DISPONÍVEL APENAS 8 CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO.
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Sabrina entra em meu quarto com sua melhor roupa, os uniformes que devemos usar serão entregues no local da festa. Tem seus cabelos alaranjados presos em um elegante coque, um brinco discreto e uma maquiagem leve que a deixa linda. Seu sorriso enorme por ganhar um extra é apagado quando esfrego o cartão do Tim na cara dela.
— Estava contando os dias para fazer isso — admito.
Ela se afasta rindo e avalia o elegante cartão.
— Uau! Depois de três anos você tem um número de telefone!
— E vou conhecer a casa do irmão dele. E ele parou o carro para me oferecer carona. Alguém está se apaixonando — digo num tom sonhador.
— Ou, alguém é apenas uma pessoa do bem que decidiu ajudar de novo uma pobre coitada.
Aponto o dedo para a porta, completamente irritada.
— Saia do meu quarto, ex melhor amiga!
— Me lembro de uma quinta comum quando você apareceu para uma entrevista na confeitaria e graças ao principal cliente do dono, conseguiu o emprego. Então você passou uma semana inteira dizendo que ele a havia ajudado porque estava se apaixonando. E sabe qual foi o meu erro? Eu caí na sua. Por três longos anos estamos esperando essa paixão dele, e nada!
Tento sair do quarto, mas ela se coloca entre mim e a porta, decidida a acabar comigo.
— Querida, eu só não quero que vá a essa festa com o coração cheio de esperanças, porque você pode se machucar. Tenha em mente que ele tem uma namorada, certo? Você a viu. Ele só está sendo legal, porque é uma pessoa legal, não perca mais três anos esperando algum passo.
— Sabrina... — tento defender meu amor irracional, mas quando ela decide agir como minha mãe, ela realmente age. Me corta antes que eu possa usar minha dolorosa voz de sofrimento e convencê-la a cair na minha pilha de novo.
— Ayla, se ele quisesse algo com você a teria convidado como acompanhante dele, não como mais uma das garçonetes. Desculpa estar sendo tão má, bebê, mas você precisa ouvir isso e tirar esse brilho ilusório dos olhos. Ou não vou deixar que aceite esse trabalho.
Jogo-me sobre a cama vendo aos poucos cada lembrança se desfazer. Lembranças de todos os sonhos que construí acordada sobre um futuro com ele. Eu os memorizei por serem tão recorrentes, e estava na hora de desfazer-me deles.
— Tudo bem, você está certa. Sou só uma garçonete esta noite, só uma conhecida para ele em todas as outras. Não existe nenhuma paixão por parte dele.
Ela respira aliviada e sei que não se aproxima para me abraçar por medo de acabar tentando me convencer que terei um futuro feliz com ele de novo, apenas para não me ver com a expressão de luto que tenho agora.
Chegamos ao local onde será a tal festa, pessoas se movem para todos os lados carregando mesas, cadeiras, flores e comida. A casa em si não é enorme como pensei que seria, embora já por fora seja nítida a elegância e requinte da construção. Porém, ao chegarmos ao jardim dos fundos, onde a festa realmente ocorrerá, perdemos o fôlego. O lugar é lindo! Como um local romântico de um filme. As mais belas flores que já vi brilham em um jardim perfeitamente planejado, que rodeia todo o amplo espaço, escondendo qualquer muro e dando uma sensação tranquilizadora de paraíso.
À parte a bela paisagem, cadeiras-balanço e poltronas estão perfeitamente espalhadas junto às mesas, há uma fogueira, luzes e cores em volta da piscina. A piscina é enorme, com uma pequena jacuzzi no centro, e termina em uma sala de vidro que presumo ser uma sauna. Completamente cativada pelo lugar, caminho até a área gourmet e quase babo diante da bancada toda em corian na cor gelo, iluminada nas quatro pontas. O conjunto fogão, churrasqueira e adega casa com a decoração local e meu lado arquiteta quase explode em êxtase ao ver o aconchego que a área em círculo traz.
— Ayla, você não me ouviu te chamar? — Uli reclama sacudindo meu braço.
— Espera, estou apaixonada! Se um dia eu fosse podre de rica e pudesse construir minha casa dos sonhos, com certeza a área externa seria exatamente assim.
