Capítulo 01

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— Horóscopo do dia. Vou ler o seu, Ayla — Sabrina, minha melhor amiga, diz animada mexendo em seu celular.

— Ou vai dizer que devo ter cuidado com os negócios, ou que não devo tomar nenhuma decisão importante hoje ou, se o astrólogo for verdadeiro, que alguma coisa muito errada vai acontecer.

Ela bate três vezes na madeira com uma careta.

— Vira essa boca pra lá! Vejamos. Peixes, achei. Aqui diz: esteja atenta e tome cuidado, algo fora de seu controle poderá acabar... — Para de ler de repente e ao ver que a estou encarando, exibe um falso risinho e inventa o resto: — O amor da sua vida vai entrar por aquela porta.

Lanço-lhe meu olhar de acusação, pois sei que está mentindo.

— Por que o seu horóscopo é sempre tão ruim? — resmunga chorosa.

— Ele apenas não funciona comigo, Sabrina. O universo não sabe que eu existo.

A risada do meu irmão do lado de fora da confeitaria é meu primeiro alerta de que algo realmente ruim vai acontecer. Finjo não vê-lo na esperança de que vá embora com sua turma de amigos baderneiros antes que seu Carlo, o dono da confeitaria volte.

— Rosa, branco, amarelo, rosa — finjo estar concentrada na ordem exata em que os cupcakes devem estar, como se já não soubesse isso de cor após três anos trabalhando aqui e um chefe que odeia mudanças.

— Hum, Ayla, não quero te alarmar, nem nada, mas seu irmão está entrando aqui com dois caras muito altos e não parecem nada amigáveis.

Mal Sabrina fecha a boca, Ulisses para diante de mim com um sorriso nervoso. Ao seu lado, dois "amigos" que não conheço avaliam a confeitaria minunciosamente.

— Boa tarde, maninha.

— O que você quer, Uli?

Seu sorriso some e vejo seus olhos indo em direção à caixa registradora, onde Sabrina está praticamente montada.

— Estou precisando de uma graninha. Você poderia me emprestar uns trocados?

— Você sabe que não tenho. Preciso dar o restante do aluguel hoje. E para que você precisa de dinheiro?

— Vai ter uma festa, dona. Coisa fina, tem que pagar pra entrar — um dos amigos parrudos dele me explica.

— Sinto muito, querido, mas não trabalho a semana toda aqui para bancar suas festinhas. E você não tem idade para andar com esses caras, suponho — observo após reparar que os novos amigos do meu irmão são com certeza bem mais velhos do que ele.

— Eu já vou fazer dezoito anos, Ayla! — responde irritado.

— Estou contando os segundos, Ulisses. Sabia que se você fizer uma merda agora, quem vai se responsabilizar por isso será a vovó? E o que seria das nossas irmãs se a vovó desistisse de nós, não é mesmo? — minto com um sorriso no rosto e toda dureza nas palavras, que ele parece captar.

— Eu não vou fazer nada de errado, vocês nunca confiam em mim! — Ele chuta uma cadeira e sai da loja, seguido de seus amigos estranhos e enfim respiro aliviada.

Mas claro que não vai muito longe, eles se sentam em uma mesa do lado de fora e vez ou outra flagro seus olhares para o caixa. Sabrina também nota, pois meio sem graça, aproxima-se de mim e pergunta:

— Seu irmão não seria capaz de roubar a loja, não é?

— Deus abençoe que não, Sabrina. Sinto que ele ainda é minha responsabilidade. Só faltam três dias para o seu aniversário, espero que se ele for fazer alguma besteira, a faça depois disso. Então ele será preso e eu nunca mais irei vê-lo.

Sabrina bate três vezes na madeira.

— Vira essa boca, Ayla! Até parece que você pensa assim.

Bato três vezes na madeira imitando o gesto de Sabrina e deixo um aviso mental à vida que isso não foi um pedido.

— Ele não vai fazer nada, Sabrina. Está meio perdido desde que a mamãe se foi, mas não é uma pessoa ruim. Sei que cometeu pequenos delitos, mas não faria isso comigo. Ele aprendeu sua lição.

