Voltando para a Italia.

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Por Steve.

Stela todo dia perguntava pela mãe. Eu respondia a mesma coisa: "a viagem atrasou" ou "o trabalho da mamãe custa dela um tempo longo viajando". Stela sempre pareceu entender. Porém, em idade escolar, as crianças não perdoam. Todos perguntavam sobre Anika Lombard. E para adultos eu não tinha respostas.
E nesse tempo, conheci Alicia.
Uma turista no Coliseu, que perguntou porque Stela chorava tanto no meu colo. E dali surgiu uma amizade. Alicia cuidava de Stela, e minha filha adorava Alicia.
A mulher tinha cabelos pretos como a noite, a pele negra e os olhos castanhos escuros. Brasileira como Nicolas, que superou a "perda" da esposa em bordéis até que sossegou com uma italiana bonita.
O bebê de Norma e Léo nasceu. Um menino chamado Hugo! Stela adorou o primo, e as vezes o fazia de boneco quando Norma e Leo me pediam para tomar conta do filho para que eles pudessem namorar durante uma hora sem interrupções.

- Hey, Stela! -Alicia falou, mostrando um brinquedo de montar para a minha filha- Vem montar com a tia!
- Tia! -Stela correu até ela, a abraçando e beijando o rosto da madrasta- Vamos brincar!
- Claro, minha pequena!

Liguei a TV para o pequeno Hugo, enquanto ele comia - com a minha ajuda- sua papinha sabor gororoba. Leo que tinha feito. Ali tinha mamão, aveia, e maçã.

- Sua vida tornou uma creche, não é, Steve?
- Sim, Alicia. -ri, colocando uma colher de papinha na boca do bebê- Depois de Stela, crianças proliferaram.
- Só o pequeno Hugo. -ela riu- Você é um bom pai. -sentou do meu lado. Stela foi para o quarto.
- Obrigado, Alicia. E você está saindo muito bem como madrasta. -pisquei.
- É. -ela sorriu de lado- Gosto de Stela. Criei um afeto muito grande por ela, mas ela não é a minha filha. E temo que confunda isso algum dia.
- Stela é inteligente, Alicia.
- Eu sei. -suspirou, e pegou algo em sua bolsa- e também sei que prometi algo a você na nossa primeira vez. -os olhos dela se encheram de lágrimas, e meu cérebro deu uma volta até lembrar do que ela havia dito sobre "Não quero filhos."- E juro, não fiz de propósito. -entregou-me a caixinha.

Tirei o laço e vi um par de sapatinhos de lã. Encarei Alicia.

- Não posso ter esse bebê. Eu sinto muito.
- Nem eu. -olhei para ela.
- A camisinha estava furada, olhe embaixo dos sapatos. -puxei o silicone com uns três furos na glande.
- Alicia, eu... -olhei para o chão, sem resposta alguma.
- Steve, preste atenção. -ajoelhou na minha frente, após eu dar uma colherada de papinha para Hugo- Eu tenho uma má formação do útero, se o bebê sobreviver, ele pode nascer com deficiências. Condenarei uma criança a isto. Caso contrário, vou sofrer um aborto natural. Meu útero rejeitaria o feto.
- Você o rejeitaria se ele viesse com deficiências?
- Não sei! -seu olhar era de pura dor- Quero evitar sofrimento para nós dois. Nós três. Quatro, com a Stela. Preciso tirar o bebê.
- É o que você quer? -ela afirmou- Marque que eu vou com você. Se mudar de ideia, não sinta vergonha de falar, e se não quiser o bebê, eu cuido.
- Não posso condenar meu filho.

E dali os dias se arrastaram até o dia final. Paguei o melhor médico, e ele afirmou sobre a situação do bebê. Disse que no caso de Alicia, a melhor solução era até mesmo retirar o útero. E ela iria fazer isso.
A sala de cirurgia estava limpa e logo Alicia entrou pronta para o processo. Segurei em sua mão quando ela precisou escolher pela última vez.

- Quer mesmo tirar o bebê?
- Sim, doutor. -e olhou para mim.

Não havia anestesia.

- Alicia, olhe para o monitor. -nós dois olhamos o pequeno feto- Ele está morto. Alguma hora seu corpo ia expulsar ele. -nós dois assentimos.