— Se você não mexer essas pernas até a cozinha agora mesmo, não vai ter dinheiro nem para pagar seu aluguel, imagina construir sua casa dos sonhos.
O brilho dos meus olhos é cruelmente apagado, e como uma boba olhando tudo em volta, sigo Ulisses até a cozinha. Uma senhora nos entrega os uniformes e dá instruções, mas já fizemos isso antes, de forma que não teremos qualquer problema. Quer dizer, Sabrina e eu já fizemos. Repasso tudo com Ulisses mil vezes para ter certeza que não fará nada errado, mas me comprometo a estar sempre perto dele por via das dúvidas.
Penso em dar ao meu irmão um aviso de que esta é a casa do irmão do Tim, o amor da minha vida, o homem gentil que o está dando um voto de confiança que ele não merece, então que nem pense em fazer qualquer besteira. Mas o vejo rindo com Sabrina e confio que ele não fará nada. Então opto por não começarmos a noite com uma discussão desnecessária.
Apesar da enorme bagunça que tudo estava quando chegamos, em duas horas, quando os convidados começam a chegar, tudo está pronto. Entendo ao ouvir conversas que se trata de uma firma de arquitetura e isso faz com que meus ouvidos estejam atentos a tudo o que dizem. Estão comemorando um contrato para uma obra enorme fechado com o governo e sinto-me profundamente orgulhosa de Tim por tal feito.
Será que seria muita falta de ética falar com ele quando o vir e parabenizá-lo? Decido fazer isso apenas se ele falar comigo. Procuro então entre cada uma das cabeças morenas que vejo, seu cabelo arrepiado e com aparência de molhado, mas não o encontro. Quando o lugar já está cheio, finalmente ele chega. Acompanhado de um homem um pouco mais alto do que ele, que não consigo ver de onde estou, e sem a namorada loira.
Eles cumprimentam uma dúzia de pessoas e são aplaudidos por todos. Rapidamente se misturam e o perco de vista.
Enquanto rodo com bandeja após bandeja, servindo e recolhendo taças, sempre procuro meu irmão. O vejo na maioria das vezes meio atrapalhado ao servir bebidas e combino com Sabrina que ele sirva apenas comidas, para não corrermos o risco de ele derrubar nada em ninguém. Em determinado ponto da noite, Marisa, a responsável pelo buffet aproxima-se de mim com um sorriso caloroso.
— Você é a amiga do senhor Tim, certo?
Assinto, embora amiga seja forte demais para definir as poucas palavras que trocamos, e não seja forte o bastante para definir o que eu queria ser dele.
— Olha, temos outra festa no final de semana, se você e seus amigos tiverem interesse, estou adorando o trabalho de vocês.
— Claro! Isso seria realmente muito bom!
Ela pega meu contato e mais do que depressa conto a Sabrina e Ulisses nossa conversa pedindo aos dois o triplo de atenção e dedicação porque se fizermos qualquer coisa errada, podemos perder uma excelente chance. Quando ambos concordam, embora Ulisses não pareça muito animado, me vem aquela sensação que arrepia os pelos do meu braço e soa aquele maldito alerta na minha mente. Sabrina me sacode preocupada, mas entende do que se trata assim que meus olhos aflitos pousam nela.
— Algo vai dar muito errado — digo com pesar minha segunda frase preferida.
Geralmente, sinto que algo vai acontecer, e acontece. Sempre. Mas, quando sinto dessa forma, quando o pressentimento é tão forte que me faz ter reações físicas, a merda é mesmo enorme. A última vez em que senti algo parecido foi no dia em que o Ulisses assaltou a loja, e não chegou nem perto do que senti agora.
— Vira essa boca para lá, menina! Onde tem uma madeira? Algo de madeira? Madeira! — Sabrina corre em busca de sua preciosa madeira para dar suas três batidas que, segundo ela, tiram a má sorte e começo a rezar para que dessa vez eu esteja errada. Afinal de contas, foi a primeira vez que o universo me sorriu duas vezes em uma única semana. Uma quando Tim me ofereceu o trabalho e a segunda quando a dona do buffet ofereceu outro. Nada pode dar errado.
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DEGUSTAÇÃO - Uma mentirinha de nada
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