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—Ainda bem que você veio. — disse, abraçando Cadu quando abri a porta. Ele segurava em suas mãos sacolas com as encomendas que eu havia feito.

Precisava muito de um amigo, conversar, desabafar. Me sentia em uma panela de pressão e a cada momento a pressão aumentava e eu pressentia que ia estourar a qualquer momento, causando o maior estrago. Não queria atrapalhar Marina no serviço, então chamei por Cadu que estava mais próximo.

Ele tinha voltado alguns momentos antes do terminar o seu horário de almoço para ficar um pouco comigo. Ele estava com o seu macacão azul e um sorriso sem graça nos lábios. O convidei para entrar e ele aceitou, andando em passos calmos. Ele estava tímido e sem jeito ao entrar em minha casa. Peguei as sacolas de sua mão e as levei para a cozinha.

—Uau! — disse ele, passando a mão sobre o meu piano. Eu soltei um sorriso involuntário ao ver ele encantado com o meu piano. — É tão... lindo.

—Tinha 15 anos quando ganhei. — disse. — Foi a única coisa que trouxe da casa da minha mãe quando me mudei para cá.

Ele deu uma volta pelo piano e veio em direção a cozinha, onde eu abria a lata de leite condensado e com uma água fervendo para fazer café. Os dias ja estavam começando a ficar frios com a chegada do outono em Lungria. E um café quente era o que eu precisava para aquecer meu coraçãozinho naquele momento.

—Você não está bem. — disse ele.

—Não mesmo. Te chamei por causa disso. Estou me sentindo sufocado, Cadu. Está difícil. — disse, despejando o leite condensado na panela e uma lágrima em meu rosto.

—O que aconteceu?

—Resolvi abrir a mochila que Vicente carregava no dia de sua morte. Lá encontrei um presente que ele me daria naquela noite. — disse, ainda de costas para Cadu e fazendo o brigadeiro. — Também encontrei o presente que ele daria a mãe, já que era aniversário dela. A mãe do Vicente me culpa pela morte dele, alegando que, para manter meu padrão de vida, Vicente tinha que trabalhar demais. Ela estava me fazendo acreditar. Hoje eu enfrentei ela. Levei aquele presente para ela, mas antes de entregar, eu falei que amava muito o filho dela, e ela acabou falando mais coisas, insinuando que eu era culpado e meu sogro entrou em meio a nossa discussão e não foi muito agradável.

—Você precisa se afastar dessa família, Carmo. — disse ele. Eu continuava fazendo o brigadeiro e ele entrou em meu campo de visão, encostando na pia ao lado do fogão.

—Eu não posso.

—Pelo menos dessa mulher. Ela não deixa você ficar bem, Carmo. Eu sei que você quer sair dessa fossa, mas ela quer te puxar para baixo a qualquer custo. — disse ele.

—Ela me dá medo. — assumi. — Ela não parece a mulher que me viu crescer.

—Ela também está sofrendo. Tenta pensar nisso. Pode ser apenas desespero. Se afasta um pouco e deixa o tempo agir. — ele disse, passando a mão pela minha cabeça e minha orelha, me causando um arrepio e um nervosismo. O brigadeiro tinha ficado pronto e a água começava a ferver. Enfiei a panela na geladeira e fui passar o café.

—Desde que Vicente morreu eu não toco aquele piano. — disse, depois de passar o café.

—Deveria. Ele é maravilhoso. — disse ele e eu concordei com a cabeça. Cadu começou a me puxar para perto do piano. — Vem vamos cantar.

—Não, Cadu. — disse, fazendo manha. Estava segurando a minha xícara de café e ele segurava uma também. Me posicionei no banquinho, coloquei minha xícara ao meu lado e olhei para Cadu. — Tá olhando por quê? Você vai tocar. Pega o violão lá no meu quarto.

Luz Dos Olhos Teus [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora