O resgate falido.

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Por Steve

Lissa, Leo, Nicolas e Norma estavam sentados na minha mesa. Stela dormia. Nicolas chorava.
Ele estava inconsolável, tanto que deixou Stela conosco porque chorava todos os dias com a ausência de sua esposa, Anika.
Ele contou que o pai a levou de volta.
Junto com Anelisie.

- Vamos atrás delas! Vamos resgata-las!
- Não dá, Steve! O pai dela vai nos matar!
- O que não dá é pra ficar parado vendo isso!

Os dias se arrastaram. Stela percebeu a ausência da mãe e perguntava a todo instante, o que deixou tudo mais complicado para ela. Não sabíamos o que dizer, nem o que fazer.
Nicolas e eu havíamos perdido o amor das nossas vidas.
Dois meses se passaram. Apenas uma carta chegou de Washington, onde Anika descrevia os primeiros sintomas da gravidez, e relatava com tristeza a espera do bebê. Mandou lembranças e que morria de saudades de Stela, e que faria de tudo para voltar a vê-la outra vez. Na parte destinada a Nicolas, ela dizia "Sou sua. Uma parte minha ainda está viva por você."
E por incrível que pareça, ganhei uma carta exclusiva para mim. Claro que esperei ficar sozinho para aprecia-lá. Por fim, esperava que Anika dissesse apenas para cuidar de nossa menina. Porém, ela foi muito além disso.

" Quando te conheci, sabia que teria que deixar meus medos para trás e me entregar para aquele homem sedutor que batia na minha porta. Steve... tenho certeza que nosso romance foi tão verdadeiro quanto o meu amor pela nossa linda menina. Sinto muito por ter te passado a impressão errada, mas foi com você que aprendi a amar, ser amada e ter um relacionamento com alguém. Nosso fim foi muito triste, e eu fiquei muito mal com a distância imposta por você, e o jeito com que se tornou. Parecia frio demais, duro demais, desumano.
Provavelmente a última vez que te vi, foi naquele jantar em Paris. Papai não me deixa sair nunca mais, e acredite: estou usando vestidos longos e anáguas! Voltando... Norma viu meu sofrimento, e quando soube que eu estava de mudança para a Itália, levou Stela pra me vez. Foram inúmeras vezes. Não a culpe, por favor, ela fez o melhor que pôde para me manter sã. Vi cada etapa da vida da minha menina e sinto muito por não poder mais estar ao lado dela. Eu a amo. Profundamente.
Meu novo marido é uma pessoa boa, sabe? Não me tocou quando eu pedi distância, não força nada... o bebê foi um mal necessário. As famílias (tanto a minha quanto a dele e dos moradores) já estavam preocupadas com Henri e seu herdeiro. Sinto que será outra menina.
Sei que um dia, Henri vai me machucar, vai me tratar como uma qualquer e quando isso acontecer, eu vou precisar de você. Nicolas pode ajudar, mas você é inteligente e sabe mais da minha vida -e do meu eu- do que ele. Sabe onde me encontrar, Steve.
Gritarei por ajuda e precisarei de ti. Vai ser difícil suportar uma nova fuga, mas aí Henri poderá arrumar uma nova esposa e me deixará em paz. Até lá, cuide de Stela. Cuide de si. E de Nicolas. Posso estar pedindo demais, mas, depois de tudo, vocês são a única família que eu tenho.

Amo você.
Anika Blair Lombard. (Nada de Hudson) "

Chorei até cair no sono naquela noite. Não conseguia pensar na dor que ela não estava sentindo por estar sozinha com um completo estranho. E a gravidez indesejada. E morar num lugar ruim. E viver triste.
Anika sempre foi forte, porém não tanto quanto parecia ser. E no final, ela foi sincera com seus sentimentos, contando a verdade. Sei que ela não mentiria.
"Amo você." Ama. Demais. E eu a amo mais do que posso. Ah, se eu pudesse consertar as besteiras que fiz, as distâncias que coloquei entre nós por besteira. Se eu pudesse apenas vê-la...
Fiquei feliz ao saber de Norma e Anika. Minha irmã nunca foi muito boa em ver ninguém infeliz, por isso foi correndo deixar Stela com a mãe. E isso é admirável.
A família, descrita por Anika, era exatamente as pessoas que a acolheram. E eu estava muito feliz de saber que eu ainda era uma delas, e que ela contava comigo. Que me escolhera para tirá-la de seu sofrimento.
E após as lágrimas, o sono pesado. (...)

- Queria a mamãe aqui. -Stela falou em seu italiano perfeito.
- Eu também, filha. -suspirei, olhando para ela- Sua mamãe vai voltar um dia, e ela sempre me pede pra dizer que ama você. -beijei a testa dela.
- Se amasse, não teria deixado a Stelinha! -voltou a chorar.
- Não, filha. -acariciei seus cabelos- Mamãe não sumiu porque quis, a tiraram da gente!

Stela chorou muito mais. Ela não suportava a ausência da mãe, de modo que estava inconsolável. Norma a ajudou bastante, mesmo sabendo que quando seu bebê nascesse, Stela iria ficar mais deprimida ainda.

- Ela era uma criança feliz. -Leo falou, vendo Stela dormindo.
- Sinto que talvez nunca mais volte a ver a mãe.
- Ela vai. Stela vai crescer e ir atrás de Anika. Certeza!

Todos nós queríamos isso.
Então, peguei o notebook no quarto e comecei a escrever, e escrever, e me matar de escrever. Ao final do dia, seis capítulos estavam prontos e a história era nova. "Era uma vez, nós três."
Ali eu contaria a história nunca contada por Anika, por medo. Uma espécie de bibliografia. Queria que o mundo soubesse dela. Queria que soubesse de nós, e o quanto nós dois ainda podíamos mudar o mundo juntos, mesmo estando separados.
E isso me moveu feito água corrente de um rio sempre em movimento.

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