Sabrina concorda e volto aos cupcakes, e assim que Carlo chega, faz os garotos saírem dali na marra.


A noite chega e como de costume, vou para a cozinha adiantar o serviço do dia seguinte, quando Carlo aparece irritado.

— Seu irmão está causando problemas com os novos amigos dele. Dê um jeito nisso, Ayla! O que eles danificarem será descontado do seu salário.

— Você já me paga uma miséria, Carlo. Quer descontar mais o quê?

— Então vá e tire-os daqui ao invés de usar essa sua língua afiada!

Irritada, saio com o coque horroroso, massa de bolo pelo cabelo e farinha no rosto e avental e quase desmaio ao ver a situação na loja. Os amigos do meu irmão saem um por um sem causar maiores estragos, meu irmão está atrás deles, os ombros caídos e duas mãos sobre eles, guiando-o como se ele fosse seu próprio irmão. E o responsável por isso é ele, o amor da minha vida. Meu belo salvador.

Fico tempo demais viajando em sua figura alta, vendo-o girar o corpo em minha direção e aproximar-se com um lindo sorriso. Reparo em como seu cabelo negro arrepiado parece molhado, sua barba está por fazer, bem baixinha, moldando seu rosto másculo, e seus ombros largos cobertos por uma jaqueta azul escura.

Ao invés de cumprimentar-me como sempre, tomba a cabeça enquanto me analisa, e seu lindo sorriso torna-se divertido.

— Você está diferente esta noite, Ayla — comenta divertido e sinto meu rosto esquentar.

— Eu? Diferente?

Com o ar quase falhando, faço o gesto de ajeitar meu longo cabelo, mas não há cabelo. Toco o coque mal feito e cheio de massa de bolo e então me dou conta do motivo de seu divertimento. Rapidamente, cubro o rosto com as duas mãos, e saio correndo de volta à cozinha.

Espero exatos dez minutos, tempo que Sabrina precisa para atender Tim, e antecipo seus passos antes mesmo de ela aparecer na cozinha com o rosto vermelho de tanto rir e seu usual tom de reprimenda.

— Obrigada, Tim por tirar meu irmão e seus amigos daqui. Obrigada, por me trazer um pouco de paz nesta noite fria. Pelo menos um obrigada. Nem isso você foi capaz! E o que estava fazendo lá fora parecendo a garota propaganda de uma massa de bolo, Ayla?

Irritada, aponto o dedo em sua direção.

— Nós não combinamos que você me mandaria uma mensagem se ele aparecesse aqui?

— Querida, te mandei umas dez!

— Você mandou? Por que eu não vi? Por que meu irmão apareceu? Por que o Carlo me mandou ir lá para fora? Ele não sabe do meu amor platônico? Claro que ele sabe! Por isso me mandou lá para fora! — choramingo e minha amiga faz um gesto com as mãos para que eu me acalme.

— Vai começar as lamentações, não é? Olha, veja pelo lado bom, seu irmão não roubou a loja.

Eu não achava mesmo que ele faria isso, então não vejo o lado bom de nada. É aí que ouvimos o grito de Carlo. Pouco antes de ele entrar na cozinha e na pequena salinha de vigilância. A confeitaria é bem grande, de forma que câmeras foram muito bem espalhadas por todos os lados, e há uma pequena sala onde quatro monitores mostram as gravações de toda movimentação da loja.

Meu coração pula uma batida quando vejo que ele volta as imagens da câmera que fica no caixa.

Pula a segunda batida quando minha voz quase sussurrada pergunta o que aconteceu.

A terceira, quando ele diz desesperado que fomos roubados.

Olho para Sabrina que alarmada me encara de volta.

Então pula a quarta batida enquanto rezo baixinho:

— Você não fez isso comigo, Ulisses, você não fez.

No segundo em que a imagem de Ulisses é congelada com a mão no caixa na pequena tela, tudo fica escuro e não vejo mais nada.

DEGUSTAÇÃO - Uma mentirinha de nadaOnde histórias criam vida. Descubra agora