Assim que pusemos grande parte do que estava no pequeno caminho no carro de Rebecca, nós voltamos para o ginásio e depois tivemos que fazer mais uma viagem para buscar o restante.
Rebecca estava tão imersa no trabalho que acabou não conversando muito.
Quando estávamos voltando, resolvi quebrar o silencioso.
— Meu irmão já te ligou?
— Hum? Quem? — ela me olha confusa.
— Caiã, meu irmão.
— Ah! O cara legal. — ela volta a encarar a estrada. — Não. Por que ele me ligaria?
— Não, nada. Pensei que ele te ligaria para perguntar como estou me saindo. — minto.
— Então quer dizer que seu irmão é sua babá? — ela gargalha. — Você não acha que está um pouquinho velho demais para isso não?
— Não enche, Rebecca. Ele não é minha babá. — Rebecca me fuzila com os olhos, com incredulidade. — Tá legal, ele já limpou muitas das minhas bagunças...
— Então ele é sua babá. — ela para de falar por um segundo, como se estivesse recordando algum fato importante. — Você tem muitas babás, não é mesmo?
— O que isso quer dizer? — a encaro.
Ela reduziu a velocidade e só agora percebi. Pelo visto ela quer ficar conversando comigo por um tempo maior.
— Uma garota me procurou na semana passada. — ela faz uma pausa. — Acho que é sua namorada.
— NAMORADA? — digo assustado. — Eu não tenho namorada.
— Uai, ela disse que se eu não fosse legal com você ela me destruiria. Minha carreira acabaria e blá-blá-blá.
— Por acaso você sabe o nome dela? — pergunto já imaginando quem possa ser.
— Acho que ela disse ser uma tal de Ana.
Sabia!
— Ela não é minha namorada. E nunca foi.
— Então porque ela fez isso? — ela me olha por um instante e depois volta a mirar a estrada, dando um sorriso debochado. — Acho que ela te considera namorado dela.
— Mas não sou. Ana é louca. Acha que só porque nós tran... — paro de falar abruptamente.
— Transando. Só porque vocês estão transando. Isso não significa que estão juntos? — ela volta a me olhar.
— Acho que é melhor você estacionar esse carro, antes que causemos um acidente.
Por mais incrível que pareça, ela fez o que sugeri.
— Sou toda ouvidos. — ela se inclina para meu lado.
— É complicado. — respiro fundo.
— Então descomplique. — ela diz casualmente.
— Há seis anos atrás eu a levei em uma festa. Final da adolescência, imaturos. Eu fiquei bêbado e aparentemente fiz besteira. A Ana sempre foi uma sombra. Os pais dela são amigos dos meus, então ela cresceu junto conosco. Mas eu nunca senti nada por ela. No máximo amizade. Nessa festa, acabamos transando. E ela engravidou. — faço uma pausa e uma careta. Lembrar-se disso me dá enjoo. — Meu pai me obrigou a casar com ela, porque não podia perder o amigo de negócios que era o pai dela. O que ninguém esperava era que a Ana estava nos enganando. Ela realmente ficou grávida, mas perdeu o bebê. Como queria se casar comigo, continuou fingindo estar grávida. Quando eu descobri, rompi com tudo.
Paro de falar e encaro Rebecca, que está vidrada em mim.
— Uau. Que história de filme americano. — ela se endireita no banco, voltando a olhar para o asfalto e põe as mãos no volante. — Mas como voltaram a dormir juntos?
— Nós não dormimos juntos. Apenas transamos.
— E ela aceita isso? — ela me olha incrédula.
— Parece que sim. Ela percebeu que era o único jeito de me ter de alguma forma. Já eu comecei com isso porque pensei que ela iria ficar com nojo de mim e me deixar em paz.
— Mas pelo visto falhou... — ela diz ligando o carro novamente.
— Talvez...
— Ela deve realmente te amar. Só acho que você deveria dar uma chance para ela. É difícil encontrar alguém que nos ame de verdade. Não pode perder essa...
— Ela é doente, Rebecca. Isso já deixou de ser amor e passou a ser obsessão. — expiro frustrado.
— Pode até ser. — ela respira fundo antes de dispara — Mas avise-a que se me ameaçar novamente, é ela quem vai sair perdendo.
Me calo. A forma como ela falou deixa evidente que não está de brincadeira.
— Rebecca, por que você fugiu de mim depois do beijo? — Após alguns minutos de silêncio eu pergunto.
— Podemos não falar sobre isso? — percebo que ela aperta o volante.
— E por que não podemos falar? — minha voz sai um pouco mais alta do que o normal, me fazendo respirar fundo. — Somos adultos. E eu sei que você sentiu o mesmo que eu...
— Outra hora, tá legal? Outra hora nós falamos sobre isso. Eu tenho muita coisa para pensar. Além do mais, você deveria terminar seja lá o que for que tem com essa tal Ana antes de se engraçar com outra mulher.
— Eu já disse que não tenho nada com a Ana! — não tem jeito, minha paciência é curta.
— Então fale isso para ela! — dessa vez é Rebecca quem aumentou o tom de voz. — Seja homem para enfrentar as coisas de frente. Jogue as cartas na mesa. Mas eu peço uma coisa... — ela aperta ainda mais o volante — não termina o que tem com ela por minha causa.
Abro minha boca para debater, mas ela rapidamente estaciona o carro e abre a porta, saindo.
— Vou pedir para alguém vir te ajudar a tirar as coisas do carro. — ela fecha a porta e sai apressada.
Que irônico, diz para eu enfrentar os problemas, mas sempre foge dos dela.
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Foi Tudo Por Você - Completa
Romance⚠ Plágio é crime! ⚠ Caio é um estudante de engenharia civil que tem tudo o que quer de bandeja. Até que o destino decide interferir... Numa manhã fatídica um evento incomum é o estopim para que toda a sua vida fique de cabeça para baixo e um tsunam...