DISPONÍVEL APENAS 8 CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO.
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Na manhã seguinte, observo a roupa no espelho e Liah faz uma careta engraçada ao entrar no quarto para pegar sua mochila.
— Está tão ruim assim? — pergunto beirando o desespero.
— Ayla, você mais parece a tia Sonia.
— Ah, meu Deus!
Reviro depressa o meu armário, mas minhas roupas são todas iguais. Fresquinhas demais, simples demais, remendadas e curtas. Na confeitaria eu tinha uniforme, por que não dão uniforme nessa empresa? Quem tem roupa para ir trabalhar todos os dias? Derrotada, sou obrigada a aceitar que a blusa de manga verde musgo da vovó e minha calça de moletom marrom são minha melhor opção.
Calço o mesmo sapatinho de meio salto do dia anterior porque é o único com um pouco de salto que tenho, e faço meu coque caprichado. Não sei porque estou fazendo coques, me parecem coisa de secretárias de executivos, então faço.
Saio bem cedo para chegar antes do meu chefe, e preparo rapidamente seu café, umas torradas e uma jarra de água fresca. Não sei se ele toma o café na empresa, mas se não estiver com fome, eu como tudo sem problemas. Deixo a pequena bandeja em sua sala e vou para minha mesa, do lado de fora. Ignoro os olhares atravessados das poucas pessoas que chegaram, tenho certeza que estão rindo da minha roupa e me dou uma bronca mental por não ter descolorido essa calça ontem à noite. Pelo menos ela seria branca e não marrom.
Ligo meu laptop e abro o sistema, enquanto o chefe não chega, dou uma olhada nos comandos e acabo descobrindo a agenda do dia dele. Anoto tudo num papel para não ficar tão perdida e vejo que ele tem uma reunião em uma hora.
Finalmente ele chega, me dá um bom dia seco e entra em sua sala. Mas volta em seguida e me encara.
— Se vai falar da minha roupa... — começo, mas ele me corta com um gesto.
— Você precisa vir atrás de mim, senhorita. Tenho que te ensinar a localizar a agenda e confirmar esses compromissos com você.
Levanto-me e o sigo, e logo o informo:
— Já achei a sua agenda. Você tem uma reunião em uma hora.
Ele joga uma pilha de papéis sobre a mesa e observa a bandeja com o café ali.
— Quem te falou que tomo café na empresa?
— Ninguém. Se não quiser tomar, apenas não tome.
Um sorriso surge em seu rosto, mas some rapidamente e ele assume sua postura séria e mandona de chefe.
— Não gosto do seu tom atravessado e menos ainda da sua vestimenta horrorosa — diz avaliando-me com uma careta.
Não digo nada em resposta, já que não posso ser insolente, e ele me olha enquanto toma o café. Como se esperasse que eu dissesse alguma coisa.
— Sinto muito? — arrisco e ele sorri.
— Como você sabia a quantidade de açúcar que gosto no café?
— Pela sua personalidade. Trabalhei anos em uma confeitaria e servi muito café. Aprendi a identificar o que cada pessoa gostava pelo jeito como fazia o pedido. Você é mandão e irritante, café forte. Mas gentil e atencioso quando quer, então não totalmente sem açúcar. Eu apenas chutei. Mas posso corrigir nos próximos, até chegar ao café que o senhor gosta.
— Este é exatamente o café que eu gosto. Obrigado.
Ele avalia as folhas que jogou sobre a mesa com uma careta enquanto come, e sou obrigada a ficar aqui, parada feito uma boba, esperando uma ordem dele. Por fim, fico entediada com seu silêncio e pergunto:
— O que são esses papéis? Algo com que eu possa ajudá-lo?
— Se você for uma arquiteta, sim. São projetos pequenos que não quero fazer, porém os clientes são importantes demais para que eu possa dizer não.
— Depois de um projeto tão grande quanto a sede do governo, você ficou mal-acostumado — digo com um sorriso e ele me encara com uma careta, então me corrijo. — Digo, o senhor. O senhor está mal-acostumado.
Ele sorri. Sei que sua queixa seria sobre o fato de eu o estar insultando e não pela maneira como me dirigi a ele, mas irritá-lo torna as coisas um pouco mais divertidas aqui.
— Corrigir o banheiro de um senador. Dar uma cara nova a um closet. O que eles acham que sou? Um decorador?
Deixa os papéis sobre a mesa e pega sua pasta levantando-se.
— Melhor eu ir para a reunião, não quero correr o risco de chegar atrasado. Você vem comigo.
— Eu já imaginava — resmungo.
Pego minha bolsa e o sigo. Entramos em seu carro no estacionamento enquanto ele me orienta de que serei como sua sombra. Ele sempre tem reuniões fora e preciso acompanhá-lo a cada uma delas. Tenho um horário certo para chegar, mas nunca para ir embora. Minhas folgas não são garantidas, imprevistos podem acontecer e ele não vai a lugar nenhum sem mim, então, caso eu precise, tenho que avisar com antecedência qual dia não poderei estar disponível para ele.
— Não me parece muito diferente da confeitaria — concluo baixinho, mas ele escuta.
— A diferença provavelmente estará no salário. Você será recompensada por cada segundo que passar ao meu lado.
Olho aqueles olhos negros, aquele cabelo castanho tão liso e a barba tão perfeita e penso que não é nenhum sacrifício passar tempo ao lado dele. Mas então ele estoura minha bolha ao me estender um pedaço de plástico dourado.
— Você desce aqui — ordena enquanto pego o cartão de sua mão.
Estamos parados em frente ao shopping do centro e tenho certeza que sua reunião não é aqui.
— Não entendi. Não vou à reunião com o senhor?
— Vestida assim? De jeito nenhum, querida!
Abro minha boca para respondê-lo, mas ele se adianta:
— Se vai repetir que se o seu vestiário me incomoda devo te dar dinheiro para um novo, é exatamente o que estou fazendo. Este é meu cartão de crédito. Compre roupas decentes para uma assistente.
Ele está me dando o cartão dele para que eu compre roupa para mim? Olho em volta esperando a pegadinha do universo, aquela sensação de que algo vai dar errado e vou acabar presa, mas não há nada. Apenas seu rosto impaciente por eu demorar a descer.
— Você está brincando comigo, não está? Está se vingando por eu ser um pouquinho insolente, então vou chegar numa loja, escolher algo e essa coisa não vai passar. Não tem limites, não é?
Ele sorri, divertindo-se com minha desconfiança.
— Olhe o meu nome no cartão. Você acha que eu teria um cartão de crédito sem crédito?
Reparo o nome dele no plástico dourado. E então reparo que o plástico é dourado.
— Esse seu cartão, qual o limite dele?
Ele me olha como se eu fosse retardada, a testa franzida em confusão e a impaciência por minha demora em sair de seu carro.
— Quero dizer, o quanto posso gastar?
— Não sei! Gaste o que for necessário! Apenas não me apareça para trabalhar parecendo um pote de mostarda gigante de novo!
Ele conseguiu me irritar. Desço do seu carro segurando a resposta, afinal de contas, estou com seu cartão dourado. Dou-ra-do. Mas paro na janela e aviso com um sorriso sereno no rosto:
— Espero então que seja ilimitado.
Ele arregala os olhos e entro no shopping me sentindo em um filme de comédia romântica.
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DEGUSTAÇÃO - Uma mentirinha de nada
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