Estava chovendo, uma chuva densa que não deu trégua ao reino. O Rei acompanhava o parto de sua esposa, junto com o restante do reino, ansiosos para saber se seria menino ou menina. Elisabeth estava apertando a mão da Rainha, que gritava de dor.
- Senhor, não podemos continuar, ela está a beira da morte! - disse Lennor, o médico responsável pelo parto. A chuva e o vendaval tremulavam as janelas e as portas, a Rainha ainda gritava com todas as suas forças, tentando de alguma forma, tirar toda sua dor de dentro de si.
- Não podemos parar, está quase! - disse Elisabeth.
- Só mais um pouco meu amor - o Rei se aproximou da Rainha e lhe apertou a outra mão. Cada vez mais forte a chuva batia no vidro do castelo, como pedras caindo do céu, como lágrimas endurecidas. Por um momento, o Rei se viu sem a Rainha, sem sua tão amada esposa, sem o reino que criaram.
Rapidamente ele tirou a ideia absurda da mente.
Algumas pessoas que estavam do lado de fora do castelo, conseguiam ouvir os gritos da Rainha, muitas vezes chamando por sua mãe falecida ou por seu irmão, que estava guerreando em nações inimigas fora de Octagon.
- Senhor, olhe, ela está ficando melhor - disse Lennor.
- Ei querida amiga, estamos aqui, não há nada de errado, você ficará bem - Elisabeth acalmou a Rainha e o reino conseguiu respirar por alguns segundos.
O vendaval permaneceu.
- Oi mãe, quanto tempo...
- Amor, ela não é sua mãe - o Rei se afastou. A Rainha começou a delirar, estava vendo coisas.
- Sou eu, Elisabeth, sua amiga - a Rainha começou a se debater, os gritos cada vez mais altos, a sala se rompeu em berros.
- Vamos médico, faça alguma coisa! – gritou o Rei.
- Eu disse para não continuarmos com essa loucura, ela está correndo risco de vida – Lennor estava assustado, em nenhum dos reinos que já passara ocorrera isso com ele. O que poderia fazer?
A Rainha por sua vez parou de gritar, abaixou a voz, e a sala foi tomada por emoção ao ouvirem o choro de uma criança.
A criança. Por quem todos esperavam.
Todos se olharam, um para o outro sem reação, o médico envolveu o bebê em seus braços e levou até o Rei. O Rei estava paralisado diante do acontecido, mas quando ele viu sua filha, sim, filha, ele desabou em alegria. Os dois encantados com a beleza da criança.
- Olhe meu amor, olhe! Uma menina, igual desejou todo esse tempo – a rainha estava quieta, trancada dentro de si, sem piscar os olhos. – Meu amor? – o Rei chamou por ela. Elisabeth desmoronou sobre o traje da Rainha e sua pele suada.
- Minha amiga acorde! Acorde! – Elisabeth chorava, não parava de pensar no pior, assim como o rei, ela segurava sua mão.
- Ela está morta – disse o médico com lágrima nos olhos. Morta.
A Rainha estava pálida, endurecida, olhando apenas para a lua que se posicionava perfeitamente em seu rosto pelo buraco da janela. A chuva e a ventania estavam indo embora.
- Culpa sua, meu Rei! – o médico não tinha medo do Rei como o resto de seu povo. Não temia o poder.
- Como ousa me atacar de tal forma - o Rei se aproximou dele indignado.
- Você não parou quando solicitei, você quis continuar, você... – o médico estava perto demais do Rei, o choro da criança penetrou nos ouvidos de Lennor, fazendo imaginar que agora seguiria sua vida sem a Rainha, a quem serviu durante toda sua vida.
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Octagon.
FantasyOctagon é um livro sobre vingança, ódio, poder e magia. Destres é uma criança que nasce com um fardo maior do que ela, igual Hadassah. Ambas terão que lidar com o destino, que por coincidência, irão se cruzar. Um passado que se encontra com o presen...