Reencontro à altura

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Por Steve

Ver que Anika tinha lançado um livro fez meu sangue borbulhar de orgulho. Mas a raiva me dominou quando ela foi considerada a maior. Anika não era a maior.
Com a editora me deixando de lado por conta do romance bobo, saber que eu tinha perdido o cargo de favorito me fez sentir raiva dela. Ela me usou. Pegou minhas ideias e as transformou em suas.
Quando cheguei no apartamento em Washington, senti raiva por ela não estar vestida como a menina Anika. E sim como a escritora ladra de ideias. Então soltei tudo. E não medi consequências.
Pedi para Leo arrumar algumas coisas de Stela enquanto eu brigava com Anika. Iria tirar minha filha daquela manipuladora.
E quando Anika chorou, explicando a mais pura verdade, hesitei em perdoa-lá. Porém podia ser mais um teatrinho. Então, explodimos. Gritamos. Ela chorava tanto, e não percebia. Era nítido.
Meu coração se partiu sim, quando ela caiu da escada. E quando falei que seu pai já sabia dela. Anika não merecia nada daquilo.
Ao atender seu telefonema, ouvir sua voz completamente embargada aumentou ainda mais a minha culpa. E sim. Eu tinha destruído o amor que existia entre a gente. Só que não sabia que tinha magoado tanto minha menina. Voltar atrás seria impossível.

- Você não tem um pingo de compaixão. —Norma falou, chorando- Ela nem me viu, Steve.
- Nem precisava. -dei de ombros.
- Porra! -ela gritou, assustando Stela- Você é um babaca de merda!

Conviver com Norma estava ficando cada vez mais difícil. Eu e ela revezávamos com Stela, mas ela não tinha jeito nenhum. Brigamos bastante. Leo ria, falando que era falta de sexo. Por isso, paguei duas e elas me deram prazer. Mas foram embora e eu ainda era um ser insuportável.
Anika continuou brilhando. Era nítido que algo havia acontecido, pois ela não sorria em nenhuma das fotos. Nem na TV. Vez ou outra eu assistia uma palestra sua, e sua voz era calma, serena como sempre, e séria como nunca foi. Ela trabalhou bastante, e se consolidou na indústria gráfica, sendo considerada como mulher do ano em algumas premiações.
Anika ganhou respeito. Eu, o perdi. Porém, contra todas as pessoas da editora, lancei meu primeiro romance. Muitos desesperados para ler. E eu viajei o mundo como Anika estava fazendo com o seu segundo livro de sucesso absoluto.
E ela não viu o primeiro passo de Stela. Suas primeiras palavras, as gracinhas, nem o seu primeiro aninho. Não que ela não tivesse ligado para perguntar. Sim. Ela o fez várias, incansáveis, incontáveis vezes. Nunca mais atendi. Leo, contrariado que fosse, não atendia também. A excluí da vida de Stela, a transformando na carta inútil do baralho. Norma me condenava por isso. Mas foi um preço que precisei pagar por julgar Anika.
Com o lançamento do meu livro correndo o mundo, haviam milhares de sessões de autógrafos espalhadas por aí. E claro, um dos principais eventos de arte e leitura era em Paris. Fui convidado, óbvio.

Stela ria enquanto se divertia no Carrossel. Norma a acompanhava, e embora ela fale mil vezes que não, Stela a chama de mãe. Não evito, Anika demoraria para reconquistar a filha, e isso seria um troféu pra mim. Ela também me machucou muito.
Leo me ajudou a escolher o terno da noite, e me senti elegante ao posar com o terno escuro e poderoso por aí.
Entrei no camarim da palestra, onde eu esperaria minha vez de falar sobre sucesso. Só que, algo prendeu a minha atenção.
Uma mulher de coque, usava um vestido totalmente bordado em pedraria - o que fazia com que ela tivesse que usar uma calcinha da cor da pele pra que não fosse tão exposta- que cintilava em minha direção. Ela estava de costas,  e não poupava esforços em mostrar sua pele nua. Em sua nuca havia uma tatuagem pequena, mas não tive tempo de observar pois ela saiu do camarim. Seu salto era alto demais.
Leo congelou, mas fingiu que nada estava acontecendo quando me guiou até o meu lugar. Tirei um pouco do brilho do rosto com maquiagem e me dirigi até os contratantes. A mulher estava lá, conversando com um deles. Me enturmei rapidamente.
Só então percebi que a mulher, era Anika. Seus traços, mesmo na penumbra, eram inconfundíveis. Não tardei a conversa. O diretor me chamou, avisando que eu iria dividir o palco com a Lombard. Gemi. Não seria fácil, mas precisávamos ser maduros.
Não demorou muito para a premiação começar. Ela ficou na entrada oposta a minha, e ficamos frente à frente. Entramos juntos e ficamos no centro do palco, encarando o público gritando o nosso nome. Anika iniciou a apresentação.

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