04 De Julho De 2017

11 0 0
                                    

Ontem eu rodei Muqui inteiro e até Cachoeiro, mas não encontrei a Rebecca. Nem o Maurício.

Como assim a Rebecca está morrendo? Isso só pode ser uma piada!

Tão sem vergonha que nem disse olhando em meus olhos que me ama. Preferiu escrever na porra de um diário!

— Caio, se acalme. Chutar os móveis não vai te fazer encontrar a Becca mais rápido. — Caiã diz sem se aproximar muito. Creio que ele tenha medo de eu acabar chutando ele.

— Você entende o que está passando em meu coração agora? — esbravejo.

— Não! Eu não entendo. Mas saiba que estou tão chocado quanto você. Eu também gosto dela. E muito. Se não fosse você o meu oponente, com toda certeza eu teria ido até ela. Eu recuei porque nunca vi você sendo tão sério com alguém, em toda a nossa vida — Caiã grita em resposta.

Ouví-lo gritar me acorda para a realidade.

Ele nunca se altera. Está sempre sendo calmo e racional. Vê-lo agitado dessa forma prova que ele também se importa com a Rebecca.

Aos poucos vou me abaixando, deslizando pela parede. Até ficar sentado no chão.

— O que faremos? — suspiro. — Eu não estou preparado para perdê-la. Ela entrou em minha vida como um furacão. Balançou todas as estruturas e mudou até a minha base. Eu a amo. Amo mais do que já imaginei amar uma mulher.

Lágrimas embaçam minha visão.

— Eu sempre tive essa impressão de que a conhecia. Uma familiaridade com resquícios de memória. Mas nunca imaginei que ela fosse aquela linda garotinha de anos atrás. Naquela época eu pensei: “Nossa, como essa menina é legal. Eu realmente quero ser amigo dela”. Eu fui várias vezes na casa da Dona Marta procurar por ela, mas depois de um tempo a casa estava sempre fechada, e nossa mãe me disse que a senhora que morava em frente havia se mudado para o Rio de Janeiro. Eu fiquei realmente muito triste. Queria muito ver aquela garotinha das lindas sardas novamente. Nunca imaginei que esse desejo fosse se realizar tantos anos depois. — Caiã senta-se ao meu lado.

— Naquela época ela olhou dentro dos meus olhos enquanto limpava meus machucados. Os olhos verdes dela estavam repletos de admiração. Foi a primeira e última vez que alguém me olhou daquela forma. Por um tempo eu tentei fazer as coisas certas, para que alguém me olhasse da mesma forma, mas isso nunca aconteceu. Até que eu desisti de tentar e aqueles olhos preciosos sumiram da minha memória. — respiro fundo antes de prosseguir — Sabe o que mais me doeu nessa história toda? Que eu já me esqueci dela uma vez. O que farei se eu me esquecer novamente? Eu a amo demais. Não quero esquecer seus olhos verdes ou seu cheiro de chocolate com morango — sorrio ao me recordar desse cheiro delicioso que emana do corpo pequeno e em forma de Rebecca.

— Tenho certeza que não vamos nos esquecer dela. Ela nos marcou imensamente. Tanto na infância quanto agora, na vida adulta. Rebecca não é alguém esquecível. O tempo só não foi generoso conosco. E novamente a vida quer nos afastar.

— E por que a vida tem que ser tão filha da puta? — sorrio — Não seria mais fácil ser alguma doença que um transplante funcionasse? Daí um de nós seríamos o doador e salvaríamos a vida dela. Seríamos os heróis da história — solto uma gargalhada seca.

— Acho que você está assistindo muito melodrama. Esse roteiro barato já está um pouco fora de moda — Caiã diz se levantando. — Vamos, temos que procurar mais um pouco. Tenho certeza que vamos encontrá-la.

👊👊👊

Caiã me ajudou na busca pela Rebecca. E por fim, Maurício resolveu me ligar.

— Seu filho da puta! Para onde você levou a Rebecca!

“Caio, me desculpe. A Rebecca não queria que você soubesse. Eu não queria contraria-la, eu... — ele funga, como se estivesse chorando — Caio, a situação dela não é boa.”

Você já assistiu desenho animado? Sabe aquelas cenas em que mostram o coração do personagem quebrando em um milhão de pedaços? Pois bem, foi o que me aconteceu agora.

— Me passe o endereço, Caiã e eu estamos indo agora mesmo...

👊👊👊

Assim que chegamos ao hospital fomos direto perguntar o quarto em que Rebecca está. A recepcionista começou a nos questionar quem somos e dizer que não estava no horário de visitação, mas eu taquei o foda-se e entrei assim mesmo.

Ela até ameaçou chamar a polícia, mas Caiã contornou a situação.

Quando avistei Maurício no corredor vi um homem totalmente diferente do de sempre. Ele está abatido. Como se tivesse virado a noite chorando. Ele ainda está com as roupas de ontem e com um olhar perdido. Tanto que demorou um pouco para perceber minha presença.

— Você veio...

— Cadê a Rebecca? — digo rispidamente.

— Na CTI. Ela teve uma parada respiratória. Os médicos conseguiram estabiliza-la, mas a situação ainda é crítica. Nós não podemos entrar. Temos que esperar ela ser levada para a UTI.

— Você está me dizendo que eu vim até aqui e não vou poder vê-la? — me enfureço.

— Não depende de mim, Caio.

— Eu acabei de me encontrar com o médico. — Caiã se aproxima — Ele me disse que hoje a noite a Rebecca será encaminhada para a UTI. Lá podemos visitá-la. Mas um por vez.

Mesmo contrariado, não tivemos escolha a não ser aguardar.

O tic-tac soando como bomba atômica. Cada segundo demorando uma eternidade.

O pai de Rebecca estava em um congresso em Vitória e veio às pressas quando soube. O homem já grisalho se aproximou com um semblante abatido.

— Cadê a minha filha?

— Ela está na CTI. O médico responsável disse que possivelmente ela será transferida para a UTI essa noite. Estamos aguardando.

— Por que ela tem que ser tão teimosa? Por que ela teve que ir para aquele fim de mundo com a imunidade tão baixa? Ela sabia que uma gripe nela poderia custar sua vida!

Meu coração se despedaçou pela segunda vez.

Ele está falando da montanha. Do dia em que dormi com Rebecca. No dia em que ela finalmente se entregou para mim.

Eu me sinto um imenso babaca.

Em todo o momento eu só estava pensando em mim. No meu desejo. No meu amor. Mas nem sequer percebi o que estava se passando com ela.

Caio Laubert é realmente é um idiota.

Foi Tudo Por Você - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora