No segundo ano do ensino fundamental, fomos pra um acampamento. Nesta época Flora e eu estudávamos no Colégio Nacional de Freiras para garotas. Estávamos animadas, pois seria nosso primeiro acampamento. Pegamos o ônibus em frente à escola. Estava lotado.
— Será que vamos caber? — Flora perguntou.
Não me lembro se respondi, porque logo em seguida, nosso infortúnio, Priscilla entrou com toda pompa arrastando quatro malas e uma mochila.
— Pensei que havia dito que ia pra Paris. — Disse me levantando.
— Isso lá é da sua conta? — Me respondeu. Duas garotas deram lugar pra que a chata de galocha se sentasse com suas malas, como consequência ficaram de pé durante toda a viagem. Não vou mentir, achei bem feito!
Sempre amei olhar a paisagem lá fora, há tantas coisas belas pra serem vistas, mas Flora não calou a boca um segundo que seja durante a viagem, falava sobre Digimon e Pokémon, da sua rede ruim de internet, o novo filme da Barbie, sobre algum garoto que morreu atropelado na sua rua e mais outros assuntos mil. Queria poder desligar a Flora, mas ela não era uma televisão, afinal.
3 falantes horas de viagem e finalmente chegamos. O motorista jogou todas as bagagens pra fora e ficamos a ver aviões enquanto cada aluna tentava achar a sua naquela bagunça toda. Nossas malas estavam por debaixo das trocentas malas da desgraça. Fez de propósito e agora batia papo com suas amigas, claramente pra nos fazer passar por esta situação, no entanto, nossa salvação nos veio como um rolo de feno nas estradas desérticas de Oklahoma.
Uma pequena garota, menor que eu, usando uma bota de galocha preta; um chapéu de palha com uma fita florida, que me lembrava meu chapéu de quadrilha; de cabelo ruivo como uma cenoura, arrancava aquele elefante que chamava de mala do fundo da pilha de entulhos próxima a um ônibus velho e se não fosse sua peculiar vestimenta eu jamais a teria notado. O sol bateu forte no seu vestido amarelo floral, refletindo uma luz em seu rosto carijó repleto de sardas. Era exatamente o que Flora e eu precisávamos.
— Hey! Brutamontes! — Gritei. Ela me olhou com um olhar que me fez estremecer da cabeça até o dedão. — Você mesma! — Apontei o dedo. — Te dou dois reais e um baralho se tirar minhas malas daqui.
Com passos fundos e invocados a garota caminhou até a mim. Arregaçou a manga do seu vestido dobrando cuidadosamente o babado para não amassar, fez uma posição estranha e com um só puxão tirou nossos pertences daquele fundo de poço. Segurei meu queixo, mesmo assim ele caiu com tudo no chão. E doeu.
— Parece um touro raivoso! — Flora disse tapando a boca ao perceber sua falta de senso. A rubra nos lançou um olhar espremido, como se estivesse planejando algo. Busquei em meus bolsos o que havia prometido, mas fui interrompida.
— Que isso não precisa.
Precisei tomar alguns segundos para assimilar de onde vinha aquela voz. Continuei procurando.
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LILY PARA GAROTAS
Teen FictionOi! Nossa, nem sei como você veio parar aqui, mas agora que já chegou senta! Sou Liliane, para alguns Lília, há os que chamam de Lílian, mas para as garotas e todos aqueles que se sentem garotas, sou Lily. Já que está aqui podemos ser amigos? Não s...