14 - O sol

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Lex correu o mais rápido que pode para a casa do Abe, para onde tinha mandado minha mãe em segurança. Ele entrou na casa anunciando que Ben tinha me pego, Abe sabia exatamente para onde ele tinha me levado, a casa do Cameron, onde tudo iria acontecer.

Eles chegaram lá e observaram tudo, a parte da frente da casa estava normal, não parecia ter alguém lá, os dois deram a volta pela lateral da casa e descobriram que tudo estava acontecendo na parte de trás.

Cameron e Ben estavam em pé ao lado de uma mesa com os ingredientes, conversando sobre o que deveria ser feito enquanto eu estava deitada em uma mesa de pedra, com minhas mãos e pés presos por cordas.

-Eu vou distrair os dois e você pega a garota. - Abe falou já colocando o plano em ação.

Enquanto Abe se aproximava deles, Lex procurou um local mais próximo de mim. Eu notei o movimento por perto e olhei na direção, fiquei muito aliviada em vê-lo ali, me senti segura, mas nem tanto, ainda estava presa a mesa.

-Então, o que é isso tudo? - Ouvi a voz do Abe e me virei na direção dela. - Me sinto ofendido por não ter sido convidado.

Fiquei mais aliviada ao ver o Abe ali também.

-Minha casa está sempre aberta para você. - Cameron falou com um sorriso animado.

-O que é isso? - Perguntou se aproximando da mesa. - Está fazendo um ritual? - Ele aproximou a mão de um frasco de vidro cheio de sangue e fingiu esbarrar nele sem querer. - Oh! Me desculpe! Como eu sou desastrado.

-Não tem problema, posso pegar mais de onde veio esse. - Cameron pegou outra seringa na mesa e olhou para mim.

-Não, não pode. - Abe foi para cima do Cameron e Lex correu até a mim.

Meus braços foram os primeiros a serem soltos e eu o ajudei a soltar meus pés. As sombras começaram a crescer na nossa direção e Lex me empurrou para trás dele, me mandando ficar sempre ali, mas as sombras cresciam em todos os lados.

-Eu quero ajudar. - Falei olhando em volta começando a me desesperar.

-Faça o que nasceu para fazer. - Ele falou como se fosse simples.

Olhei em volta novamente observando as sombras e tentando pensar em algo para ajudar, tentando usar meus poderes, mas nada acontecia. Apenas sentia pânico e medo.

-Ella! - Ben apareceu na nossa frente e sorriu para mim. - Veja só o que vou fazer com seu namoradinho.

Ele atacou o Lex, que por sorte desviou das sombras. A raiva dentro de mim foi ficando cada vez mais forte dentro de mim enquanto eu observava a luta deles sem conseguir fazer algo. Ben lançou o último golpe que acertou o Lex em cheio.

Lex se virou para mim e caiu de joelhos com a mão no peito enquanto me olhava.

-Fuja! - Essas foram suas últimas palavras antes de cair imóvel no chão. Morto.

-Você fará falta. - Ben falou e eu o olhei, podia sentir o fogo começando a borbulhar nas minhas veias junto com a raiva crescendo no meu corpo. - Então, Ella, o que vai ser? Vai lutar comigo ou prefere ficar viva? Seu namorado não teve tanta sorte. - Falou apontando para o corpo sem vida no chão.

-Eu não vou morrer, Benjamin. Não antes de matar você. - Falei deixando toda a raiva transbordar por cada palavra.

Ele sorriu e me atacou com uma bola negra que eu segurei e transformei em fogo, consumindo o mesmo, fazendo-o ficar surpreso.

-Você não vai me machucar. - A queimação começou a ficar cada vez pior, como na vez em que tentei restaurar o sol acidentalmente. - Não mais.

-Eu não preciso. Já matei seu pai, matei o homem que você ama, duas vezes, e mesmo sendo a escolhida, não vai poder reverter nenhuma dessas mortes, ninguém pode. - Ele estava se divertindo com tudo isso.

-Ótimo, assim você não volta.

Concentrei todo a minha raiva nele, deixando tudo sair, expandindo o poder para além de mim. Uma luz começou a se expandir junto, me deixando mais leve, comecei a escutar uma voz me dizendo para não perder a concentração e falando que tudo ia ficar bem. Olhei para o lado e vi uma jovem mulher.

-Eu sou Lillian, não posso ficar por muito tempo, então concentre-se. - Ela sorriu para mim e segurou minha mão, mesmo em espírito eu conseguia sentir sua força. - Você precisa trazer o sol de volta.

-E o Lex? - Perguntei mesmo sabendo que ele estava morto.

-Sinto muito, ele se foi. - Ela apertou minha mão. - Eu, mais do que qualquer pessoa, queria vê-lo feliz. - Seus olhos se encheram d'água. - Agora concentre-se.

Fiz o que ela disse, fechei os meus olhos e me concentrei. A sensação de algo saindo de mim crescia cada vez mais, era uma sensação ótima e prazerosa. Quando abri meus olhos novamente tudo estava mudado. O sol brilhava atrás de mim, a escuridão tinha ido embora e eu flutuava. Olhei para baixo e não existia mais Ben e Cameron, eles tinham desaparecido. Apenas o corpo do Lex estava ali e o do Abe, que ainda estava vivo. Flutuei até ele e desci, me ajoelhando ao seu lado.

-Você conseguiu. - Ele falou com um sorriso fraco no rosto, sorriso de quem sentia dor.

-Nós conseguimos. - Sorri para ele com meus olhos cheios d'água. - Agora vai ficar tudo bem, só respire devagar.

-Ella, eu já estou morto, não tem o que fazer. - Ele falou me fazendo chorar. - Mas estou feliz que tenha conseguido e feliz de saber que está chorando por mim. - Seu rosto se transformou em uma careta de dor.

-Você não pode me deixar sozinha. - O desespero voltou e eu segurei seu rosto para que ele não parasse de me olhar.

-Você tem que ser forte e continuar. Volte ao mundo mortal, leve Lex com você, seu dever foi cumprido. - Balancei a cabeça e mais lágrimas caíram pelo meu rosto.

-Lex está morto. Todos estão mortos. - Minha garganta ficou seca ao pronunciar essas palavras. - Só restou nós dois.

-Só restou você, Ella. - Sangue começou a sair da sua boca. - A escolhida. O sol. - Ele se engasgou com o sangue e ficou imóvel.

Deitei sua cabeça gentilmente no chão e soltei todo o meu fôlego em um grito. Um grito de dor, de pânico, de medo. Me levantei desorientada, não sabia o que fazer ou para onde ir. Eu estava sozinha, com dois corpos. Não sabia nem como voltar para casa.

Me ajoelhei no gramado e chorei tudo o que tinha para chorar enquanto o sol esquentava o meu rosto.

-Você conseguiu. - Olhei para trás e vi a Cassandra se aproximando.

Me levantei e fui até ela que me abraçou.

-Ele morreu. - Sussurrei para ela. - Lex morreu.

Ela me apertou contra ela e eu chorei mais ainda. Não só pela morte do Lex, mas pela morte do Abe e do meu pai. Por todos.

-Vai ficar tudo bem. - Ela passou a mão pelo meu cabelo. - Vou te levar até a sua mãe,

Cassandra me soltou e eu olhei em volta mais uma vez. Nenhum dos dois mereciam ter morrido, não por minha causa. Sou grata por terem me salvado, sou grata por tudo. Mas nem o Lex e nem o Abe mereciam como final a morte que tiveram.

 Mas nem o Lex e nem o Abe mereciam como final a morte que tiveram

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