Delphine, Delphine Cormier

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Era o segundo dia do ano letivo. Na ultima carteira, da fileira do meio, encontrava-se sentada uma menina, que com toda a certeza, passou despercebida pelos demais alunos que estavam ali na sala de aula.  Uma criança comum em meio a tantas outras, a unica diferença era que ela estava sozinha, enquanto observava os colegas de classe animados conversando uns com os outros.

Por se tratar de uma cidade pequena, as crianças estudavam com os mesmos colegas, praticamente sem mudanças na turma durante anos, vez ou outra entrava um novo aluno, o que acabava gerando certa estranheza e curiosidade no inicio, porém ninguém havia notado sua presença, e de certo modo, estava até satisfeita com isso.

Sentada ali, atenta a todas as conversas ao redor, a menina percebeu que existia um certo elo de amizade muito grande entre a maioria das crianças. Perto da porta de entrada, encontrava-se um grupo de alunos, mais ou menos seis, conversavam animados sobre um possível jogo de futebol durante o intervalo das aulas. Também havia um grupo de alunos em um canto da sala, conversando sobre álbuns e trocando figurinha.

Quando passou os olhos pelo resto das carteiras, pode perceber que duas meninas loiras olhavam em sua direção, enquanto conversavam baixinho entre cochichos. Procurou não se atentar a elas, já estava até de certa forma, acostumada a isso.

Afim de desviar sua atenção das duas, voltou a olhar em direção ao grupo que conversava perto da porta, desejou não ser tão tímida e ter coragem de ir lá conversar com eles, quem sabe conseguisse fazer alguns amigos. Mas antes que pudesse se quer cogitar, mais a fundo a ideia de levantar para falar com eles, percebeu que eles pararam de conversar, começaram a ir rapidamente para seus lugares, e por fim um deles gritou: 

- A professora está vindo! 

No mesmo instante, todas as conversas se cessaram e os que estavam em pé, rapidamente tomaram seus lugares. A menina achou aquilo curioso, parecia que todos, de uma hora para a outra, ficaram apreensivos, com medo talvez, não soube dizer. 

- Bom dia classe - Se pronunciou uma mulher de meia idade, morena com cara de poucos amigo.

- Bom dia professora - todos responderam em uníssono, exceto a menina observadora. 

A mulher colocou uma pasta preta sobre sua mesa, tirou o casaco que vestia e pendurou no encosto de sua cadeira, varreu os olhos pela sala de aula e ao encontrar com o rosto da menina, começou a falar:

- Como já devem ter notado, temos uma nova colega este ano - Sua voz era firme, seus trejeitos imponentes.  - Levante-se e apresente-se. - disse quase ordenando, olhando para a menina.

A menina vagarosamente levantou e limpou a garganta, certificando-se de que sua voz ainda estava ali. Nunca gostou dessa bobeira de se apresentar no inicio do ano, não achava necessário isso, pois certamente na hora da chamada todos saberiam quem ela era.

- Bom dia, Meu nome é Cosima... Cosima Niehaus - Disse ela timidamente, sentando-se logo em seguida. Não queria prolongar aquilo, porem percebeu que após dizer seu nome, a professora deu um passou ao lado e ficou a observa-la mais atentamente.

- Qual sua idade? - Perguntou a mulher, todos os colegas continuavam a olhar em direção a Cosima, e aquilo estava começando a afeta-la, podia sentir que seu rosto aos poucos esquentava

- 9 anos 

- Por que não veio ontem? - perguntou a professora com real interesse, dificilmente um aluno seu faltava logo no primeiro dia de aula.

- Nos mudamos agora, minha mãe veio fazer nossa matricula ontem - Respondeu timidamente, olhando para as próprias mãos.

- E seu pai como esta? 

- B-Bem... acho - respondeu Cosima, ainda olhando para as próprias mãos. A verdade era que ela não sabia responder esta pergunta, já fazia sete anos que não via e nem falava com seu pai. Contudo, não achava necessário falar isso na frente de todos.

- Fui professora do Niehaus quando ele tinha sua idade - Disse com pouca emoção - Seja bem vinda, eu sou a professora Virginia Coady e serei uma de suas professoras, acredito que tenha recebido as normas da escola junto com a realização da matricula, espero que tenha lido e compreendido. Qualquer duvida a sala do orientador fica ao lado da sala da diretora - disse tudo em um único folego e logo depois deu as costas, virando em direção a lousa.


***

Duas horas de aula haviam passado, faltavam poucos minutos para o intervalo, os alunos já começavam a ficar inquietos e ansiosos para, enfim, poderem sair um pouco da sala de aula e respirar. Cosima continuava quieta, um livro de geografia aberto encima da carteira, juntamente com um caderno, onde ela escrevia freneticamente as questões, que rigidamente a professora havia mandado que respondessem, após ter feito uma breve leitura de algumas paginas do livro.

Mesmo não gostando de geografia Cosima não reclamava de fazer atividades, na verdade até gostava, o que ela menos gostava era quando os professores pediam para ler respostas em voz alta, ou coisas do tipo. Sentia-se extremamente desconfortável falando em publico, porém mesmo não gostando, sempre que os professores pediam ela fazia, pois sua mãe sempre lhe ensinou a não contrariar os professores e nenhuma pessoa mais velha.

Percebendo uma movimentação pelo canto do olhos, por fim levantou os olhos do caderno e olhou ao redor. A sala já estava quase completamente vazia, só havia ela e duas meninas loiras, que vinham em sua direção. 

- O Sinal para o intervalo já tocou, você não vem? - Perguntou uma delas. Cosima percebeu que aquela parecia mais simpática do que a outra, pois carregava um sorriso no rosto enquanto a outra tinha um semblante mais fechado

- Acho que não - respondeu Cosima - Só faltam duas questões para eu responder, vou ficar e terminar

- Como assim só faltam duas? - a que até então estava quieta perguntou em voz mais alta - Eram trinta questões, TRINTA...

- Como já esta mais adiantada, venha conosco, depois você termina 

Cosima ficou alguns segundos olhando para as duas, não era comum que alguém viesse falar com ela durante as aulas, no antigo colégio sempre esteve sozinha. E por um momento chegou a pensar que seria melhor recusar este convite inesperado, pois seu medo em passar novamente, por tudo aquilo que viveu no antigo colégio, estava falando alto em sua mente. Até que a menina mais simpática sorriu em sua direção, fazendo um movimento com uma das mãos a chamando.

Seu cérebro automaticamente processou, que não seria possível que alguém com um sorriso tão angelical, fosse capaz de fazer algum mau a ela. 

- Tudo bem - Disse levantando-se e indo em direção as duas.

- Como é mesmo seu nome? - perguntou a que a principio tinha a cara mais fechada

- Cosima, e o seu?

- Eu sou Krystal, e essa é ....

- Prazer Cosima, eu sou Delphine, Delphine Cormier. - Interrompeu a amiga, sorrindo e estendendo a mão em direção a Niehaus para cumprimenta-la.



Um silêncio que dizia tudo Onde histórias criam vida. Descubra agora