Plano Astral.

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Destres ficou sentada sobre o rochedo de Neya olhando para o horizonte. Passou dias ensaiando magias e conjurações. Portais e meditação. Estava preparada para combater Camillus. Seu ódio contra o próprio pai, se tornou combustível para suas ideias, enquanto Jorge forjava a foice. Uma arma tão poderosa quanto a própria Destres. A deusa da morte não pensava só em vingança, pensava na sua irmã e na sua mãe. Diana tem culpa de tudo isso? Não para Destres, mas infelizmente seria o fim o para os dois. E sua mãe, Dália? Estaria vendo sua crueldade contra o próprio pai? Destres não se importava com os seus pensamentos, sentia apenas a dor e o rancor. Nada faria Destres mudar de ideia.

Enquanto isso, Camillus estava construindo o tribunal de Octagon, junto com o povo de Salatirael.

- Se chamará, Aiagorlot! - disse Camillus estufando o peito.

- Um nome meio fajuto - disse Jasio.

- Um nome real, Jasio, você que nunca teve bom gosto - Camillus se virou e no mesmo instante sentiu o vento bater forte no seu rosto. Percebeu que algo estava errado - Jasio...

- Diga - respondeu ele após alguns minutos.

- Tome a frente da obra, precio voltar para Eriemisor - sua cara de espanto não negava seu nervosismo repentino.

- Algo de errado senhor? Diana, talvez? - se mostrou preocupado.

- Apenas faça o que mandei - Camillus se foi. Estava preocupado. Diana estaria em perigo?

Chegou no reino, e correu até Dália, o jardim secreto de Octagon. As folhas pairavam sobre o ar com muita leveza e uma brisa forçada pelo vento. O rei de Octagon estava sozinho perante as folhas quando começou a refletir.

- A sim, agora eu entendi - disse para si olhando as pétalas flutuando.

Froid.

Jorge foi até o rochedo conversar com Destres.

- Olá - disse ele com receio de estar atrapalhando.

- Alguém está tentando se comunicar comigo - Destres se virou para ele enquanto falava - Eu sinto isso toda noite.

- Mas quem seria?

- Não sei.

- Você é a morte, nunca pensou em se comunicar com os mortos? Talvez seja isso.

- Sim, claro! Eu poderia falar com minha mãe - ela hesitou - Será? Não sei como fazer isso.

- Seu pai com certeza sabe - disse Jorge se sentando em uma pedra menor.

- Ele tem muitos livros, eu sei disso, algum deles poderia explicar como - ela olhou para ele com cara de choro.

- Não me olha assim - ele desviou o olhar para a água que batia em seu pé.

- Eu preciso expandir meus poderes - suplicou.

- Tarefa difícil - ele coçou o queixo - Seu pai nunca me daria.

- Tente...

- Bom, irei lá pela manhã. Não garanto nada - sorriu.

O sol se pos. Destres ainda no rochedo se perguntava como falaria com os mortos, seria um poder exclusivo dela? E sua mãe? Não sabia, não tinha ideia, mas estava esperançosa.

Jorge montou no seu cavalo. Falaria com Camillus pela primeira vez após o acontecido na ferraria, estava com medo. Cavalgou rapidamente, sentindo o vento rasgar seu rosto.

Chegando em Eriemisor, Jorge gritou.

- Ei Camillus! - o rei de Octagon saiu do castelo, ainda pensativo.

- Olha só quem resolveu aparecer - disse Camillus sarcástico.

- Fiz o que me disse, ela está morta - Camillus recebeu a informação com o máximo de desprezo. Andou até Jorge e colocou sua mão direita em cima do seu ombro.

- Admiro sua coragem, Jorge - Camillus desviou o olhar - Sei que fez um bom trabalho.

- Han...tá, obrigado - gaguejou o ferreiro.

- Vá embora - ordenou Camillus.

- Antes de morrer - Jorge continuou a falar - Ela disse que havia sonhado com a mãe, e que falou com ela - Camillus tirou a mão de seu ombro e virou as costas para ele - Seria possível? - o Deus do tempo ficou em silêncio, olhando para o céu azul.

- O Plano Astral - disse por fim.

- Plano Astral? - questionou.

- Sim, isso mesmo, ela é a morte tem a habilidade de falar com os mortos - começou a andar em direção ao castelo - Vá embora Jorge, já deu sua hora.

- Preciso ir ao banheiro - mentiu - Posso usar o do castelo?

- Venha, seja rápido.

Logo atrás de Camillus, o ferreiro andava devagar, olhando para todos os lados. Logo após entrarem, Camillus se sentou na sua poltrona enquanto Jorge caminhava até o banheiro. Ele observou Camillus descansando seu pescoço sobre o assento e correu silenciosamente para a biblioteca que ficava no andar de cima assim como o banheiro, tomando cuidado extremo com as escadas.

- Droga - disse para si quando abriu a enorme porta e percebeu que havia muitos livros empoeirados. Onde estaria o certo?

- Jorge? - ouviu de longe alguém lhe chamar - Jorge? Ainda está no banheiro? Responda - Jorge não respondeu. Começou sua busca insana atrás de um livro que nem sabia se existia - Jorge? - chamou Camillus. Jorge novamente ficou calado. Correu entre as prateleiras olhando nome por nome. Jorge ouviu Camillus se levantando. Correu mais rápido.

- ACHEI - quase gritou mas tapou a própria boca a tempo - Plano Astral - leu. Ouviu os passos de Camillus nas escadas. Teria de se apressar.

- Morreu? - perguntou Camillus terminando os degraus. Quando Camillus se virou para entrar no corredor lá estava Jorge, abrindo a porta do banheiro.

- Me desculpe senhor, acho que foi alguma coisa que comi ontem a noite - fingiu ancia de vomito.

- Espero que melhore, agora saia - grosseiramente mandou Jorge embora.

- Obriga...- fingiu de novo - Bom, melhor eu ir - correu escada abaixo, passando pela cozinha quando viu Diana, acenou com a mão, reduzindo a velocidade - Ufa - respirou fundo após montar em seu cavalo retirando o livro de sua cintura. - Essa foi por pouco.

No dia seguinte, Destres começou a ler. Ficou impressionada com a proporção de páginas que havia no livro, muitos detalhes para sua cabeça.

- Então - Jorge se aproximou - o que diz ai?

- Nada demais, apenas frases e alguns gestos - respondeu Destres.

- Então faça.

- Vou tentar - Destres fechou os olhos e elevou a mão até as pernas dobradas. Ad extremum spiritum, começou a repetir em voz baixa. Jorge ficou observando a cena, e sem dizer uma palavra viu as nuvens se movendo rapidamente, mais do que o normal.

Para Destres, o mundo real havia desaparecido quando parou de repetir as palavras. Ela abriu os olhos e ainda estava sobre o rochedo.

- Droga! Não funcionou Jorge - disse Destres extremamente irritada. Jorge estava olhando para o céu e desviou o olhar para a água - Estou falando com você!! - quase gritou. Ela se levantou e desceu. Seus olhos se arregalaram quando percebeu que ainda estava sentada na pedra, na mesma posição. Andou em volta de si mesma. Olhos fechados, boca fechada e mãos abertas sobre as pernas cruzadas. Andou até Jorge que continuava observando a água.

- Eu me senti assim também - disse uma voz anônima.

- Quem está aí? - Destres pegou rapidamente a espada do ferreiro. Um pó cristalino começou a surgir sobre as pedras, e uma mulher se formou diante dela.

- Oi filha!

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