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   Ele adorava sair da cama enquanto o céu ainda estava escuro, não ouvia nenhum ruído que não pertencesse à natureza, podia ir tranquilamente até a varanda de sua casa e assistir o nascer do sol. Repetir aquele ritual já fazia o dia de Brian melhor, ele ficava ali, observando o sol banhar suas flores com a revigorante luz de um novo dia, enquanto a brisa movimentava os seus cachos castanhos. Era uma vida simples, e aparentemente isolada, mas ele não estava sozinho. Morava na beira de uma estrada que ligava uma cidade do interior ao centro de Londres. Várias pessoas passavam por ali, já que seu "produto" era famoso pela qualidade. May cultivava com muito cuidado, que ficava explícito na beleza de suas flores. Ele era conhecido de pessoas que passavam todos os dias pela estrada com destino a Londres, vendedores de estrada e outras pessoas que moravam por aquela região, tão diferente do clima moderno e agitado de Londres.

   May seguia a mesma rotina, tomava seu café olhando o nascer do sol e ouvindo a rádio, depois de se arrumar, ia direto para a sua floricultura, que ficava ao lado de sua casa – um casebre de madeira, coberto com trepadeiras e com uma placa com a inscrição "Flores May". Ficava lá o dia todo, montando os ramalhetes com os clientes, deixando que eles escolhessem flor por flor, puxava assunto, oferecia um café, os tratava da melhor forma possível. Graças ao que aprendeu com sua mãe sobre como tratar seus clientes, ganhava um excelente retorno e ótimas recomendações. Era uma tarde de domingo, então Brian não esperava muito movimento, ele entrou em sua floricultura, passando pela pequena área de terra aonde estavam as flores e foi direto para trás do do balcão, sentando em sua velha e confortável cadeira, ligou o rádio e ficou ali, esperando que alguém aparecesse.

   Ele começava a pensar quando ficava sozinho, depois de ver tantos casais indo comprar flores – para presentes, casamentos, boldas e coisas do gênero – pensava vagamente em quando seria a sua vez, se algum dia ele escolheria as melhores flores de seu campo, cortaria todos os seus espinhos, escolheria a melhor fita e faria um buquê perfeito para entregar para sua amada, mas aquilo parecia uma realidade muito distante para ele, ele era o dono da floricultura, ele fazia casais felizes, seu círculo social era fechado, ele não sabia se um dia alguma moça aparecesse ali interessada nele, e era muito pouco provável, ninguém vai procurar um namorado em uma floricultura.

   Passaram-se horas, e nada, um carro ou outro passava pela estrada, e sequer olhavam para a floricultura, os domingos sempre eram os piores dias. Brian se levantou, eram duas da tarde e nenhum cliente apareceu, ele deveria fechar a floricultura e ir comer alguma coisa, antes de tirar o resto do dia de folga, porém quando ia se levantar para trancar a floricultura, ouviu o som de um carro se aproximando, o veículo parou na frente da floricultura.

   — Pelo menos um... — May comentou, antes de voltar ao seu lugar atrás do balcão, observando a porta a sua frente se abrir. — Seja bem vindo e tenha um bom dia...

   Ele parou de falar quando olhou para seu cliente. Era um rapaz aparentemente jovem, e bonito, tinha olhos azuis adoráveis, cabelos louros na altura do ombro, lábios finos e corados. Parecia estar apressado, trajava uma camisa branca e calças jeans rasgadas. Brian ficou olhando para ele, não era o primeiro jovem bonito que aparecia por ali, mas aquele cliente era especial, de alguma forma que ele não conseguia explicar. Ele também pareceu encarar o florista por alguns segundos, mas depois voltou para a realidade.

   — Ahh... É aqui que você faz tudo na hora?

   — Sim, algo me diz que você esqueceu de algo muito importante e está procurando flores em cima da hora.

   — Ora ora temos um Sherlock Holmes aqui. — ironizou. — Eu preparei tudo pra pedir Sarina em casamento, mas esqueci das flores, eu estou tão ocupado ultimamente...

   — Ah claro. — Ele saiu de trás do balcão, caminhando na direção do cliente, fitando seus belos olhos azuis. — Pode olhar as flores aí...

   — Eu preciso de girassóis, são as flores favoritas dela. — o loiro respondeu olhando para o pequeno canteiro no meio da loja.

   — Por aqui amigo.

   Os dois foram para o lado de fora, era comum para Brian levar as pessoas até seu campo para ver as outras plantas que não cabiam na loja, os olhos azuis de seu cliente ficaram maravilhados com a imensidão do campo, ele realmente era apaixonado por jardinagem. Os dois caminharam um pouco até chegarem a área dos girassóis.

   — Só vou ter três espécies, deduzindo que sua namorada tenha menos de quatro metros, os girassóis arranha céu estão fora de cogitação. — Os dois riram, enquanto o Brian mexia na sua pochete com as ferramentas para cortar as flores. — Eu tenho os girassóis sunny smile e os earthwalker.

   — Sunny smile, gostei do nome.

   — Combinam com você.

   — Eu sou dentista.

   — Eu até pensei em juntar dinheiro para entrar uma faculdade, mas minha mãe trabalhou com flores a vida inteira, foi isso que ela deixou, então comecei a trabalhar nisso, e entendi por que ela gostava tanto. Cultivar tem haver com vida, eu reconheço que sou um cara que tem talento pra ciência, mas prefiro viver assim. — Ele colocou as luvas e começou a cortar os girassóis com cuidado, com a mesma destreza de um cirurgião fazendo uma cirurgia. — Então o dentista tem um nome?

   — Roger, Roger Taylor. — Ele sorriu.

   — Nome bonito... — o florista comentou, voltando a se concentrar em seu trabalho com os girassóis. — E sua namorada?

   — A Sarina é maravilhosa, eu estava um pouco confuso, acho que é muito cedo para casar com ela. Namoramos por três meses, minha mãe que nos apresentou.

   — Três meses? Bom, a escolha é sua, ela tem sorte de que alguém a ame tanto assim.

  — Não tenho certeza... As vezes eu acho que eu poderia ser um namorado melhor, é complicado.

   — Muito bem... — O silêncio se instalou novamente entre os dois, exceto pelo canto dos pássaros e pelo barulho do vento. Taylor ficou observando a paisagem, uma vez ou outra, olhava para o florista, muito concentrado no corte das flores.

   Aquele trabalho com as mãos era realmente admirável. Assim como o jeitinho daquele homem, seu cuidado enorme com coisas tão pequenas como plantas, sua gentileza...

   Se Roger pudesse contar o real motivo de seu casamento às pressas...

  

  

  

Girassol • MaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora