O encontro de Jacksteve.

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Por Steve.

Corri até um supermercado, enchi o carrinho e levei até Anika. Se ela não podia sair, eu iria até ela sem nem pestanejar. Mal contive a vontade de abraçá-la quando vi seus olhinhos vermelhos e o rosto inchado de tanto chorar. Ela precisava do emprego, e amava trabalhar com ele também.
Quando nos abraçamos, fiquei em paz comigo mesmo. Não sei, mas o que eu sentia era maior que tudo. Parecia que eu tinha nascido de novo, e meu peito queria dar uma chance ao amor. E eu queria amar!

- Anika, você está bem?
- Não, Steve. -ela falou, nos soltando e me puxando para dentro do seu lar- Perdi o emprego para uma mulher linda, rica, e que precisa da vaga para terminar o seu doutorado. -soltou, tristonha- Como eu vou viver agora?
- Com certeza essa moça não vai ter o mesmo amor com que você ensina aquelas crianças. Ela pode até ser rica, ter doutorado... -falei caminhando até a cozinha e deixando as sacolas lá- mas ela não tem e não é você. -ela esboçou um sorriso- E bem, eu vou te ajudar enquanto eu puder, minha princesa. -acariciei seu rosto.
- Você não vai ficar para sempre. -ela falou, com mais um sorriso triste- E o que tem nas sacolas?
- Comida. -respondeu, ignorando sua afirmativa anterior.
- Steve!
- Anika, você vai precisar comer. Naquele dia você não tinha muita coisa do armário, além de besteiras. Olha pra mim. -ela zanzava de uma lado para o outro- Eu... Anika, pare com isso! -ela parou, furiosa feito o cão.
- Steve! Não era para você ter se metido na minha alimentação! Eu como pouco, isso é normal. -abaixou o tom de voz- Nós somos amigos, não somos? -afirmei- Então não quero que faça mais isso. Aqui é a minha casa, lugar onde eu devo cuidar.
- Amigos também cuidam uns dos outros. -falei, segurando na mão dela- Só hoje, me deixa cuidar de você?

Anika assentiu e voltou para os meus braços. A menina estava triste, não estava nem pensando direito nas coisas. Para ela não deve ser fácil, mas tinha que aceitar um pouco de ajuda também. Ela respirou fundo, sentando no sofá. Bart rondou minhas pernas e miou para mim. Sorri para o gatinho e o deixei para sentar ao lado de Anika. Tirei a mochila das costas, e a trouxe para perto, recostando sua cabeça no meu peito.
Ficamos no mais profundo silêncio, ouvindo os passarinhos e o vento. Até que senti Anika mais leve, e resolvi olhar. Minha menina dormia serenamente. A ajeitei nos meus braços e a levei até sua cama, devidamente arrumada. O quarto estava frio, assim como sua penteadeiras. Haviam fotos ali, que agora não estavam mais. O shortinho de corações estava ao lado do travesseiro, e a gravata bem dobrada em cima do tecido branco e vermelho. Sorri. Ela estava com algo meu perto dela. Minha suave imaginação voou para quilômetros longe de Washington. Para a Itália, especificamente. Imaginei ela dormindo, daquele mesmo jeito, na minha cama, com a mesma barriga inchada do sonho anterior. "Estávamos esperando ansiosamente a chegada do nosso bebê e fazia tempos que a gravidez não dava uma trégua na minha esposa. Os enjoos eram frequentes, ela vivia deitada enquanto via seu corpo mudando pra acolher nosso pequeno. Era um menino, carinhosamente chamado de Hugo."
Sacudi a cabeça. Estava no meu maior delírio.
Saí do quarto, pronto para esfriar a cabeça. Mas queria saber mais sobre aquela mulher, mesmo não querendo mexer em suas coisas. Reparei o apartamento. Poucas cores, nada de plantas, e tudo muito abstrato. Por isso, aproveitei seu sono e coloquei a mão na massa. Escrevi cada detalhe dos cômodos e preenchi mais linhas daquele novo capítulo. Nesse, eu descrevia como seria nosso primeiro encontro, num café, com biscoitos amanteigados.
Horas se passaram. Anika não acordava, e pelo visto, não iria despertar tão cedo. Mas ouvi seu telefone tocar, e para dar recado, fui ver quem era. Jack, o nome que aparecia no visor.

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Steve: Jack? -disse, com a voz mais séria que consegui.
Jack: Anika? -ele falou com um tom duvidoso- Quem é? Você roubou a Anika? Onde ela está?
Steve: Não roubei a Anika, e ela está bem. -relanceei de leve o quarto- Quer deixar algum recado?
Jack: Não encoste um dedo nela! -desligou.
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