DISPONÍVEL APENAS 8 CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO.
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Enquanto destravo a porta me vem à cabeça que será inevitável que Tim descubra que estou "apaixonada" por seu irmão. Já que provavelmente Eros vai contar a ele sobre a garçonete assassina que se tornou sua nova assistente. Mas bem, não é como se ele fosse se declarar a mim depois de tudo. Também depois de algumas semanas posso simplesmente "deixar de amar" Eros, certo? E eu realmente preciso de um emprego, principalmente numa firma de arquitetura, é como realizar um sonho. Mesmo que seja como assistente do chefe, estarei ali, vendo de perto como tudo funciona. Tenho certeza que irei aprender muito estando ali.
Ulisses me aguarda com olhos inchados e uma expressão que beira o desespero. Vovó está atrás dele claramente preocupada.
— Você conseguiu? Devolveu o prendedor? — ele pergunta assim que me vê, mas o ignoro e abraço vovó para tranquilizá-la.
— Tudo certo, vovó. Devolvi sem que ninguém me visse e ainda consegui um emprego. Numa firma de arquitetura!
Vovó comemora comigo, prepara rapidamente seu famoso chocolate quente que só é feito em ocasiões especiais e pela primeira vez em dias, temos uma comemoração em casa. Sem nenhum mal pressentimento. Como um sorriso do universo pela primeira vez. Mas procuro não manter esperanças, pois a última vez em que pensei que o universo estava sorrindo para mim, ele estava na verdade me mostrando o dedo do meio. Dessa vez, vou esperar um pouco mais antes de me sentir uma pessoa normal.
Assim que vovó se retira com as gêmeas, seguro Ulisses pelo braço.
— Eu fui pega e quase fui pra cadeia por sua causa! Precisei inventar uma mentira tão grande, e agora terei que sustentá-la por meses! O que você fez, Ulisses, não só envergonhou a mim, como me fez perder de vez o amor da minha vida! Por causa da mentira que contei, ele nunca vai olhar pra mim.
— O que houve? O que você disse? — Seus olhos estão cheios de novo e o deixo ali, remoendo em curiosidade e culpa. Ele merece sofrer um pouco.
Uma mão quente e acolhedora passeia por meu rosto e me dá pequenas sacudidas. Em seguida, a voz baixinha da minha avó me desperta.
— Querida, podemos conversar um pouco?
O dia ainda nem nasceu, mas percebo que ela não conseguiu dormir e me levanto imediatamente. Duas xícaras de chá nos esperam na mesa da cozinha e dona Sofia senta-se de frente para mim. Em seu rosto, mais rugas do que as causadas pela idade. Ela está muito preocupada.
— O que vamos fazer com ele, Ayla? Perdoamos uma vez, deixamos passar a segunda, agora isso! E se você não tivesse conseguido devolver esse prendedor? E se ele tivesse sido pego? Vamos esperar a quarta vez para tomar alguma atitude?
Deposito minha mão sobre a sua, essa é uma dor que compartilhamos e me sinto tão perdida quanto ela.
— O que poderíamos fazer, vovó?
— Eu não sei. Não consigo pensar em um castigo forte o bastante para que ele aprenda.
— Vovó, não acho que caráter se aprenda com castigos. É algo que você possui ou não, infelizmente ele não possui.
— Não diga isso, Ayla! Não fala isso nem de brincadeira! Eu criei três filhos com toda dificuldade e foram todos boas pessoas. Eu aceitei escolhas ruins, profissões piores, casamentos fadados ao fracasso porque eles precisavam aprender com seus erros, mas nunca um filho meu teve falta de caráter. Isso nunca! Então sua mãe tem quatro filhos e vai embora no momento mais difícil. Dois adolescentes e dois bebês? O que ela estava pensando? Quem vai dar caráter ao filho dela? Quem?
Dou a volta na mesa e me ajoelho ao seu lado, deito a cabeça em seu colo e logo seus braços pousam em minha cabeça.
— Tampouco mamãe poderia fazer isso. Mas sinto muito que essa preocupação esteja com a senhora e não com ela. Nós vamos dar um jeito, vamos pensar em algo.
Ela acaricia meu cabelo meio sem jeito por suas palavras.
— Eu não quis dizer que são um fardo para mim, querida.
— Eu sei, vovó, não se preocupe. Você criou três filhos e quando pensou que poderia descansar, ganhou mais quatro filhos para criar. Sei que não é fácil, mas a senhora tem feito um excelente trabalho. O Uli já tem dezoito anos, não seria melhor arrumarmos um emprego para ele? Talvez assim ele tenha seu próprio dinheiro, compre suas próprias besteiras e coloque a cabeça no lugar.
Volto a me sentar e seus olhos parecem mais calmos após a confissão que estava guardando para si mesma.
— E se ele aprontar alguma coisa no lugar onde vai trabalhar?
— Então a vida irá puni-lo, vovó. Não podemos protegê-lo para sempre.
— Você é tão boa, minha filha! É uma criança tão cheia de luz! Deus tem algo reservado a você, um homem bom, uma carreira brilhante. Você vai terminar seus estudos e ser a melhor no que faz, eu sei que vai. Você merece isso.
Sorrio em resposta e o que não digo em voz alta, é que ambas as coisas me parecem completamente impossíveis de acontecer. Serei só mais uma pessoa com muito trabalho e o dobro de preocupações, lutando a cada dia, vivendo dias normais. Não é como se meus dias fossem se tornar mágicos, caso meus sonhos se realizassem.
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DEGUSTAÇÃO - Uma mentirinha de nada
UmorismoDISPONÍVEL APENAS 8 CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. PROIBIDA CÓPIA OU DISTRIBUIÇÃO PARCIAL OU TOTAL DESTA OBRA SEM CONSENTIMENTO DO AUTOR. PROIBIDO ADAPTAÇÕES. PLÁGIO É CRIME! A azarada Ayla sempre soube que o universo tinha...