O limite do infinito - Parte IV

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Valentina

Nos meus braços eu tinha tudo o que queria do mundo, seu cheiro e sua presença, nada mais se exigia.

- Juliana - Eu disse correndo meu nariz por sua covinha e ela apenas murmurou ainda de olhos fechados, quem sabe na mesma intenção - Se pudesse parar o tempo, qualquer hora e momento no mundo, qual pararia? - Perguntei unindo nossas mãos juntas e ela abriu seus olhos com muita segurança e certeza.

- Esse minuto - Falou beijando minhas costas com um sorrisinho triste que não chegava diretamente aos seus olhos e me fazia ter medo de perguntar.

Eu nunca temi perguntar nada a Juliana antes.

Ela sempre foi a única pessoa em que eu pensei poder perguntar e responder tudo, mas aquele brilho resignado com tanto significado me impediu.

- No que está pensando? - Perguntou quando eu comecei a deslizar em nosso abraço até que eu estivesse deitada com a cabeça sobre seu colo.

- Que você vai me deixar ir - Eu disse em alto e bom som enquanto ela acariciava meus cabelos.

- Eu jamais deixarei, mesmo quando parecer que eu te deixei ir você vai estar em mim. Não percebe? - Perguntou apontando todas aquelas fotos, nossos momentos, nossas vidas entrelaçadas desde que ela estava na barriga da sua mãe.

- Eu percebo - Disse fechando os olhos e saboreando as lembranças com  gosto salgado de lágrimas e som de risada, me preenchendo e me tomando.

- Nós não podemos parar o tempo Val. Mas podemos fazer o possível para não esquece-los. E eu prometo que eu não vou - Falou acariciando meu rosto enquanto eu me aninhava em seu corpo.

- Eu também. Prometo que carregarei nosso pequeno infinito em cada lembrança. E que a cada momento que eu lembrar vou me sentir parar um pouco o tempo - Disse entre alguns soluços prestes a aceitar o inevitável.

A despedida nos consumiria acontecesse ou não.

Se eu ficasse isso nos destruiria.

Mas se eu fosse o que aconteceria conosco?

- Não precisa ter medo. Eu vou estar com você até quando não estiver e farei por você o que não puder, como agora. Eu vou te ajudar a voar para longe de mim - Como um pássaro que tomava seu rumo no horizonte, com liberdade, mas eu não queria me libertar assim.

Liberdade sem ela era prisão.

- Como eu posso voar para longe de nós? - Perguntei com tantas dívidas correndo por olhos fechados.

- Porque vai saber que quando voltar vai me ter no mesmo lugar. Como se o tempo realmente tivesse parado naquele minuto. E mais... Será sua chance de me escrever cartas como fazíamos quando crianças - Nós rimos.

- E vai ser sua chance de cantar outra vez ao telefone como quando éramos crianças - Os telefones sem fio.

- Não preciso deles para cantar para a melhor amiga do mundo inteiro - Disse fazendo meu peito se apertar por um milésimo de segundo, apenas o tempo de entender que o quanto me desse por quanto pudesse me teria sua, infelizmente o amor não vinha com um contrato de reciprocidade, por isso complicado, por isso letal, e por seu poder irresistível, ainda mais quando Juliana começava a cantar a letra de Somewhere over the rainbow bem pertinho de mim, espantando minhas lágrimas e me trazendo calma enquanto meu corpo cedia devagar a sua voz melódica.

- Em algum lugar além do arco-íris pássaros azuis voam e os sonhos que você sonhou... Sonhos realmente se tornam realidade - Cantou em seu inglês desajeitado embalando um sono que não previ chegar, mas que me tomou calmamente como seu carinho até o sono me levar...

***

Acordei aguardando o sol da minha janela tomar meu rosto, mas logo que não o senti me lembrei que havia dormido no quarto de Juliana como nos velhos tempos.

- Bom dia - Ela disse me olhando com o rosto amassado e eu segurei o impulso da noite passada de pegar seu rosto e atrair até o meu - Se bem que quase boa tarde... - Falou conferindo a hora em seu celular tentando me levantar enquanto eu fazia bico relutando.

- Não quero sair daqui - Falei insistindo em por peso para que não conseguisse me levantar.

- Lá fora eu tenho planejado algo muito melhor. Eu prometo - Garantiu tentando me persuadir a colaborar.

Mas não foram suas palavras. Foram seus olhinhos brilhantes ao falar do que tinha para mim nesse segundo dia.

- É de comer? - Perguntei ao me aproximar e sentir cheiro de algodão doce a uma considerável distância da mimha casa.

- Dá para comer, dá para pular, dá para subir muito rápido - Eu ri alto.

- Ao menos que seja uma surpresa saída direro de Wordeland eu não tenho idéia de onde estamos - Eu falei com ela finalmente me fazendo parar para tirar minha venda.

- Parque de diversões - Era uma de nossas memórias favoritas. De quando vínhamos com Lupita nem que fosse apenas para comer algodão doce.

Apenas o cheiro me emocionou.

- Você é tão malditamente fofa - Elogiei tomando suas bochechas nos meus dedos com divertimento e beijando sua testa em seguida - Sabe quanto tempo faz que eu não venho a um parque? - Perguntei e ela balançou a cabeça.

- Não tenho idéia. Tudo o que sei é que temos que começar a aproveitar para recuperar o tempo perdido e o que temos pela frente - Propôs me tomando pela mão na direção de uma bilheteria na qual comprou pelo menos vinte ingressos.

- São muitos. Acha que poderemos gasta-los até o fim do dia? - Perguntei e ela riu para mim.

- Agora somos adultas. Voltar para casa cedo é uma escolha como carrinho de bate-bate ao menos duas vezes - Ela sabia que odiava esse brinquedo porque não suportava o fato de que eu dirigia muito mal e não saia do lugar terminando por ser atingida por todos ao meu redor.

- Você escolheu duas vezes? Certeza? - Perguntei dando-lhe a chance de não receber de volta minha provocação.

Ela assentiu com um repuxar de lábios totalmente travesso.

Como eu quis beija-la agora.

Como eu quis beija-la sempre e para sempre.

- Então eu escolho roda gigante duas vezes - Passava de ódio, Juliana subiu nesse carrossel somente na ocasião da foto e nunca novamente, era algo próximo do pavor.

- Feito - Concordou apenas para não recuar diante do meu comentário.

- Juliana se você... - Voltei atrás, entretanto, ela somente nos moveu pelo parque até a pista de carrinhos.

- Estar com você é recriar tudo o que tivemos de uma maneira mais bonita. E se você me desafia a encarar minhas pequenas batalhas eu te desafio a transformar as armas que me ferem em flores - Eu assenti encantada enquanto buscava um carrinho para mim, Juliana não fez menção de se mover.

- Não vai buscar um para você? - Ela fez que não e olhou de mim ao meu carrinho vermelho.

- Não tem chance que caibamos nós duas aí - Mas tinha. Estávamos apertadas e sequer poderia esticar minha perna, mas tinha as mãos de Juls sobre as minhas no volante e ter apenas um pouco dela valia a pena qualquer coisa.

- Preparada? - E eu sei que ela disse que eu transformaria as armas em flores, mas ela o fazia, não hoje ou apenas ontem, Juliana era o que iluminava um ambiente, era o sol que não precisava entrar em minha janela  por toda manhã porque eu sabia que enquanto houvesse ela haveria luz...

Hoje eu não posto mais e amanhã eu não sei então aproveitem meus bbs...

Destino ou casualidade?Onde histórias criam vida. Descubra agora