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Eu e Cadu não estávamos tendo nada que pudesse ser considerado um namoro. Estávamos tendo uma relação boa, mas para mim não passava de uma amizade colorida por enquanto. Às vezes eu ficava me questionando se eu não devia ter deixado o caminho livre para Marina, pois ela queria algo sério com ele e eu não estava preparado para isso.

Nós dois estávamos no auditório da faculdade tocando algumas músicas no piano e violão. Cadu estava todo sorridente tocando. Depois do resultado do trabalho, nós dois passamos muito tempo juntos, ensaiando, tocando músicas que gostamos e tentando compor algo a mais, pois gravariamos um EP pela Warner Music. Sempre que parava de cantar, Cadu vinha até mim e me roubava um beijo. Isso me deixava com as bochechas em chamas.

— Você deveria prestar mais atenção nas músicas e focar nas composições. — disse, depois de ter me roubado mais um beijo.

— Eu prefiro focar em você. Focar na boca do meu namorado. — disse ele e eu fiquei sem reação nenhuma. Ele percebeu meu estado e levantou uma sobrancelha. — O que foi, Carmo?

— Nós não somos namorados.  — disse, fazendo alguns sons no piano.

— Somos o que então? —  perguntou ele, mostrando que estava se irritando. Eu não iria recuar só por ele está começando a se irritar.

— Amigos. — disse, olhando em seus olhos e vendo-os mudar de cor. — Somos amigos que estão ficando.

— Qual é, Carmo. — disse ele bravo. — Estamos juntos a quase um mês. Se isso para você não é um namoro, eu vou começar a questionar o meu conceito de amizade. 

— Cadu, não estou...

— Chega com esse papinho de que você não está preparado. — interrompeu. — Eu não aguento mais escutar isso. Já fazem 3 meses que eu estou aqui do seu lado. EU. Lutando por uma atenção que você dedica a um morto.

— Desculpa se fazem 3 meses que está morto o homem que estava do meu lado à quase 10 anos. Não venha me cobrar algo que eu deixei claro desde o início que eu não estava preparado para te dar. — disse, deixando minhas lágrimas começarem a cair. Eu não estava acreditando que aquilo estava acontecendo.

Eu queria mesmo poder controlar a força e a velocidade dos meus pensamentos, mas é impossível ter domínio sobre eles. Eu queria mesmo simplesmente esquecer, mas como posso fazer se dentro de mim ainda tem tanto de nós? Vicente vai estar presente em cada meu respirar.  Não adianta eu querer simplesmente esquece-lo, pois não vai adiantar. Mas Cadu não entendia isso.

— Carmo, eu vou correr atrás de você, vou insistir, mas até um certo ponto. Quando chegar ao estágio da humilhação, eu dou meia volta e adeus. - disse ele, chorando.

Cadu pegou o seu violão e saiu pisando dali. Eu cruzei os meus braços sobre o piano e apoiei minha cabeça ali. Eu fiquei um bom tempo chorando até não ter mais fôlego. Cadu não conseguia sentir o que eu sentia por pura falta de empatia. Ele precisava somente imaginar que tinha perdido alguém que estava junto a ele quase dez anos. Alguém que ele via todos os dias no Colégio. Alguém que foi o primeiro e único amor de sua vida.

Depois que Vicente morreu eu fiquei sem chão e qualquer um poderia tentar e tentar, mas esse chão nunca mais voltaria para debaixo de meus pés. Pensei muitas vezes em acabar com a minha vida, mas o medo do desconhecido era maior. Eu não sabia se o reencontraria em outro lugar, ou se apenas ficaria tudo escuro e não teria mais nada. Eu preferia viver com a dor da perda de Vicente, mas com ele em meus pensamentos e coração, do que ir para um completo escuro e não ter ele em meu existir.

Os cortes em minhas pernas eram as únicas coisas que me faziam aliviar a dor que eu estava sentindo com a falta do meu amor. Esses cortes se tornaram frequentes e era uma luta para eu esconder de Cadu. Ficar com ele apenas com as luzes apagadas era a melhor solução, pois ele não conseguiu ver em momento nenhum esses cortes que começaram a algumas semanas.

Luz Dos Olhos Teus [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora