Sinto um aperto em meu peito. Uma sensação de estrangulamento. E o pior, estou sendo estrangulado por eu mesmo.
Se eu não tivesse lido aquele maldito diário...
Se bem que há coisas que não sou capaz de controlar. E não poder fazer algo a respeito disso está me esmagando!
Se eu não conversar com alguém vou enlouquecer.
Acho que já dei quatro voltas por Muqui. Aparentemente, Maurício tem o dom de se teletransportar para o fim do mundo. Não é possível que eu não vá encontrá-los.
Preciso encarar Rebecca. Necessito que ela me olhe nos olhos e diga que tudo não passa de ficção. Aquele caderno estúpido não é um diário. É apenas uma história imbecil. Um drama de mau gosto. A porra de um roteiro de uma péssima novela mexicana.
Ela precisa dizer que tudo não passa de uma brincadeira ridícula. Uma pegadinha.
Acelero quando pego a BR que liga Muqui à Cachoeiro.
Nem sequer sei para onde estou indo.
Mas o que é que o inútil do Caio sabe???
Decido ligar para meu irmão. Nós já passamos por muitos perrengues juntos. Sei que ele vai encontrar uma forma de me acalmar. Ele vai saber o que fazer.
Ele sempre sabe tudo!
Com uma mão no volante e outra no celular, disco os números dele. Em uma curva quase lanço o carro no barranco. Por sorte consigo controlar a direção e voltar em segurança para a estrada.
Assim que começa a chamar, coloco no viva-voz e encaixo o celular em um suporte que está no painel.
Quando a ligação cai na caixa postal, dou um berro enfurecido.
— Até você vai me ignorar agora?! Que porra! Só falta você também já saber disso e ter me escondido a verdade! — estou gritando à todo pulmão — Se é que isso é verdade... — concluo com a voz mais baixa.
Clico novamente na tela do celular e tento ligar outra vez.
Quando percebo que ele atendeu, já disparo:
— Caiã, algo aconteceu com a Rebecca.
“Como assim, Caio. Explica isso direito.”
— Eu não quero perdê-la! — bato a palma da minha mão no volante.
“Você está dirigindo? Caio, me escuta... Encosta o carro primeiro e...”
— Eu não vou encostar porra nenhuma! Eu preciso achar a Rebecca! — esbravejo.
“Calma Caio! Você não é uma criança. Se está com problemas, sabe muito bem que não é se matando que eles vão se resolver.”
— Caralho, eu não quero morrer! — digo com a voz embargada — E nem quero que a Rebecca morra. Eu não quero...
Com a visão ficando turva com as lágrimas estúpidas, resolvo estacionar no lado da pista. Tenho que ouvir Caiã primeiro.
— Caiã, eu preciso de ajuda — suplico enquanto seco meu rosto. — Rebecca passou mal e Maurício sumiu com ela. Eu encontrei um diário e aquilo não pode ser verdade...
“Caio, você leu o diário de alguém? Meu irmão isso é errado!”
— Não me venha com essa ladainha jurídica agora. Era a droga do diário da Rebecca.
Maldito diário.
Por que eu tive que encontrar a porra daquele diário?
(Três horas antes)
Assim que deixei Celly no colégio, voltei para a ONG com a intenção de encontrar algo que possa me dar uma pista sobre o local que Maurício possa ter levado Rebecca.
O infeliz não atende o celular. Já liguei dezenas de vezes.
Acho que nunca liguei tanto para outro homem. Mas dada as circunstâncias, não pensei a respeito.
Revirei a mesa de Rebecca em busca de qualquer anotação favorável. Qualquer coisa que possa me ajudar...
Um caderno cai ao chão.
Me lembro de ter pego isso em outro momento, mas guardei antes de poder ler.
Assim que abro, vejo que Rebecca realmente é uma mulher surpreendente. É um diário.
Alguma outra mulher com sua idade estaria escrevendo um diário?
Inacreditável.
Seria invasão de privacidade ler o que está escrito aqui?
Pondero por um bom tempo... Contudo, pode ter alguma informação sobre Maurício. Um endereço em que ele costuma atender pacientes.
Tirando que a curiosidade em relação ao que ela escreve ao meu respeito também é grande.
Ah, de qualquer forma estamos agora em um relacionamento. Estamos muito bem. Creio que compartilhar alguns segredos pode fortalecer a nossa relação.
Tudo bem que ainda não oficializamos o que temos. E para ser bem sincero, nem sequer nomeamos isso. Só que eu a amo e ela também me ama, logo não há porquê não entender que estamos namorando.
Afinal, quem se gosta namora não é mesmo?
Afasto esses pensamentos e concluo que a melhor opção é ler o que ela escreveu aqui.
Tudo para encontrá-la, obviamente...
Folheio as primeiras páginas rapidamente, tentando encontrar palavras ou nomes que me chamassem a atenção, e me surpreendo ao encontrar meu nome na terceira página.
— Já que meu nome está aqui, é melhor eu ler desde o início...
Volto as páginas e começo a ler cada parágrafo.
No decorrer da leitura meu coração acelera.
Então foi por isso que ela disse que me amou primeiro? Como isso é possível?
Entusiasmado pela descoberta, continuo lendo.
Esse foi meu erro.
Após virar a última página escrita, minha vontade é esquecer o que li. Rebubinar e me impedir de ler essa droga de diário.
Sinto que meu peito vai explodir, que o chão vai se abrir e eu vou desaparecer.
Talvez isso fosse melhor mesmo.
— Isso não pode ser verdade! — esbravejo socando algumas caixas empilhadas. — Ok, podem parar com essa palhaçada. Eu sei que estou em uma pegadinha — digo sarcástico. — Vamos! Já é hora de aparecerem e rirem de mim.
O silêncio perdura.
— Claro... O maldoso Caio não merece nada de bom, não é mesmo? A Rebecca estava certa. Sou um cara terrível mesmo. Mas não precisa de tanto para me ensinar a porra de uma lição — rio sarcasticamente.
Não faz sentindo. Tenho certeza de que isso não é real.
Se for um sonho, acho que já passou da hora de acordar.
Dou um soco na parede. A dor alucinante percorre os músculos do meu braço.
Merda! Não estou sonhando.
Espero não ter quebrado meus dedos. Só essa que me falta.
Encontro um pano limpo entre as caixas e enrolo em meu punho direito. Em seguida pego as chaves que joguei sobre a mesa e corro na direção do carro de Rebecca.
— Caio, você encontrou a... — começa um garota que trabalha na ONG. Acho que se chama Raíssa.
— Ainda não! — falo ríspido e continuo andando.
Preciso encontrar Rebecca.
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Foi Tudo Por Você - Completa
Romantik⚠ Plágio é crime! ⚠ Caio é um estudante de engenharia civil que tem tudo o que quer de bandeja. Até que o destino decide interferir... Numa manhã fatídica um evento incomum é o estopim para que toda a sua vida fique de cabeça para baixo e um tsunam...