Epílogo

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Os meses se passaram e Elisa e eu, já com a gravidez bem adiantada ainda trabalhávamos. Além de ser secretária de meu marido no escritório, ainda ia à noite ajudar Elisa, minha sogra e minha mãe na Associação que fundamos.
O lugar ficava na Vila Mariana e era imenso. Minha sogra comprou um terreno muito grande e construímos um lindo lugar, que contava com auxílio psicológico, nutricional, apoio de grupo e orientação jurídica. Estávamos atendendo cerca de cento e trinta mulheres, vítimas de violência doméstica e preconceito de peso. Nosso trabalho já estava sendo noticiado pela mídia paulista e isso fez com que aumentasse ainda mais a demanda de mulheres que precisavam de auxílio, principalmente mulheres que eram vítimas de preconceitos no trabalho e acabei me identificando e abraçando essa causa.
Eu conheço bem o que elas estavam passando, inclusive uma delas era vítima de Passini com os processos eu consegui tirar uma pequena fortuna dele, só assim para ele sentir, pelo bolso. Isso não vai mudar o preconceito dele, mas já estou passando para ele que estou na cola dele e se ele continuasse com seu modo de desrespeito eu continuaria processando. Afinal de contas, o pior é o abuso com as secretárias dele, o assédio sexual em si. Ele só me humilhou e usou de preconceito comigo sobre meu peso, para me machucar, por não conseguir o que queria.
Estávamos fazendo mais uma sessão do grupo e senti uma pontada forte abaixo do abdômen, tão forte que gritei.
Todos se viraram para me olhar, senti vergonha, mas meu rosto estava pálido, minha sogra e minha mãe se aproximaram rapidamente.
- Filha, o que foi? - minha mãe perguntou com a mão em meu ombro.
- Não sei, senti uma dor forte abaixo do abdômen, como se fosse uma pontada gran... - não terminei a frase dando outro grito e me curvando.
- Ela está tendo contrações - disse minha sogra.
Neste momento elas me ajudaram a levantar e um líquido começou a escorrer por minhas pernas e me assustei.
- Meu Deus! Que vergonha, acho que fiz xixi - disse de maneira envergonhada enquanto lágrimas caíam de meus olhos.
- Não minha linda, sua bolsa estourou, seu filho vai nascer - disse minha mãe sorrindo.
Ricardo, que estava lá fora com meu sogro e meu pai, viu que saí apoiada em minha mãe e minha sogra e se aproximou preocupado.
- O que aconteceu? - perguntou Ricardo preocupado.
- Filho, traga o carro, ela tem que ir para a maternidade agora, a bolsa já estourou e ela está tendo contrações, o bebê está nascendo - disse minha sogra.
Mais do que depressa Ricardo pegou o carro e fomos para o hospital mais próximo, não daria tempo de ir a outro.
Chegamos e já fui para a sala de parto e Ricardo foi colocar uma roupa especial para me acompanhar, quando ele chegou o bebê já estava nascendo.
A dor era insuportável, achei que estava sendo rasgada por uma faca de dentro para fora, nunca senti uma dor tão forte, mas quando o bebê saiu o alívio foi instantâneo.
Ricardo veio com ele nos braços e colocou perto do meu rosto, chorávamos juntos de felicidade. Ter um filho é a maior emoção do mundo, é como se sua vida agora fizesse sentido e antes você só sobrevivesse, o amor é incalculável.
Ricardo chorava, acometido de uma forte emoção, a me ver segurando nosso filho.
Depois de uma hora eu já estava no quarto, um pouco cansada. Elisa chegou com Bruno, Frank e Eduardo meus pais e meus sogros já estavam lá, fiquei muito feliz em ter o quarto cheio das pessoas que amava.
Todos puderam acompanhar a primeira mamada de meu pequeno Arthur, que demonstrava estar com fome e adormeceu mamando.
Depois que todos foram embora, cochilei e acordei depois de algum tempo ouvindo uma canção de ninar. Abri os olhos devagar e percebi que Ricardo estava com Arthur no colo e o embalava. Eu sorri e não podia acreditar naquilo, meu coração se encheu de amor tendo meus dois homens ali pertinho de mim.
- É, pelo visto você leva jeito, papai! - disse sorrindo com a voz bem baixa.
