Prazer, o fodão Steve

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Por Steve
Mais um dia entediante.
Havia terminado mais um livro há dois meses e já estava sem inspiração para um próximo. Não havia nenhum assunto no qual eu ainda não tenha relatado em minhas obras, sobre domínio, poder e dinheiro. Eu esgotei tudo.
As bebidas já não me entorpeciam mais, então larguei o vício. Nunca fumei. Nem fumarei. Nada fazia mais sentido. Não tinha no que me inspirar. Era torcer para o livro fazer sucesso e eu estourar mais uma vez.
Meus amigos me dizem que eu deveria encontrar o amor, mas não me interessa encontrá-lo e perde-lo novamente. É quase uma missão impossível para mim. E olha que todos os meus amigos são casados! Aos vinte e seis, vinte e sete ou vinte e oito. O solteirão sou eu, e Leonardo, um cara gente boa de trinta e dois. Não era de se espantar que ele fosse solteiro. O cara era o galã do momento, exibia seu peitoral moreno e sarado para quem quisesse ver. Leonardo era o típico "gostosão", que passava uma noite em uma cama diferente. Já eu, tinha largado a mão fazia tempo.
Quando deixei a literatura entrar na minha vida, após o término doloroso, deixei meu coração e meu corpo longe de qualquer mulher. Meu amigo não subia fazia tempos, até porque quando eu escrevo um livro, não saio de casa até termina-lo, então ele não via nem oportunidades para tentar levantar.
Leonardo dizia que eu precisava encontrar alguém que fizesse meu coração ficar ereto e ansioso, não o pau. Quer dizer, ele também. Ou melhor, alguém que fizesse todo o meu eu ficar apaixonado.
Como um bom escritor, recomendo que Leonardo não leia romances. São toscos e mentem. Mas ele nunca me dava ouvidos. E ultimamente anda sossegado com um rabo de saia. Ele detalhava cada gesto da mulher, como se fosse sua deusa, eu, claro, senti aquilo uma vez na vida, com a única mulher que quebrou meu coração. Leonardo estava apaixonado e sabia muito bem disso.
Bom, vou contar um pouco da minha história com Caroline.
Aos dezoito anos, a conheci. Nos apaixonamos no mesmo instante e o namoro começou antes mesmo do primeiro beijo. Caroline era linda, aos padrões. Loira com os olhos mais azuis que eu já vi na vida. Magra, que não engordava nem por nada. Era doce.
Aos poucos seus pais foram aceitando o namoro, mas não tive escolha quando eles nos pegaram na cama. Eu estava com ela agarrada ao meu pescoço, com edredom por cima e nossas pernas enlaçadas, escondendo os sexos se cruzando. Porém nem mesmo com edredom, o nosso sexo foi escondido. As costas nuas de Caroline revelavam a nossa nudez.
Então fomos obrigados a nos casar. Ela com dezesseis, eu com dezoito. No início, tudo eram flores. Não gerou nem frutos da primeira vez. Mas aí, começou a esfriar. Caroline me culpava a cada dia por ter a levado para o casamento indesejado. E eu aceitei a culpa, mesmo sabendo que eu não queria ter ido para a cama com ela, e sim, tudo aconteceu porquê ela insistiu que queria se sentir nas estrelas.
Na nossa única conversa, afirmei que meu coração, mesmo forçado ao casamento, a amava. Depois disso, peguei Caroline na cama com outro. A sensação foi de pura vingança. Senti na pele o que seus pais sentiram e eu enfim os entendi. Caroline havia traído uma promessa feita a eles, o que não foi muito diferente em relação à mim. Não houve lágrimas, apenas desprezo.
Então eu me fechei. Não permiti que nenhuma mulher entrasse no meu coração e me levasse à tristeza de perder quem se ama.
E anos depois, descobri que ela formou uma linda família. Tinham dois filhos, um bom emprego, e acima de tudo, os dois se amavam. Era lindo ver o casal andando de mãos dadas, principalmente na primeira gravidez de Caroline. O rapaz não precisava nem dizer que ela gerava o fruto do amor deles. Era nítido. E mesmo com a barriga inchada, ele a achava linda. Isso é o amor que eu nunca tive a chance de conhecer.
- Perdido nos pensamentos? -Léo me acordou.
- Procurando razão. -respondi, bebendo um copo de água.
- Não diga que está com a cabeça na...
- Sim. -dei de ombros- Mas feliz. Eu a amava ao ponto de perder a minha felicidade para que ela pudesse ter a dela. -respirei fundo- Eu a amei. -coloquei o copo em cima da mesa.
- Ah cara... -Léo estalou a língua- Sinto muito. -mexeu uma peça do xadrez.
- Não precisa. Acabou faz oito anos e eu não preciso ser lembrado disso a cada instante. -mexi outra do tabuleiro.
Léo acabou me vencendo. Então recebi uma ligação da editora, avisando que a pré-venda havia começado. Assenti, formalmente como sempre e fui jogar buraco com Léo. Minha vida estava desnecessariamente entediante.
- Cara, vamos pra um puteiro? Você tá precisando!
- Leonardo! -bufei- Eu não sou homem de puteiro. -retruquei.
- Faz oito anos que você não toca em uma mulher, como quer sair dessa cara de bunda?
- Léo, eu não vou em puteiro nenhum. Estou bem.
Léo não insistiu. Achei melhor assim. Logo, ele foi embora e eu fiquei só. Fiz carinho em Bernardo, meu cão bonzinho e feliz. Um golden retriver que uma mulher havia jogado na rua após ele comer um de seus chinelos. Eu vi a cena. O bichinho chorou tanto no portão de casa, que meu coração não aguentou. Peguei o filhote no colo, acariciei sua cabeça. Ganhei uma lambida é um melhor amigo.
Assim que coloquei Bernardo dentro de casa, entreguei a ele um chinelo novo, que havia ganhado de uma dessas marcas caras. Lembro muito bem que ele pegou o chinelo na boca e o levou até mim, o entregando nas minhas mãos e deitando aos meus pés. Sorri. Mesmo sabendo que ele estava triste, tentei de tudo para que ele fosse feliz, como é hoje, ao meu lado.
- Ei garoto! -falei, acariciando sua cabeçona- Que tal você ser papai? Eu iria adorar encher a casa de pequenos filhotes seus! -encostei a cabeça em sua barriga- Eu prometo que vou fazer você se apaixonar e ela ficar perdidinha em você!
E como em todos os momentos da minha vida,  Bernardo e eu dormindo colados, como o bom amigo que eu tinha.

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