Quando sinto os primeiros raios de sol atingir meu rosto, desperto e percebo que Becca não está mais ao meu lado. Me espreguiço e então me levanto.
Quando entro no quarto e olho para o criado-mudo, percebo que a caixinha está aberta e possui uma grande quantidade de caixas de remédios. Pelo visto, Rebecca é muito precavida.
Tenho que aprender a ser assim também.
Desço as escadas e sinto um cheiro delicioso de chocolate entrar por minhas narinas, então sigo na direção em que me parece ser a cozinha.
— Bom dia — Rebecca diz enquanto sorri.
— Bom dia. Que cheiro delicioso! — digo já puxando uma cadeira e me sentando.
— Hoje você vai provar meu bolo especial de cenoura com cobertura de chocolate — diz orgulhosa.
— E por que ele é tão especial?
— Na verdade, é o único bolo que sei fazer. — Ela começa a rir, me contagiando com uma sensação maravilhosa.
Talvez passarmos a noite juntos não passe despercebido para ela.
— Então ficarei honrado em provar de sua obra-prima.
— Pois sinta-se — responde enquanto se senta à mesa. — Somente meu pai, o Maurício e a Celly provaram.
— Você e Maurício parecem se dar muito bem — digo enquanto corto um pedaço do bolo.
— Sim. Muito. — Ela responde me olhando desconfiada. — Me deixe adivinhar, você está querendo saber se não há chances de um possível romance entre nós dois. É isso? — ela gargalha — Bem, ele é realmente um excelente partido. Ótimo mesmo. Bonitão. Médico. Gentil. A família dele me adora. Tudo para dar certo.
— E por que não tentaram? — digo sentindo o ciúmes já me consumir, por ela estar o pintando tanto.
— Talvez seja porque eu o considero um irmão. Ou, por gostarmos das mesmas coisas. — Ela faz uma pausa dramática. — Até de homem.
Fico boquiaberto.
— Você está querendo me dizer que ele é gay?
— Gaysíssimo. — Ela sorri.
— Uau! Por essa eu não esperava. Tipo, ele não parece...
— O quê? Afeminado? — ela diz debochada — Nem todas as gays são assim. Isso é estereótipo. — Ela me analisa por uns instantes. — Não me diga que você é homofóbico? — ela diz enquanto segura uma faca, o que me leva a crer que soou como ameaça.
— Não diria homofóbico. Eu tenho até amigos que são gays, mas...
— Para Caio. Nem fala mais nada. Esse papo de "eu até tenho um amigo gay" tá mais para justificativa de homofóbicos.
— Eu só quero dizer que não me importo, mas não concordo. Homens deveriam namorar e casar com mulheres, assim como mulheres deveriam ficar com homens.
— Balela. Eu acredito mais na conectividade. Química entre dois corpos. Assim como eu não sou obrigada a gostar de rosa porque sou uma garota e você não tem que gostar de azul por ser garoto. Somos seres pensantes. Podemos fazer nossas próprias escolhas. Dizer que alguém deve ficar com outro é o mesmo que tirar o livre arbítrio dela. Se você ama alguém não é só pelo gênero dela. É pelo conjunto da obra. Senão o amor se torna coisificado. Padronizado. E, ao meu ver, não existe padrão para o amor. Se você estipula motivos para estar gostando de alguém, não é amor. É no máximo paixão.
— Faz sentido o que você diz. Então você está deixando subtendido que eu não te amo, apenas estou apaixonado por você? — Arqueio minhas sobrancelhas e pouso a xícara de café sobre o pires.
— Exatamente. Você já pontuou os motivos por estar afim de mim? — é a vez dela pousar a xícara.
— Na verdade sim. Mas acho que é mais para uma aceitação. Eu nunca senti isso antes. Não tenho com o que comparar. Eu só sei que não tiro seus olhos da mente. Sempre que vejo os raios solares me lembro de seus cabelos. E você é incrivelmente bonita.
Percebo que ela ruboriza.
— Olha Caio, preciso de um tempo para pensar — ela suspira. — Eu também não posso negar que estou sentindo algo diferente por você. Tá na cara. Até meu pai percebeu que ando suspirando pelos cantos. Mas eu tô no meio de uma grande confusão mental. Tenho medo de que me deixe quando descobrir que não sou apenas essa mulher forte, que quase se mata apenas para pegar um objeto no rio. Eu também posso ter uma parte feia, uma que não tenho coragem de mostrar para você. Ainda não estou preparada para isso. Nem sei quando estarei — diz num fio de voz.
— Ei — levo minha mão até o queixo dela e levanto-o — não se preocupe. Se for tempo que você quer, eu posso te dar. Somos jovens, temos a vida toda pela frente. Eu vou esperar sua decisão. Pode ser difícil me manter longe de você, mas farei o impossível para conseguir. Você terá espaço suficiente para se decidir.
— Obrigada, Caio — ela morde o lábio inferior. — Pode parecer egoísmo, mas se estou fazendo isso, é por você. Não quero que se magoe. — Ela leva a mão até a minha e segura firme. Antes de respirar fundo e se levantar. — Aliás, essa semana a ONG estará fechada. Você terá folga.
Sinto uma fisgada no peito.
Será que estou começando a gostar daquele lugar?
— Tudo bem. Bem, agora eu vou indo. Na correria de ontem me esqueci de pegar meu celular. O Caiã deve estar preocupado. — Me levanto e vou até ela, que está lavando a xícara, e a abraço por trás. Sinto o corpo dela se enrijecer. — Se cuida. — Deposito um beijo em seus cabelos. — Ela então se vira e me abraça apertado, me fazendo sorrir. — Não demore muito para se decidir, vai que me apaixono por outra nesse meio tempo. — Ela me olha assustada e então me dá um soco de leve no peito. — Já vou indo. — Dou um beijo na testa dela.
Antes que ela possa responder eu saio sem olhar para trás. Caso contrário, corro o risco de correr até ela novamente e roubar um beijo.
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Foi Tudo Por Você - Completa
Romance⚠ Plágio é crime! ⚠ Caio é um estudante de engenharia civil que tem tudo o que quer de bandeja. Até que o destino decide interferir... Numa manhã fatídica um evento incomum é o estopim para que toda a sua vida fique de cabeça para baixo e um tsunam...