- Oi amor, ele é muito bonzinho, estava tentando fazê-lo dormir - Ricardo explicou com os olhos brilhando.
- Agora minha felicidade está completa - falei para Ricardo.
- Nem vem, mocinha, ainda falta mais um ou uma. Quero mais filhos, não quero que ele fique sem irmão ou irmã. Fui filho único e sei o quanto é ruim não ter alguém em que se possa espelhar ou dar o exemplo, em quem confiar ou conversar para ter um conselho - confessou algo que não sabia que ele sentia.
- Amor, a gente pode fazer mais uns três se você quiser. Quero uma casa cheia de crianças correndo e as avós correndo atrás deles quase descabeladas - falei sorrindo e imaginando a cena, Ricardo chegou a rir alto.
- Eu acho que isso vai ser divertido - ele disse e me entregou o bebê que tinha acordado com a risada dele.
- Oi meu amorzinho, você quer mamar? - falei para o bebê já em meus braços e o encaixei no bico do meu seio, que ele sugou com força.
- Hoje é o dia mais feliz da minha vida Ju, você e meu filho são tudo para mim! Agradeço a Deus por viver essa felicidade - Ricardo falou se abraçando a mim deitando na cama e passando a mão carinhosamente pela testa de nosso filho.
Ficamos ali curtindo nossa família e adormecemos os três juntos.
Três dias se passaram e meu filho e eu recebemos alta do hospital.
Chegamos em casa e a madrinha de Arthur já tinha terminado de arrumar o quartinho dele em casa.
- Elisa, ficou lindo! Obrigada - disse agradecendo minha amiga, que sorria e andava com dificuldade por causa da barriga imensa, já que estava grávida de um casal de gêmeos.
- Fiz com carinho comadre, agora deixe-me dar um beijinho nessa minha coisa fofa - disse se aproximando do bebê.
- Você vai internar que dia? - perguntei.
- Amanhã, mas passarei uma semana no hospital, cesariana precisa de mais cuidados por causa dos pontos - ela explicou.
- Elisa, confie, vai dar tudo certo! Daqui a duas semanas estaremos cheias de crianças para nos alegrar - disse sorrindo e passando a mão na sua barriga.
Coloquei Arthur no berço e fui acompanhar Elisa até a porta com a babá eletrônica na mão, para que eu corresse, caso o bebê acordasse. Ricardo estava entrevistando algumas babás, que também eram enfermeiras. Eu tinha exigido que tivessem mais de quarenta e cinco anos e com bastante experiência, não era louca de colocar uma menina nova que não saberia o que fazer com o bebê ou que poderia ousar dar em cima de meu marido.
Alguns meses se passaram e nos encontramos no primeiro churrasco da família depois dos nascimentos de todos os bebês. Enquanto minha mãe cuidava do Arthur, minha sogra cuidava de um dos gêmeos e a mãe de Bruno cuidava do outro, Elisa e eu fomos para a piscina e observávamos as avós com as crianças.
- Elisa, você imaginava que esse dia chegaria quando nos conheceu? - perguntei levantando os óculos de sol.
- Juliana eu nunca imaginei essa felicidade, mas depois que entreguei minha vida nas mãos de Deus e passei a aceitar o que ele me desse, entendi que tudo de melhor poderia acontecer, só precisávamos acreditar e aprender a amar nosso próximo. Imagine se semeássemos a raiva que guardávamos, jamais seríamos felizes, não porque Deus é ruim, mas porque no mundo existe a lei da ação e reação, a gente recebe o que dá - Elisa falava de uma maneira firme que me fazia repensar em tudo e além do mais, era a mais pura verdade; quando a gente tem raiva acaba passando raiva e recebendo raiva.
- Elisa, você foi um presente em minha vida, todo dia aprendo algo novo com você - falei beijando seu rosto.
Saímos da piscina em seguida e, morrendo de fome, sentei para comer, parando para observar todos que ali estavam. Fechei os olhos agradecendo a Deus por ter ficado obcecada por aquele chefe que foi colocado em meu caminho para que juntos pudéssemos crescer espiritualmente.
Hoje eu sei o verdadeiro significado de amar e ser amado.

O Poder Do Amor - Obcecada pelo chefeOnde histórias criam vida. Descubra agora