ridícula, mas ela simplesmente estava esperando que alguma parte sensata de seu cérebro tomasse as rédeas da situação, esbofeteasse sua própria face e a impedisse de continuar o que estava fazendo.

Mas isso não aconteceu.

– De 0 a 10, as chances de não ter policiamento no local, são 8. – Sarah disparou quando ouviu a voz de Dylan do outro lado da linha.

Então fez-se silêncio. Ela tentando não pensar nas consequências. E Dylan genuinamente surpreso pela ligação.

Levando em consideração que Sarah levara algumas boas horas para ligar para ele. Dylan acreditava que ela não diria nada, então já tentava traçar outras rotas.

– Obrigado. – Disse simplesmente.

Sarah não respondeu. Apenas limpou a garganta. Não tinha vontade de dizer mais nada.

– O que irão transportar? – Ela perguntou, incerta.

– Você quer mesmo saber? Eu acho que não...

– Acho que não... – Ela repetiu.

E aquele foi o incentivo para que ela tomasse coragem de dizer o que seu lado racional tentava esbravejar todo aquele tempo. A relação tinha tomado proporções perigosas demais. Ela engoliu em seco, pensando no que diria a seguir. Dylan a fazia participar de forma indireta de seus esquemas ilegais e ela não podia ao menos saber do que se tratava? Aquilo nunca iria funcionar, principalmente daquela forma.

Então Sarah vomitou as palavras seguintes sem pensar muito.

– Dylan, não sei se posso continuar com isso. Nós...

Sarah esperou algum tempo, mas não houve resposta. Achou que ele tinha desligado sem avisar. Mas ao olhar a tela, viu que Dylan continuava na ligação, tão mudo quanto ela.

– Bom, eu não tenho como protestar contra isso... – Ele respondeu num tom calmo. E Sarah quis gritar com ele. Não sabia ao certo o que esperava ao dizer aquilo, mas de certo imaginou que haveria algum tipo de resistência. Esperava que ele dissesse que aquilo poderia dar certo. Mas ambos sabiam que não iria. Não quando nenhum dos dois fosse abrir mão da vida que levavam. Ela, dentro da lei, e ele fora.

Então houve mais um grande momento de silêncio. Sarah ficou imaginando cenas de filmes em que os casais são obrigados a se separar por obrigação de um destino infeliz, e estes eram recheados de lamúrias e beijos apaixonados. Ficou um pouco decepcionada pela separação dela e Dylan acontecer por telefone, de forma repentina e ele estar concordando com aquilo.

– Espero que de tudo certo para você... –  Talvez fosse assim mesmo que tivesse que acabar, ela pensou. Era como arrancar um bandaid de uma só vez, porque quanto mais Sarah pensasse, menos força teria de fazê-lo. E simplesmente não teria coragem de dizer isso pessoalmente. O cenário mais provável era ela acabando nos braços dele, como sempre acontecia.

– Obrigado... Então é isso? – Sarah sentiu a determinação diminuir quando por um segundo pensou ter ouvido a voz de Dylan Turner falhar do outro lado da linha. Quis desesperada dizer que não. Que pensando bem não era aquilo que queria. Que gostaria de estar com ele agora. Queria dizer que nenhum homem chegou a despertar nem metade dos sentimentos que ele despertou nela em tão pouco tempo. Mas ela não disse nada disso.

– Acho que é o melhor. – Foi o que disse, contrariada.

E sem mais palavras, ouviu o vazio da ligação encerrada.

Pensou que choraria, mas nenhum lágrima sequer escorreu por seu rosto. Ao contrário, se sentiu forte. Como se tivesse enfrentado um dos maiores desafios de sua vida. Era uma vencedora. Aquilo significava que ela voltaria ao controle total de sua mente, corpo e alma. Não voltaria? Era tudo o que mais desejava. Mas Sarah tinha percorrido caminhos que não sabia retornar. Eram complexos demais. E que estavam profundamente perdidos dentro dela.

