1 - parte 2

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DISPONÍVEL APENAS 8 CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO.

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Já se passaram dois dias desde que fui expulsa da loja onde trabalhei como uma pequena escrava nos últimos três anos. E mesmo que eu tenha abandonado a faculdade no último semestre após a morte da minha mãe e entrado ali como algo temporário, dizendo que ficaria uns dois meses apenas para conseguir um dinheiro, sair assim tirou toda a paz da minha alma. Principalmente, porque quem conseguiu esse emprego para mim foi o amor da minha vida. E como poderei encará-lo para contar que retribuí seu favor sendo despedida porque meu irmão imbecil assaltou a loja?

Ulisses está trancado em seu quarto desde ontem. Depois de levar vassouradas da nossa avó, acredito que seu pior castigo foi ouvi-la chorar durante a madrugada, questionando minha mãe morta porque nos deixou com ela. Logo cedo, com olhos inchados e um sorriso forçado vovó veio até mim e disse que era um teatro, apenas para punir o sentimental Ulisses, mas sei que não era. Às vezes somos um fardo grande demais.

As gêmeas foram para a escola chorando por me verem chorando. E o dono da casa já bateu na nossa porta três vezes hoje. Uma hora terei que atendê-lo. De toda confusão em que fomos metidos, o que mais nos assusta é o medo de Carlo entregar o vídeo à polícia.

Um Ulisses abatido e com olhos inchados atende a porta na quarta vez em que o dono da casa grita. Escuta seus desaforos com uma calma que não é característica dele. Confirma que fui demitida e mente que estou doente, mas que irei entregar o restante do aluguel no máximo até a tarde seguinte. Quando se senta diante de mim e busca meu olhar com todo seu arrependimento, levanto-me e saio dali.


Preciso respirar algumas vezes antes de ter coragem de pisar na confeitaria. Mesmo assim a coragem não vem. Uma mão quente toca meu ombro e não preciso olhá-lo para saber que é Tim, o amor da minha vida.

— Senti sua falta ontem, Ayla. A Sabrina disse que você estava doente, está melhor?

Não tenho coragem de olhar em seus olhos, embora sinta falta de ver seu rosto. Ele vai à confeitaria quase toda semana. Às vezes, quase todos os dias na mesma semana.

— Não realmente. Mas tudo vai melhorar.

— Vamos entrar?

Ele abre a porta e entro, confiando que Carlo não fará um escândalo na frente de seu principal cliente. Confiando que poderei dizer que saí dali porque consegui algo melhor. Confiando que ele vai continuar tendo de mim a imagem de uma mulher trabalhadora e certinha. Mas estava enganada.

— Como se atreve a entrar aqui depois do que aconteceu? Eu devia saber, sempre foi tão atrevida! — Carlo grita assim que pousa os olhos em mim, ignorando seu cliente mais precioso.

Seus xingamentos não param, e pelo espelho vejo o reflexo da confusão no rosto de Tim, e a vergonha no meu rosto. Assim que Carlo cala a boca por curtos três segundos, falo mais alto, afim de acalmá-lo.

— Eu queria agradecer por você não ter chamado a polícia.

Ele parece surpreso. Gagueja o que ia dizer e assente, quando volta a falar está bem mais calmo.

— Agradeça sua avó, aquela bondosa senhora não merece se envergonhar pelos erros do seu irmão delinquente.

— Ainda há bondade no fundo da sua alma, seu Carlo.

Ele me lança um olhar questionador, tentando entender se estou mesmo sendo grata ou apenas debochada. Maldito gênio que eu tenho!

— Eu queria também te pedir uma coisa. Estamos no final do mês e preciso do meu pagamento, o dono da casa está me cobrando o aluguel.

DEGUSTAÇÃO - Uma mentirinha de nadaOnde histórias criam vida. Descubra agora