VISÃO DE VICENTE
Meu coração estava acelerado e aquele cara na minha frente me desestabilizou total. Peguei minha mochila com tudo meu e entreguei para o cara que eu havia acabado de ajudar. Ele jogou a minha mochila nas costas e saiu andando pelo corredor do ônibus pegando os objetos de valor dos demais passageiros.
Eu só queria voltar para o Carmo e beijar aqueles lábios macios que só ele tem. Queria colocar em seu pescoço o cordão que eu havia comprado para ele com a minha inicial e ver os seus olhos iluminarem toda a minha vida com aquela luz. Mas o ladrão não estava colaborando e muito menos o motorista. Ele começou a acelerar o ônibus e andar em ziguezague para desestabilizar o ladrão. O cara que estava nos assaltando veio até mim, segurou em meu braço com força e me levou até o motorista, colocando a arma em minha cabeça.
— Mais uma gracinha sua, o enfermeiro aqui morre. — disse o ladrão, que estava vestido com minhas roupas brancas.
O meu coração estava a mil e minhas lágrimas rolavam como enxurrada. O motorista, ao olhar para mim desesperado, perdeu o controle do ônibus e bateu na mureta do viaduto, que se rompeu, jogando o ônibus para uma queda de 15 metros.
Ai eu não vi foi mais nada. Um escuro tomou conta de tudo e assim eu permaneci no que parecia uma eternidade. Eu sai daquela escuridão e eu estava em um lugar todo branco, barulhos de aparelhos e um cheiro de hospital que eu conseguiria distinguir sem menor dificuldade.
Eu fui abrindo os olhos lentamente com dificuldade e logo vi uma pessoa sentada ao lado de minha cama. Minha mãe estava ali sentada em uma poltrona, segurando um terço e rezando de olhos fechados.
— Mãe. — a chamei com um pouco de dificuldade.
— Vicente? — disse ela, abrindo os seus olhos e chorando logo em seguida. — Você acordou, meu amor. Graças a Deus, você acordou.
— Acordei? — perguntei e ela afirmou com a cabeça. — O que aconteceu?
— Você sofreu um acidente quando voltava do serviço e ficou em coma por um bom tempo. — disse ela.
— Quanto tempo?
— Três meses.
— Três meses, mãe? — perguntei, sentindo meus olhos se encherem de água e os aparelhos fazendo barulhos, indicando que eu estava tendo uma alteração na pressão arterial.
Foi questão de segundos e médico e enfermeiros entraram em meu quarto. Pelos uniformes eu pude perceber que não estava em Henlouis, mas sim em Boltas no Hospital de Trauma. Depois que passei por uma série de exames, voltei para o quarto e minha mãe continuava ali. Então, logo após quando os enfermeiros saíram eu resolvi fazer perguntas a ela.
— Cadê o Carmo? — perguntei e ela se ajeitou onde estava.
— O Carmo não te ama, Vicente. Nunca te amou. — disse ela. — Quando ele ficou sabendo de seu acidente e de que você estava em coma, com risco de morte ou de acordar com alguma sequela, ele mostrou que não era aquele menino que eu criei como se fosse meu filho.
— O que o Carmo fez, mãe? — perguntei, derramando minhas lágrimas e sentindo o meu coração doer.
— Ele simplesmente ignorou. Não veio te visitar, não procurou a gente e assumiu o amante que ele tinha durante o tempo que vocês estavam juntos. — disse ela.
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Luz Dos Olhos Teus [Romance Gay]
RomanceVicente e Carmo são dois jovens apaixonados de 19 anos que acabaram se casar. Com o apoio da família, os dois desde cedo viveram esse amor de forma intensa. Vivendo em um país com uma cultura totalmente diferente de todas as outras do mundo em relaç...