Ela se reencostou na sua velha cadeira de balanço e inspirou, repetindo diversas vezes para si mesma que agora tudo ficaria bem. Afinal, ela estava bem naquele instante. Então Dylan Turner seria enfim apenas um capítulo confuso e bagunçado de sua vida. Talvez tivesse sido de fato um obstáculo para tirar-lhe da sua zona de conforto, apenas para que ela lutasse mais uma vez pelo o que acreditava. Ela só não sabia direito se ainda lembrava-se como vivia antes. Poucos meses pareceram-lhe anos distantes. Era ridículo.

Quando foi se deitar e fechou os olhos, infelizmente os azuis de Dylan Turner ainda estavam lá. Mas acreditou que aquilo seria normal. Não poderia simplesmente apagá-lo da mente, como se ele nunca tivesse existido. Iria deixar que seu corpo o expulsasse de maneira natural, aos poucos.

**

Duas semanas depois, já estava de volta à Delegacia. E estava ignorando completamente qualquer tentativa sorrateira do seu cérebro de resgatar as lembranças de Dylan Turner. Mas quando ouvia seu nome na boca de outras pessoas no trabalho, chegava a sentir um calafrio e as mãos tremiam ligeiramente. Sarah mentia para si mesma dizendo que aquilo era apenas falta de vitaminas no corpo. Ela tinha uma habilidade admirável de convencer a si mesma sobre coisas que ela mesma sabia que no fundo não eram reais. Mas precisavam ser para que ela pudesse seguir com a vida normalmente.

Embora estivesse levando tudo sob controle. Sentia um incômodo. Aquele que batia logo em seguida que colocava os pés em casa e a única companhia que tinha era sua própria.

Não esperava mais ligações de números desconhecidos, não marcava encontros às escondidas. Não sentia o calafrio na espinha toda vez que estava prestes a encontrá-lo. E para a infelicidade de Sarah, aquilo estava começando a fazer mais falta do que gostaria.

Enquanto ela tentava descobrir como preparar uma bebida simples na nova cafeteira da Delegacia, Nick entrou na sala, quase passando despercebido por Sarah. Os últimos dias tinham sido estranhos entre os dois. Sarah e o colega de trabalho não tinham uma relação com muita intimidade, mas certamente tinham sintonia. Um não invadia a privacidade do outro e assim permaneceram meses de boa convivência. No entanto, desde que Sarah retornara, notou que Nick a observava mais, perguntava mais sobre sua vida e demonstrava muito interesse por questões triviais, tais como o que ela fizera quando chegou do trabalho no dia anterior. Coisas que ele nunca demonstrara interesse antes. E ela o estava achando extremamente irritante.

Talvez ele apenas estivesse tentando se reconectar com ela, pensou. Mas de uma maneira bem estranha.

– Você ouviu sobre a prisão de Corey? – Nick se sentou no pequeno sofá empoeirado que havia ali.

– Não faço ideia de quem seja.

– Um do Sanders. Mas este faremos questão de que não escape. Ele vai ser nosso mapa para chegar até o núcleo de tudo. Já que a prisão de Dylan Turner foi uma total perda de tempo...

Sarah queria não ficar afetada com a informação, mas sentiu seu corpo estremecer. Queria ligar para Dylan imediatamente, mas pensou que ele provavelmente já sabia que um deles fora pego pela polícia. Ela nem estava mais participando dessa operação. Acreditava que quanto mais longe ficasse de qualquer coisa que envolvia o criminoso, seria melhor para ela e para esquecê-lo de vez. No entanto, quanto mais ela desejava se distanciar, mais o nome dele vinha a tona, era como algum tipo de assombração.

Sarah deu de ombros, tentando transparecer indiferença, só não soube se suas mãos passavam a mesma firmeza que sua voz.

– Isso é ótimo. – Foi tudo que disse.

Mas não era.

Ela e Nick caminharam preguiçosamente até a viatura. Tentou pensar que aquilo não era problema dela mais. Não poderia ser. Ela não tinha mais nenhuma relação com Dylan Turner, então não deveria se preocupar com ele. Sarah não podia se preocupar com ele. Mas o aperto no coração que permaneceu até a hora em que ela se deitou na cama para dormir, não escondia a aflição de não saber o que estava acontecendo e onde ele estaria. 

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