Italiana

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Por Steve.

Leo notou o quanto apreensivo eu estava, tanto que pegou o meu carro no estacionamento e dirigiu em alta velocidade até a minha casa.
Sei que Stela havia ficado, mas no momento, tudo que eu mais precisava estava na minha casa, sofrendo com um término de relacionamento insensível.
Durante a viagem, fiquei pensando na briga que tive com Anika antes de sair. Ora! Fui sincero! Onde uma mulher, com filha e família formando, poderia ter uma atitude como aquela? Fazer birra aos vinte e dois anos de idade? Completamente desnecessário. E nosso relacionamento esfriou, para falar a verdade mais sincera do mundo.
Fiquei chateado com sua postura perante Lissa. Querendo ou não, Anika tinha uma paixãozinha pela garota e não sabia se decidir entre o seu relacionamento comum, e viver sem julgamentos comigo, ou escolher Lissa e viver uma aventura romântica.
Tudo bem, não é bem assim como citei acima.
Stela também é um bom motivo para o nosso afastamento. Ela é um bebê. Precisa da mãe vinte e quatro horas, enquanto eu fico olhando. Ela não me deixa cuidar da minha própria filha. Por isso, agradeci aos céus essa volta para a Itália.

- Steve, e se você levasse ela para Washington?
- Anika me esganaria. Levar mais uma pessoa, Leo?
- Vai deixá-la sozinha?
- Não.

Leo estacionou rapidamente em minha garagem, e eu abri a porta indo em direção à entrada lateral da minha casa. Girei a chave, e senti o cheirinho de massa. Sabia que ela estava na cozinha.
Sua voz doce rondou meus ouvidos, e quando me viu, correu até meus braços. Seus lindos cabelos vieram se movimentando conforme a corrida rápida que ela fazia. Seus olhos, azuis e inundados, sorriam.
Sentir seu cheiro, sua pele, seu toque, sua voz novamente foi tudo que eu mais precisava no momento. Salvar essa menina nunca me pareceu tão necessário como agora.

- Como você está? -perguntei.
- Agora, bem. -me deu seu sorriso mais lindo- Pronta para morar na Itália.
- Fala baixinha! -Leo chegou, cumprimentando ela do jeito amigável e bobalhão de sempre.
- Fala tarzan! -Leo riu, saindo do abraço- Saudades!
- Saudades também. -beijou a testa dela.
- Conte-me tudo, irmãzinha! -ela sorriu.
- Steve, não sei nem por onde começar. -voltou para a cozinha, mexendo uma panela- Terminar um casamento e perder um emprego não é fácil para ninguém.
- Eu sei, Norma. -suspirei pesadamente- E como sei.
- Você não perdeu o emprego quando se separou da Carol. -ela argumentou.
- Não é da Carol que ele está falando, Nor. -Leo respondeu, pegando um copo de água- É de Anika.
- Quem é essa tal de Anika? -ela perguntou, olhando para mim.
- Uma menina que eu conheci numa sessão de autógrafos. -fingi normalidade- A gente trocou uns beijos e... -Leo balançou a cabeça negativamente- Na verdade, eu acabei de me separar dela e ainda por cima a editora não aprovou meu livro. Disse que romances não eram a minha marca. -cruzei os braços, sem conseguir esconder a tristeza.
- Ah, maninho. Com certeza a sua editora vai te perdoar. -sorriu delicada- E publicar seu primeiro romance. E agora me conte. Como Anika é?
- Ela é normal. -e como doeu falar aquilo. Ela tinha uma beleza única, e passava longe de ser "normal". Tudo nela parecia mais intenso.
- Normal como? Ela é como todo mundo? Você não se interessa por pessoas normais, Steve.
- Bem, ela tem cabelos cacheados e dourados. O rosto é fino, os lábios macios e vermelhos naturalmente. O nariz é empinado, e seus olhos cor-de-mel deixam tudo mais harmonizado. -fechei os olhos, a imaginando sorrindo- Fora seu corpo! Como ela é bonita, Norma! Ela é a mulher mais incrível que eu já conheci na minha vida.
- Uau. -ela riu- De normal não tem nada.
- Realmente. -Leo se meteu na conversa- São tão apaixonados que tiveram uma linda bebê.

Norma abriu a boca, pasma com a notícia de que eu me tornei pai. Aos vinte e oito anos! Onde eu estava com a cabeça quando deixei a bendita camisinha na carteira?
Sei que Stela era a minha filha. Mas não sentia nada. Não era aquela coisa linda.

- E você deixou a minha sobrinha em Washington para vir aqui? - Assenti- Você é um maluco pirado!
- Por que? Você é a minha irmã.
- E ela é sua filha, provavelmente um bebê! A Anika precisa de um pai para a filha.

Leo sentou ao lado dela e começou a explicar o rolo em que eu havia me metido. Não contar para Anika da volta de Norma, e tudo a mais que eu vinha escondendo por todo esse tempo. Minha irmã me deu uns bons tapas enquanto preparava sua macarronada, uma das minhas comidas preferidas.

- Só que a gente só briga! -abri os braços, frustado- Norma, quando coloquei os olhos nela, caralho, eu vi a mulher da minha vida. -Leo cruzou os braços- Mas, agora, ela parece ser uma Carol turbinada com interesse no mesmo sexo.
- Steve, irmãozinho -ela sorriu, mesmo que fosse um sorriso triste- Provavelmente Anika esteja cansada. - Norma deu de ombros - Você disse que ela estava trabalhando em uma editora, cuidando das compras da casa e sendo mãe! Isso deve ser exaustivo! Como ela vai dar atenção ao relacionamento sendo que outras coisas a atrapalham?
- Isso é verdade. -Leo concordou com a minha irmã- Steve só mima Stela, e tenta resolver os problemas do livro novo. E no final do dia ainda tem energia suficiente para ir para cama. Anika não.
- Viu? -Norma me encarou com seus olhos de mar- Sua namorada precisa de você como namorado, sim. Mas também como pai e um pouquinho de marido, visto que vocês dois moram no mesmo apartamento.
- Não só a gente. Lissa e Anelisie também.
- Não importa, Steve. Nenhuma delas, independente de ser ou não ex dela, é o pai de sua bebê. Portanto, isso depende exclusivamente de você. -Norma piscou.

Passamos o dia rindo das histórias da minha irmã. Eu não tinha muita coisa pra contar, além das gracinhas que Stela fazia quando eu estava por perto. Minha vida nunca teve tanta graça assim. Por isso, estragar a felicidade de Norma contando que ela era minha meia-irmã, era desnecessário.
Mostrei à ela fotos e vídeos da minha filha, e me peguei imaginando como ela estaria agora. Exclusivamente para isso, peguei o celular e liguei para Anika. Demorou para que ela atendesse. Quer dizer, Anelisie, atender o telefone da irmã.

Steve: Oi, Ane.
Anelisie: Achei que tivesse acontecido alguma coisa, você não ligava! Leo nos mandou uma mensagem que haviam pousado há horas atrás.
Steve: Fiquei resolvendo alguns assuntos aqui. Mas, cadê a Anika?
Anelisie: Ela... hmm... está ocupada.
Steve: Ocupada ou não quer falar comigo?
Anelisie: Um pouco dos dois. -houve um breve silêncio- Ai!
Steve: Anika, parece que sua infantilidade não termina nunca! -falei, ciente de que o telefone estava no viva-voz- Seja adulta uma vez, que seja!
Anelisie: Não foi ela, Steve. -ela riu- Foi a Lissa.
Lissa: Oi Steve! -um resmungo de Stela também foi dito.
Steve: Desculpe-me. -respirei fundo, entrando na varanda do meu quarto- Queria conversar com ela.
Anelisie: Desse jeito, Steve? -sua voz foi de profunda tristeza.
Steve: Como está Stela? -mudei de assunto rapidamente.
Lissa: Bem. Brincando, como sempre.
Steve: Fale que mandei um beijo.

Nos despedimos cordialmente e desliguei a ligação, sentando na rede e olhando o mar durante um tempo. Onde estava Anika?
Primeiramente, achei que estivesse com Lissa, ou cuidando de Stela. Mas quando Lissa entrou na ligação, mudei completamente de ideia. Anika podia estar trabalhando agora, mas estava tarde demais em Washington para a editora estar aberta. E ela também não deixaria o celular com Ane e Lissa. Provavelmente ela não queria falar comigo, afinal, foi a última opção que me restou.
Suspirei, olhando as ondas. Pensar não me fazia bem, portanto, coloquei uma sunga e avisei que estava indo para o mar. Norma e Leo me fizeram espera-los e de repente todos estávamos curtindo as ondas indo e vindo. Pensei em Anika. Ela adoraria ver o mar? Nos beijaríamos ao pôr do Sol? Ela sabe nadar?
Por mais que Anika não mostrasse interesse algum em vir para a Itália, e já tenha dito que não quer vir de maneira alguma, quando escondeu a gravidez de mim, será que um dia ela viria conhecer a minha casa?

- Uma viagem perfeita de férias. -disse Norma.
- Não é para morar, é para visitar. -Leo completou.
- Do que vocês estão falando? -questionei.
- Você está perdido, Steve. -Norma ficou em pé na água, já que estava boiando sob a luz do sol- Olhando para o nada, nostálgico demais. Talvez você não esteja aqui, e sim em Washington.
- Não viaja. -reclamei, jogando água no rosto.

Ela deu de ombros e se juntou com o Leo, que pulava as ondas e não estrava no meio delas como eu estava fazendo.
Não tardou a anoitecer, e então voltamos para casa, onde Leo e Norma caíram na piscina, enquanto eu tomava um banho bem quentinho e tentava apagar Anika da minha cabeça.

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