31 De Maio de 2017 - Parte 2

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Assim como Maurício me instruiu, passei o dia fazendo as tarefas sem reclamar. Mas também não procurei por Rebecca. Se ela quiser, que venha me pedir desculpas.

Bem, isso não quer dizer que eu não olhei para admirá-la sempre que tive oportunidade.

A calça jeans colada ao corpo deixa seu bumbum ainda mais empinado. E por mais incrível que pareça, hoje ela não está com camisa extra GG, mas com uma regata branca que se ajusta a seu busto.

O cabelo cacheado está preso em um coque, que de tão volumoso mais parece uma coroa.

Essa diaba é tão bonita quanto tem o temperamento forte.

Quando terminei minha última tarefa, que foi carregar alguns móveis para dentro, pois colocaram para secar, eu sigo para o banheiro.

Observo meu reflexo no espelho arranhado.

Estou um lixo. Preciso urgentemente de um banho.

Por pior que pareça fazer serviço voluntário, já estou me acostumando. E para ser sincero, já nem acho tão ruim quanto no início.

Balanço a cabeça para tirar esses pensamentos melancólicos que não combinam nada comigo e saio do banheiro.

Enquanto caminho, passo próximo à porta do 'escritório' de Rebecca. Quando faço menção de tocar a maçaneta, percebo que ela está conversando com alguém.

— Deixa de ser teimosa, Rebecca. — Maurício parece alterado — Você não pode fazer esse tipo de coisa. É perigoso. Você sabe disso.

— Maurício eu fiz isso a minha adolescência toda. Não é agora que vou parar. — Rebecca diz calmamente. Como se o que Maurício diz não lhe afetasse em nada.

— Eu vou enlouquecer com você agindo assim. Parece criança. Sabe dos riscos. — Maurício diz ainda com rispidez.

— Você anda muito chato, Maurício. Primeiro insistindo para eu contar para o Caio. Agora isso.

Eu? Contar o quê para mim?

— Pois isso eu ainda não desisti de te convencer. — Maurício fala um pouco mais calmo. — Tá na cara que você tá afim dele. Mesmo que eu não tenha certeza sobre o caráter dele, dou apoio. Mas antes você deveria contar para ele e deixá-lo se decidir. Você não pode tomar todas as decisões sozinhas.

— Chega Maurício. — dessa vez é Rebecca que se altera. — Eu já disse que não quero que ninguém saiba. E mesmo que você esteja certo e eu sinta algo por ele, não irei contar. Já me decidi. Às vezes é melhor se afastar.

— Você não tem jeito, mulher. — Maurício diz após um suspiro alto. — Mas pelo amor de Deus, peça desculpas ao cara pelo que fez hoje de manhã. Foi desumano.

— Eu sei. — o tom dela é um pouco baixo, quase inaudível. — Me senti mal por tratá-lo assim. Mas tenho que impor limites agora. Caso contrário vai ficar difícil para ele e...

— Para você. Ainda mais difícil para você. Mas talvez isso seja bom porque foi vai decidir fazer o...

— Não vou. — o tom de voz dela é decidido. E também como o de quem quer encerrar o assunto.

— Tudo bem. Não está mais aqui quem falou. Já tô indo embora.

Saio dali e vou em direção da Susy.

Que conversa de maluco foi essa?

O que Rebecca não quer me contar?

Mas ao me lembrar de algo eu sorrio.

Ela não negou que gosta de mim. Quando Maurício tocou no assunto ela não discordou ou xingou ele.

Subo em minha moto e coloco o capacete. Dou partida e sigo para casa.

👊👊👊

Rolo na cama de um lado para o outro. Pareço um idiota rindo a toa. Mas meu sorriso é interrompido com batidas na porta do meu quarto.

— Pode entrar.

Caiã entra e para cruzando os braços quando me vê.

— O que aconteceu com você? — a expressão que ele está fazendo é de curiosidade — Qual o motivo desse sorriso de orelha a orelha?

— Nada. — fecho a cara. — Estou normal. Nada aconteceu.

— Sei. Até parece. — ele descruza os braços e vem até minha cama, se sentando em seguida. — Vim te perguntar uma coisa...

— O quê? — pergunto sem me sentar.

— Será que se eu chamar a Rebecca para sair, ela aceita?

Acho que um soco na cara doeria bem menos.

Fiquei tão animado com o beijo que compartilhei com Rebecca e pelo que ouvi hoje, que acabei me esquecendo de Caiã.

— Cara... — me levanto e vou no frigobar pegar uma cerveja. — Rebecca é de lua. Eu não sei o que se passa naquela mente endiabrada.

— Mas se você fosse mulher, sairia comigo? — Caiã diz com tom de zoação.

— Com certeza, mano. Afinal, você se parece comigo. E quem resiste ao meu charme?

Nós compartilhamos um riso.

Me sinto mal por esconder isso dele. Mas não posso contar. Não agora sabendo que ele realmente está afim dela.

Faz tanto tempo que ele esteve tão afim de alguém que não posso tirar isso dele. Mesmo que no fundo me doa.

— Então vou arriscar. Afinal, o não eu já tenho.

— Vai com tudo, mano. Te desejo boa sorte. E que você volte vivo — dou uma gargalhada.

— Acho que ela não vai me matar. Não é mesmo? — ele diz um tanto sério, o que o deixa engraçado.

— Dela eu não duvido nada.

-— Mas vou ter que tentar assim mesmo. Agora me passe o número dela.

— O quê? — engasgo com minha cerveja. — Eu?

— Sim. Você trabalha para ela, provavelmente tem o contato.

Droga. Ainda vou ter que ajudar.

Respiro fundo e então pego meu celular no bolso da calça moletom.

Rolo pelos contatos e ao chegar no número de Rebecca eu paro. Passo para Caiã, que quase saltitante se levanta e faz menção de sair. Mas para assim que toca a maçaneta.

— Você não hesitou né? — Caiã se vira para mim. — Caio, se você não quiser que eu faça isso é só falar. Mas espero que seja sincero.

Fico sem reação.

Eu nem sei ao certo o que tem acontecido comigo. Parece que estou me transformando em outra pessoa. E ainda não sei se me sinto bem com isso ou não.

Sobre Rebecca... No momento em que nos tocamos pude perceber que uma chama se acendeu. Mas não sei se é apenas luxúria ou algo diferente.

Por mais que me doa dar carta branca para meu irmão chamá-la para sair, não posso impedir.

Afinal ele é bem melhor do que eu. E Rebecca também vai saber disso.

— Vai com tudo mano. Estou torcendo por você.

— Então tá. — ele sai em seguida.

— Vou torce por você mano... — digo tentando me convencer. 

Foi Tudo Por Você - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora