2002 foi o último ano que ganhei uma festa de aniversário tradicional, com tema, que na ocasião foi Hello Kitty, bolo com muito glacê, salgadinho, pão de queijo recheado e cachorro quente, quindim e brigadeiro, pula pula, música da Xuxa e do Balão Mágico.
Quando fiz meus 13 anos em 2003 apenas ganhei um perfume de Miss Mommy, um diário da Vanderleia, um celular do Papi e uma bolsa da Vanessa. Amei os presentes, mas senti falta dos mimos e da comida das festas anteriores.
Minhas primas vieram me visitar e trouxeram suas revistas da Capricho. Fiquei fascinada com suas belas capas estampado Britney Spears, Lindsay Lohan, Hillary Duff ou Marjorie Estiano, mas quando as abria, para apreciar o conteúdo, me deparava com matérias como: "Como conquistar um garoto em dez dias", "Faça aquela calça te servir", "Diga não ao volume", "Dicas pra deixar os fios bem lisos", "Vantagens de ter um amigo gay" e "Saiba como agradar seu namorado".
Então, era com isso que garotas adolescentes deveriam se importar? Uma frustração enorme me invadiu. Por que alguém teria de alisar seus cachos? Quando Natália achar que se tornou adolescente precisará abandonar seus cachos pra não ser considerada antiquada e não adolescente? Por que ter um amigo gay tem de ter Vantagens? Por que não ser apenas amigos? Por que emagrecer tanto? Pra ser uma adolescente legal se precisa ser magra? Não sou magra. Por que mudar a personalidade e criar uma personagem boba alegre, expert em sexo ou inocente demais apenas pra agradar o namorado? Por que garotas adolescentes se importavam com coisas tão fúteis?
Minhas primas falavam sem parar sobre TPM, esmalte da vez e Justin Timberlake. Me perdia na tagarelagem delas. Assim que elas se foram peguei minha mochila e fui dar uma volta de bicicleta. Passei na casa da Flora e fomos apostar corrida na beira do Lago das Pétalas.
Dia quente de verão, mas já era tardezinha. Cigarras cantavam ao fundo nas árvores do Jardim Botânico. Sentamos na grama verdinha pra observar o por do sol.
— Você quer ser adolescente Flora? — Perguntei cabisbaixa.
— Acho que já somos Lily. — Respondeu sem se importar muito.
— Você quer emagrecer ou parecer engraçada pra um garoto?
— Eu acho que vou entrar na academia. Se o garoto for interessante devemos parecer atrativas.
— Quem te disse isso? — Indaguei assustada.
— Li na capricho.
Aquilo me assustou tanto que peguei minha bicicleta e fui embora. Por sorte nem todos os adolescentes precisam ser iguais.
Logo acabei descobrindo que a adolescência é bem menos fútil do que eu imaginava. Uma série de conflitos existenciais e internos passaram a me assombrar e por algum motivo, já não brincava mais com minhas barbies, tamagotchi ou queria jogar videogame. Aos poucos as coisas da infância se tornaram pouco atrativas e um novo mundo estava sendo criado na minha cabeça desobediente. Mas, que fique claro que eu nunca deixei de assistir desenhos. Apenas isso.
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LILY PARA GAROTAS
Teen FictionOi! Nossa, nem sei como você veio parar aqui, mas agora que já chegou senta! Sou Liliane, para alguns Lília, há os que chamam de Lílian, mas para as garotas e todos aqueles que se sentem garotas, sou Lily. Já que está aqui podemos ser amigos? Não s...