Com amor, Bárbara - Parte V

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Bárbara

Passamos um bom tempo de mãos dadas, meus dedos nos seus sem que tentassemos explicar o tipo de sentimento que se passava ali, mesmo eu não poderia fazê-lo porque era demasiado estranho quando também bonito.

- Quer ver as constelações mais de perto? - Perguntou levantando o tronco dos cobertores e imaginei que desfazeria nosso toque o que me incentivou a apertar seus dedos tão macios sobre os meus.

- É claro - Assenti e Macarena me ajudou a chegar até o telescópio se colocando perto de mim para que pudessemos as duas alternar as observações.

- Consegue ver? É Andrômeda - Indicou com animação e depois abandonou a lente me ajudando a que me inclinasse confortavelmente, nesse instinto, suas mãos descansaram em minha cintura e eu prendi a respiração incapaz de perceber qualquer coisa além dos pontinhos brilhantes.

- Sim - Eu disse não focando exatamente nos traços que deveriam formar uma ave, segundo eu conhecia, pois seus dedos descansavam com muita naturalidade sobre minha cintura e eu sentia aquela parte da minha pele esquentar.

- Você conhece a história dessa constelação Bárbara? - Perguntou e eu disse um não desta vez, me revelando oficialmente incapaz de articular uma palavra mais longa do que os monossílabos - Há muito tempo, camimhando por uma praia a rainha Cassiopeia, muito vaidosa que era, resolveu gabar-se de sua beleza em frente as filhas de Nereu, um deus muito ligado a Poseidon que, enfurecido ao saber da afronta, resolveu enviar um monstro terrível para destruir o reino daquela mulher. Seu marido, em desespero, foi atrás do oráculo pedir-lhe um conselho, escutando dele que a única maneira para salvar-se do infortúnio era dando sua filha, Andrômeda, em sacrifício. Cefeu, o rei, acabou acatando as palavras e amarrou-a a mercê da fera que dizimaria sua vida, não fosse por Perseu, um guerreiro valente que enfrentou a fera, vencendo a batalha e tomando a mão da bela mulher em casamento - Me contou com sua voz melodiosa entrando por meus ouvidos enquanto estava próxima, me arrepiando a cada simples palavra - É uma ótima história sobre como uma pessoa, inesperadamente, pode aparecer e salvar a outra, não? - E não só porque ela havia me contado, mas inevitavelmente, quando eu olhasse qualquer constelação me lembraria da ternura de cada palavra da guerreira que me salvou quando eu não esperava, e quando mais precisei...

***
Macarena ainda ficou muito tempo fitando as estrelas, mesmo depois que eu decidi me sentar, e ficou me contando os mitos absurdos que compunham a origem daqueles desenhos no céu, o que me confirmava que todo mundo, em todas as épocas, tinha uma história maluca para contar.

E como ser normal num mundo em que ninguém nunca foi?

Não era só chato. Era impossível.

- Fala a verdade... Estou te chateando com as minhas histórias? - Perguntou voltando até mim e se sentando.

- Claro que não... - Vê-la falar tanto desde que cheguei era muito gratificante, era sinal de que se sentia a vontade comigo.

- Não tem problema. Santiago e minha mãe não tinham paciência para elas, logo, seria perfeitamente normal se você também, diferente de mim e do meu pai, não tiver - Esclaresceu juntando as pernas perto do peito começando sua fala com euforia e terminando nostálgica.

Distante.

- Eu estou adorando suas histórias. Elas, como todas, fazem parte da tradição das festas em torno da fogueira - Assim eu vi nos filmes, nunca fiz semelhante coisa, por isso fiquei tão emocionada ao ver aquilo tudo pronto para mim.

- Ainda bem. Porque me encanta poder conta-las, me trás ótimas lembranças - Seus pensamentos voam longe demais, de mim, por vários segundos.

- Maca? - Eu a chamei de volta sentindo-me especialmente curiosa sobre seus pensamentos, apesar de ter suposições sobre o tema deles.

Destino ou casualidade?Onde histórias criam vida. Descubra agora