CAPÍTULO 13-O SUSTO!

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João passara aquela noite em claro, temendo que Daniel, ao retirar as ataduras dos olhos, o reconhecesse.

— O que consegue enxergar? — perguntou João agitando a mão esquerda num gesto lento e amplo na frente dos olhos de Daniel.

— Apenas o vulto de algo que vai de lá pra cá. É a sua mão?

— É...é a minha mão. Você tem problema de vista desde quando, Daniel?

— Desde os oito anos. Minha mãe tentava comprar os óculos que os médicos indicavam, mas nem sempre ela podia comprar na data indicada e aí, às vezes, eu tinha que forçar a ficar mais do que o aconselhável com os óculos velhos e o grau foi aumentando._disse sofrido.

João  ficou imaginando se ele fosse o pai, por que Lúcia nunca tinha pedido ajuda a ele para criar o filho?

— Meu rosto ainda está inchado?_questionou o rapaz tentando se ver num espelho que estava sobre um móvel.

— Um pouco. Os hematomas estão sumindo. O pé melhorou?

— Só enquanto o remédio faz efeito. Marta acha que está apenas torcido, porque eu consegui mexer com todos os dedos. Quero crer que ela esteja certa. Imagine se tivesse quebrado e a gente sem poder procurar uma radiografia!

— Não há de ser uma fratura. Já chegam as costelas. Elas ainda doem?

— Dependendo do movimento que eu faço, elas doem bastante. 

O policial sentia-se cada vez mais culpado e arrependido  por tudo aquilo que o rapaz estava passando!

Daniel tentou mudar de assunto, como se quisesse animar o ambiente tão deprimente.

_Se eu te falar uma coisa, você promete guardar segredo, João?

— É claro.

— Prefiro sua comida do que a comida que a Marta faz. Você cozinha bem melhor do que ela._sorriu timidamente.

— Obrigado, apesar de nem levar isso como um elogio, Daniel: ganhar da comida dela é fácil! A comida da Marta é intragável mesmo!—riu João se sentindo satisfeito.

Não deixou de notar que gostou daquele elogio.

— Posso fazer uma coisa? — disse Daniel estendendo as mãos à frente. — Posso tentar te ver com o toque das mãos, João? Quero saber como você é.

Apreensivo, João assentiu e aproximou-se  lentamente temendo que ele intuísse alguma coisa pelo toque, já que não podia enxergar o seu rosto.

Daniel passou as mãos lentamente pelo rosto do policial.

— Vi que você gosta da cabeça bem raspada, assim como a barba.

— Acho que fica melhor.

— Tenho certeza que sim. Perguntei a Marta como você era e ela me disse que você é um homem bem bonito.

— Daniel, por favor... — disse João incomodado com o comentário.

— Calma...não sou um veado afoito...só quis saber qual é o rosto do meu salvador. 

Voltou a se recostar na cabeceira da cama,  afastando-se do policial.

Novamente o silêncio dominou o quarto.

— Ficou mudo? Não gosta de elogios?

— Não sei...não costumo ouvir muitos elogios.

VOCÊ ME PERDOA, AMOR?-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora