CAPÍTULO 24-O ACORDO

778 114 20
                                    


Por dois dias, a casa esteve envolta no mais completo silêncio. Daniel mal trocava uma palavra com João e, novamente, o policial foi se sentindo cada vez mais rejeitado e sozinho. 

Uma noite, Daniel  desceu as escadas para esperar que o policial preparasse o jantar para os dois. 

— Eu já estava levando lá em cima para você. Está com fome? — perguntou com cautela.

Daniel acabara de tomar banho, tinha os cabelos molhados e os olhos vermelhos de chorar. Nos últimos dias, às vezes João via indícios de lágrimas em seu rosto ou o ouvia chorar durante a noite, o que partia seu coração!

O dono da casa  imaginou que  Daniel  finalmente falaria algo, agora que viera encontrá-lo ali embaixo.

— Marta iria trazer mais carne, mas não pode vir. Parece que ainda está febril e que o médico ainda não a liberou. Só temos enlatados e ovos._informou humildemente.

Daniel se serviu de salada e arroz. Voltou a sentar-se e começou a comer em silêncio. Durante um tempo, o que se ouvia na cozinha era só o som dos talheres. De repente, João sentiu que não estava suportando mais aquele silêncio. Resolveu arriscar um diálogo novamente:

— Você não quer que eu esquente algum enlatado? Temos sardinhas e salsichas. Ou talvez prefira uma omelete...

— Eu faço uma omelete. — disse Daniel colocando o garfo com força na mesa e se levantando.

Ultimamente, as tentativas de João  de agradá-lo só  irritavam o rapaz  cada vez mais!

Fez a omelete em silêncio, dividiu em duas partes, pegou uma e empurrou o prato com a outra para perto de João. Novamente, o que se ouvia na cozinha era apenas o som dos talheres. 

Quando terminaram, Daniel se levantou e lavou o seu prato e a panela onde fizera a omelete. Preparou-se para voltar para o segundo andar, quando João  não aguentou mais e falou:

— Até quando vamos ficar nesta situação insuportável?

— Termine aí e venha aqui em cima, por favor. Detesto tratar de assuntos sérios enquanto como. Precisamos fazer um acordo. Vou te esperar lá em cima._falou secamente.

João  viu Daniel subir as escadas sem olhar para trás.

Quando  terminou de arrumar a cozinha e subiu, encontrou Daniel sentado muito sério esperando por ele.

O policial  também sentou-se muito sério, tentando adivinhar apreensivo o que o rapaz iria anunciar.

— Gostaria de fazer um acordo com você. — começou Daniel se ajeitando melhor no pequeno sofá que ficava no canto do quarto.

— Faço qualquer coisa que você quiser, Daniel...

— Não, por favor, não me interrompa. Deixe eu falar.

Os olhos de João mostravam claramente como estava sofrendo por aquela situação. Porém, mesmo notando isso, Daniel decidiu se manter firme.

Como podia imaginar que ele o perdoaria depois de tudo o que fizera?

— Sugiro uma trégua. — Daniel estendeu a mão, que João pegou com o semblante confuso. — Vou explicar.

Daniel puxou a mão antes que o policial  chegasse a apertá-la, realmente.

— Primeiro, prefiro não usar o seu verdadeiro nome, pois só conseguirei tolerar esta situação se tiver uma leve esperança de você ser alguma coisa daquilo que eu conheci, ou seja...mais humano e menos um bandido.

VOCÊ ME PERDOA, AMOR?-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora