Capítulo XVII

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"Até quando podemos dar o direito a outra pessoa de nos humilhar e nos fazer infeliz? Até que ponto nos damos o direito de sofrer calados? Como podemos perceber, que a situação que vivemos não ficou cômoda, ou sustentável? Você já pensou se passa por isso? Você já se pegou imaginando o que faria se passasse por uma situação de violência doméstica? Acha que teria forças para se comprometer em tomar atitudes, ou é mais fácil inventar uma desculpa para as ações alheias? Você foi enviado ao mundo para ver sua vida passar ou para vivenciá-la? Acha que tudo tem uma explicação? Pense nisso, nem sempre enxergamos o que passamos, só levamos tudo com a barriga, ou enfrentamos? Refletir é necessário e nem sempre conseguimos fazer o que precisa ser feito."

Cheguei em casa e não vi Carlos, ele não podia saber que eu estava grávida, acabaria me matando. Ele, quando bebe, não se lembra do que fez e acharia que eu o teria traído.
Como pude casar com este homem? Acho que tinha me sentido tão desesperada que acabei me apegando na primeira pessoa que me assumiu como mulher.
Cresci com a ideia de ser desprezada por ser gorda, lembro-me do dia em que a mãe de Ricardo me chamou para conversar em sua casa como se fosse hoje.
Cheguei na casa dela pensando que iria me perguntar algo sobre Ricardo e foi grande a decepção que tive.
- Bom dia, senhora - disse assim que ela atendeu.
- Bom dia Elisa, entre, por favor - disse me olhando com cara de nojo.
Entrei, a segui até o escritório que tinham na casa e me sentei na cadeira que ela indicou. A mãe de Ricardo ficou me olhando por alguns segundos e começou a falar.
- Elisa, percebi que você e meu filho estão muito próximos, será que estou certa ao perceber que você e ele estão apaixonados? - perguntou sorrindo.
Meu coração se encheu de alegria ao ouvi-la dizendo essa frase, se ela mencionou que estávamos apaixonados é porque sentia que Ricardo também estava apaixonado.
- Eu amo seu filho, senhora, e ele também parece ser recíproco - falei na inocência.
- Elisa, eu sou mais velha e me sinto na obrigação de te alertar algumas coisas, posso? - ela perguntou como uma mãe preocupada e me fazendo acreditar que queria ser minha amiga.
- Claro, senhora - respondi esperando conselhos.
- Ricardo é um adolescente, com testosteronas borbulhando; rapazes nesta idade não querem amar, querem suprir a necessidade do sexo! Você é uma menina amigável, não confunda desejo com amor, pode se decepcionar - ela falava tentando transparecer calma.
- Eu entendo senhora, mas Ricardo me respeita muito - falei tentando fazê-la entender que eu e seu filho nunca tínhamos passado da amizade.
- Então Elisa, meu filho nunca poderá ter nada com você, além de amizade - disse olhando em suas mãos, sem me encarar.
- Não entendo aonde quer chegar, senhora. Seu filho e eu somos apenas amigos - respondi sem entender nada.
- Eu e minha família não ligamos para quem tem dinheiro ou não, afinal, o mundo está cheio de novos ricos, mas meu filho tem que estudar. Essa proximidade de vocês não vai dar em boa coisa. Queria pedir a você que fique longe dele, assim ele poderá se focar somente nos estudos - ela falou mexendo no grande colar de pérolas que usava e ainda evitando me olhar.
- Mas senhora, eu sempre o ajudo nos estudos, não acho que nossa amizade interfira nos estudos dele - respondi deixando ela a par de como eu o ajudava.
- Bom, já que não entende o que estou tentando dizer, vou ser mais específica - nessa hora ela me encarou e em seus olhos havia ódio - Não quero que meu filho seja visto com uma menina enorme como você, não gosto de você, tenho nojo só de olhar para você, menininha insolente. Não venha me dizer que meu filho precisa de pessoas como você, ele tem tudo! Não vou permitir que ele se apaixone por um monstrinho assim, imagine só se vocês transam e você dá o golpe da barriga nele, eu te mato!
Ela tremia de ódio enquanto falava, me deixando assustada. Eu não conseguia esboçar reação nenhuma, fiz menção de falar algo, mas quando abri a boca, ela gritou.
- Cale a boca, não quero ouvir sua voz. Vou mudar meu filho de escola e se eu sonhar que estão se encontrando eu acabo com você, entendeu? - ela falou e se levantou.
- Sim, senhora - respondi me levantando e sem saber direito o que pensar.
- E vê se faz um regime, sua porca! - ela gritou enquanto eu corria para fora da casa.
Saí da casa de Ricardo e fui direto para minha casa, entrei em meu quarto e fiquei uma semana sem ir às aulas. Minha mãe tentou de todas as maneiras descobrir porque eu chorava tanto, me levaram em vários médicos tentando identificar porque eu queimava em febre. Por fim, acabei em um psiquiatra que me entupiu de remédios, pois segundo me diziam, eu estava em depressão.
O médico chegou a aconselhar minha mãe a se mudar para que eu pudesse ficar melhor. Eu explodia em todas as sessões que ia, dizendo que queria ir embora daquela cidade, queria ficar longe de tudo, principalmente daquela mulher.
Depois de alguns meses, minha mãe me mandou para a casa de minha avó, que morava no interior de São Paulo.
Ela me amava tanto, que me fez enxergar que eu não precisava mudar por ninguém, que eu era linda e que um dia eu encontraria alguém que me amaria sem que eu tivesse que mudar ou emagrecer. Foquei-me nos estudos, cursei medicina e era respeitada em minha profissão; por ironia tinha me especializado em cirurgia plástica, tudo custeado por minha avó.
Quando conheci Carlos, ele se aproximou e fez de tudo para me conquistar, a mãe dele era muito amiga de minha avó.
Começamos a sair, mas nunca permiti que ele me tocasse, sentia vergonha do meu corpo; algo me bloqueava, mas mesmo assim aceitei seu pedido de casamento. Depois de casados, nos mudamos para São Paulo e ele me proibiu de trabalhar, dizendo que eu não precisava e ele tinha ciúmes, não queria que outro homem me olhasse.
Com o passar do tempo, ele foi se tornando agressivo. Sempre que me batia dizia que eu era patética e, depois de algumas horas, me beijava pedindo perdão, dizendo que me amava demais. Eu sempre o perdoava, pensando que mudaria. Em cinco anos de casados ele nunca tinha me tocado antes, dizendo que queria a mulher dele intacta, que assim que eu herdasse tudo a que tinha direito, me levaria para a lua de mel que eu merecia, aí sim ele e eu faríamos amor.
Mas há quase dois meses ele chegou muito bêbado e eu já estava deitada. Ele estava muito violento, por isso fiquei sem me mexer para que não me batesse. No entanto, tirou minha roupa, rasgando-a, e transou comigo; fiquei machucada, o lençol manchou de sangue, eu estava tremendo e assustada, com muita dor; depois que ele gozou dentro de mim, desabou na cama ao meu lado e dormiu. No outro dia levantou, tomou banho e saiu para trabalhar, não falou no assunto, foi como se nada tivesse acontecido e eu continuei calada.
Fui ao médico fazer exames, estava me sentindo mal, com muita ânsia de vômito e depois de um breve exame de sangue, descobri que estava grávida, por isso, procurei Ricardo para me ajudar no divórcio, assim eu poderia sumir com meu filho e não ter que viver assustada com a violência de Carlos, por mais que eu quisesse que meu filho fosse criado pelo pai e pela mãe, isso estava fora e cogitação, pois Carlos explodia do nada e poderia me machucar enquanto grávida, ou até pior, machucar nosso filho depois de nascer.
Agora só quero me divorciar e sumir, estou só esperando o inventário de minha avó. Como minha mãe era filha única e eu também sou filha única, herdo tudo que minha avó deixou, já que minha mãe faleceu antes do meu casamento.
Espero que Ricardo me ajude, quero divorciar e mudar de nome, sumir deste país se for preciso. Não posso mais continuar assim, mas tenho muito medo do que Carlos é capaz de fazer comigo se descobrir que quero a separação, tenho medo de morrer!

O Poder Do Amor - Obcecada pelo chefeOnde histórias criam vida. Descubra agora