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— Carmo. — escutei Cadu me chamando. Eu estava saindo da sala de Bruna, depois de todas as apresentações. Eu me virei e olhei para Cadu que se aproximava de mim. — Parabéns pela apresentação. Fez todo mundo se emocionar.

— Obrigado. — disse, passando a mão em minha cabeça nua. — Você também foi incrível. Parabéns. Me fez chorar.

— Obrigado. — disse ele. — Depois do intervalo tem aula de que mesmo? 

—Instrumentação III. — respondi e ele confirmou com a cabeça.

— O que vai fazer amanhã depois da aula?

— Nada. Vou ficar em casa. Fazer uma faxina, que está precisando. Quem sabe comprar mais roupas brancas. — disse, segurando na barra da minha camisa. — Por que?

— Então. Entro de férias hoje.  A gente podia fazer alguma coisa. — disse e eu senti o meu coração acelerar.

— Cadu... —  comecei a falar, mas ele me interrompeu.

— Amigos, Carmo. Eu já entendi que você não está com cabeça para outra relação. Mas eu curto você. Você é um cara incrível. Eu quero pelo menos ter a sua amizade. — disse ele e eu abaixei a cabeça. Cadu colocou os dedos em meu queixo e o levantou, me fazendo olhar em seus olhos. — Prometo que não vou mais investir em algo que você não esteja preparado.

— Tudo bem. — disse, com a voz trêmula e ele sorriu, depositando um beijo em minha bochecha. O que fez o meu rosto corar na hora.

Eu e Cadu seguimos andando até a cantina da faculdade e ali nos sentamos. Estávamos conversando sobre coisas aleatórias e rindo bastante. Conversamos sobre o peso do trabalho final, pois ele nos garantiria um pequeno contrato com a Warner Music, mas esse pequeno contrato já era uma porta de entrada na gravadora.

— É a mesma gravadora da Iza. —  disse ele.

— De quem? — perguntei. Eu não conhecia todos os artistas brasileiros. Os que mais ouvia era Sandy,  AnaVitoria, Elis Regina, Caetano, Gil e mais alguns monstros da MPB.

— Iza, Carmo. A rainha do Brasil. - disse ele. Cadu começou a fazer um som com a boca, como se fosse de um grupo a capela e do nada Elis e mais outra garota se sentaram em nossa mesa e se juntaram a ele.

Me perdi pelo caminho
Mas não paro não.
Já chorei mares e rios,
Mas não afogo não.

Sempre dou o meu jeitinho
É bruto, mas é com carinho
Porque Deus me fez assim
Dona de mim
Deixo a minha fé guiar
Pois um dia chego lá
Porque Deus me fez assim
Dona de mim.

Cadu cantou enquanto Elis e a outra garota davam a batida. Todos da cantina aplaudiram os três e eu estava junto com os aplausos.

— Lembre-me de colocar Iza em minha playlist. — disse e ele confirmou com a cabeça e sorrindo.

A minha faculdade era como nos filmes de High School Musical. Em cada canto tinha um grupinho, mas sempre tinha um cantando, tocando ou dançando. Não era para chamar a atenção, mas sim para se expressar. E claro que os diretores não brigavam por isso, já que muitos dos profissionais ali estavam em meio a protestos no final dos anos 60 pedindo a liberdade de expressão, na igualdade de gênero e coisas mais. Eles sabiam o que era ser jovem e gostavam de ver os seus alunos se expressando nos corredores da faculdade, mas nada que envolvesse bagunça. Eu não sou o tipo de pessoa como o restante que sobe em mesas e começa a cantar, pois a minha timidez sempre foi maior que tudo. Cadu não. Ele em pouco tempo de estadia ali já estava todo saidinho.

Luz Dos Olhos Teus [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora