Capítulo 07 - EROS

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E ela deixou seu cheiro no meu travesseiro. Constato ao abrir os olhos de manhã sentindo um cheiro misturado ao meu cheiro costumeiro. Me lembro de sua crise de risos no carro, repreendendo a si mesma por ter adormecido na minha cama.

"Quem invade a casa de alguém e aproveita para dormir?"

Será no mínimo interessante tê-la como minha assistente. Ao menos, sinto que nunca mais me sentirei entediado no trabalho. Além dos sentimentos que tem por mim. E isso é a parte ruim, a parte que me cabe a culpa. Não queria que ela sentisse nada demais por mim, não quero ser responsável pela felicidade dela. Sequer consigo ser responsável pela minha. Sei que não sou um chefe fácil, o enorme número de assistentes que já tive e o fato de sempre estar sem uma assistente apesar de pagar acima da média de mercado, provam isso. E tenho certeza que a convivência comigo e meu jeito de trabalhar matarão qualquer sentimento que ela tenha por mim.

Ao menos espero por isso, pelo bem dela. E pelo bem da minha consciência.


Assim que chego à empresa, confirmo que a garçonete desastrada já se encontra no RH como deveria. Em breve, se juntará a mim e preciso pensar em algo para pular toda essa parte chata de orientação. Tim se junta a mim roubando minha xícara de café e aproveito para saber o que exatamente existe entre ele e minha nova assistente, uma vez que não tolero envolvimento pessoal no trabalho.

— Tenho uma nova assistente, você sabia? — pergunto como quem não quer nada e ele nega surpreso. — Você nem vai acreditar quem é.

Ele deixa a xícara de lado e sua atenção está completamente voltada a mim.

— Desembuche logo, sabe que odeio ficar curioso.

— Lembra-se da garçonete desastrada da festa?

Presto atenção à sua reação em busca de qualquer pista de qual é o verdadeiro relacionamento dos dois.

— Ayla? Como você a encontrou? Quer dizer, onde a viu novamente?

Além de surpresa e incredulidade, não consigo captar mais nada que me dê qualquer pista.

— Ela foi à minha casa ontem à noite.

— Desculpar-se por quase matá-lo? — pergunta rindo e voltando a beber meu café.

Sua calma aparente indica que eles realmente não têm um envolvimento romântico como eu imaginava.

— Na verdade, ela foi se declarar. Disse que está apaixonada por mim.

Imediatamente ele cospe o café e engasga, queimando a língua no processo. Mas não parece se importar com o líquido quente em sua camisa, seus olhos estão fixos no meu rosto.

— Você está de brincadeira!

— Não. Cheguei ontem e ela havia adormecido na minha cama enquanto esperava por mim. Quando acordou, me disse que estava ali porque precisava me ver de novo e confessou o que sente. O curioso, é que não me pediu nada em troca. Ela não tinha qualquer esperança que eu fosse corresponder ou dar qualquer atenção a ela.

Ele parece atordoado e não consigo decifrar o que isso quer dizer.

— Acredite, irmão, isso não é o mais curioso. Tem certeza que estamos falando da Ayla? Está falando da garota que desmaiou nos seus braços na festa?

— Sim, Tim, depois de tudo sei quem ela é. Ayla Marins, a garçonete desastrada da festa, minha nova assistente.

Ele está em choque. Olha para o nada como se o universo estivesse girando errado. Aproveito para provocá-lo e arrancar uma reação mais clara dele.

— Você precisava ver o quão surpresa ela ficou quando eu a beijei.

— Você fez o quê?

Ele se levanta e confirmo que há algo mais entre eles.

— O que há entre vocês? Quando perguntei a ela, disse que são amigos, e pareceu bastante irritada por eu insinuar o contrário. Se há algo mais entre vocês me fale agora, antes que a garota assine o contrato, porque você sabe que não tolero esse tipo de coisa aqui.

Ele se afasta confuso, mas quando volta a falar parece o meu irmão normal de novo.

— Não há absolutamente nada entre a gente, aliás, ela está mesmo precisando de um emprego. Eu estava vendo isso para ela.

— Por quê? O que ela é sua?

— É uma amiga. Não somos próximos, ela trabalhava em uma confeitaria que frequento, nos víamos às vezes, mas nos falamos bem pouco. Mas sei que é uma boa menina, honesta e trabalhadora. Só que ela não tem a ver com esse mundo, as experiências dela não são compatíveis com o cargo de assistente. E você é a pessoa mais avessa ao amor que conheço, não entendo porque deu o cargo a ela se está apaixonada por você.

— Você acha que esse amor pode durar a uma rotina de trabalho comigo?

Ele abre um sorriso enorme e parece aliviado.

— Com certeza não! Um ótimo plano! Mas Eros, só toma cuidado com ela, é uma menina muito simples, e facilmente manipulável.

— Não estou entendendo onde você quer chegar.

— Quero chegar no fato de que ela é incrivelmente bonita. Apesar de doce, vai perceber que é extremamente atrevida e tem dificuldades em obedecer ordens. O tipo de mulher que mexe com você.

Sorrio. Eu poderia dizer que ele está com ciúmes, mas claramente não há nada entre eles, e conhecendo meu irmão, se tivesse qualquer interesse nela, eles estariam juntos. Então não entendo o que é toda essa proteção em relação a ela.

— Não se preocupe, eu não vou olhar para sua querida amiga mais do que o necessário. O que não entendo e você não está me contando, é o que ela é sua.

— Eu já disse, uma amiga.

— Você diz constantemente que não tem amigas tão bonitas.

— Ela não é como as outras mulheres que conhecemos. É como uma menina. Você vai perceber isso facilmente. É inocente e incrivelmente desastrada. Tudo acontece com ela, ela meio que desperta esse instinto protetor em mim, mas é apenas isso. Porém esteja avisado, eu a protejo, estou voltado a isso. Não mexa com ela.

Observo meu irmão, meu melhor amigo, aquele a quem conheço melhor do que a mim mesmo. E finalmente entendo do que se trata sua reação estranha à minha aproximação com sua protegida. Ciúmes.

— Irmão, por que você está mordido? Disse que não há nada entre vocês e que não pensa nela de um jeito romântico ou sexual.

— Não mesmo — confirma.

— Então por que te incomoda que ela esteja perto de mim?

— Não é isso o que me incomoda. Só acho estranho o que ela sente por você, apenas isso. Ela é centrada. Não é o tipo de mulher que se apaixona à primeira vista por alguém, ela é o tipo que ama por anos em silêncio uma única pessoa. Sempre a vi assim, como um rio calmo. Isso de ir à sua casa se declarar parece ousado demais para ela. Não sei, não combina com sua personalidade.

— Essa doença muda as pessoas — constato referindo-me ao amor.

— Pode ser.

Ele muda de assunto, mas noto que continua incomodado. 

DEGUSTAÇÃO - Uma mentirinha de nadaOnde histórias criam vida. Descubra agora