Parte a parte, o bebê foi saindo de Alicia. Evitei olhar.
Logo em seguida, uma nova equipe veio e ela passou pela cirurgia de retirada de útero. E cuidei dela pelos meses que vieram a seguir. Limpei os pontos, a casa, o quintal, lavei as roupas, cuide de Hugo e de Stela, que já não perguntava tanto pela mãe.
Minha tornou-se triste desde Carol. Ah! E ela vinha me visitar com seus três filhos. Conheceu a minha menina e minha namorada. E acabou que voltamos a ser amigos.
Cada dia que se passava, a saudade de Anika aumentava e ela se tornava cada vez menos presente na vida de Stela.
Lissa também me ajudava a segurar as pontas quando Stela chorava com raiva de Anika. Leo não tinha nem tempo mais para mim, já que os preparativos de seu casamento e o filho, lhe ocupavam dias e dias.
Por fim, três meses depois do nascimento do filho de Anika e Henri (contei os meses a partir da carta), casei-me com Alicia.
Nicolas continuou com a italiana e o caso estava ficando mais sério do que ele podia imaginar.

- Eu estou vendo o Steve casando, Leo casando e eu ficando pra trás!
- Você gosta dela? -perguntou Leo.
- É errado dizer que gosto mais dela do que de Anika?
- Não. -respondi- Anika não vai voltar mais, Nicolas. Nós seguimos a nossa vida. -dei um gole na cerveja, olhando para a mesa ao lado, com Norma, Lissa e Alicia conversando animadamente.
- Sinto culpa. -Nicolas tomou mais um gole também- Outro dia peguei o celular dela e vi as nossas fotos. Parece errado estar com a Mônica e ainda ver as fotos dela, sabe?
- Nicolas -Comecei- Anika não morreu. Está casada do outro lado do mundo, com um cara que ela nem sabia quem era. Ela me mandou uma carta. Disse que quando precisasse de ajuda, iria me mandar outra carta para que eu fosse atrás dela. Só que se passaram um ano. Ela teve um bebê. E está bem, espero. Quando ela precisar, vai me chamar. -ouvi a notificação do meu celular, mas ignorei rapidamente- a vida segue. E Anika vai ficar feliz de ver que você seguiu em frente.

Deixei os dois conversando e fui atender a chamada do lado de fora do restaurante.

Steve: Alô? Quem é?
Anika: Oi, Steve!
Steve: Anika? -ouvi barulho de risada de bebê no fundo- Você está bem?
Anika: Sim! Bem melhor que imaginei que fosse estar. E sabe, convenci meu marido a fugir de GardenWater comigo e com os nossos filhos. Não vejo a hora de ver Stela novamente.
Steve: Peraí. Filhos?
Anika: Gerei gêmeos! -ouvi sua risada- Estou voltando para a Itália. Passei em Washington, expliquei tudo para o diretor da editora e vou ir ver Stela. Talvez ela não queira me ver. Nem vocês. Mas sei lá... eu estou quase desmaiando de felicidade.
Steve: Caramba!
Anika: Chegando aí eu te ligo.
Steve: Tá. Peraí. -ela ficou em silêncio e eu também- As coisas mudaram aqui, tá bom?
Anika: Eu também mudei. -seu tom foi melancólico- Estou preparada para tudo.
Steve: Busco você no aeroporto. Vocês.
Anika: Até.
Steve: Até.

Desliguei e corri de volta para a mesa. Leo soltou um berro. Nicolas quase chorou de alívio. E eu fiquei com a voz doce e alegre de uma mulher que eu amei desde o princípio. Sei que agora ela tinha dois bebês, um marido que a amava e ela o amava também. E que eu fui a única pessoa a quem ela se importou de ligar.

- Que tanta alegria, meninos? -Norma perguntou, rindo com suas colegas.
- Quero todos lá em casa amanhã pela manhã. Teremos uma surpresa! -falei.

Nicolas pediu para levar Mônica. Falei que, como era um reencontro depois de um fim tão trágico, não sabia o jeito como ele iria reagir. Ele concordou. Levar Mônica não deixaria o momento natural. E as seis da manhã eu estava saindo de casa e indo direto para o aeroporto ver Anika e sua nova família.

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