Capítulo 16

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Eles deveriam ter me contado a duas semanas. Eu não teria passado por tudo que eu passei para ser jogado de lado. Não teria me tornado próxima do Michael, não teria brigado com minhas amigas. As coisas provavelmente seriam mais fáceis.

– Amy, o que aconteceu?– me viro, é ele. Não consigo vê-lo agora. Não quero que ele me veja assim.– Seus pais me ligaram perguntando se eu sabia onde você estava. Imaginei que estaria aqui. Por que fugiu?– ele tem a voz tão encantadora, vou sentir saudades. Não viro para ele, não consigo. – Posso me sentar aqui ?- ele pergunta, assinto com a cabeça.

Ele me acomoda em seu peito. Vou sentir saudades desse cheiro, do moletom, de tudo. Ontem estava tudo tão maravilhoso, em partes claro. Mas estava. Se ele soubesse o motivo, acho que também estaria triste. Quando devo contar?

– Você quer me dizer o que está acontecendo?– nego com a cabeça.– Tudo bem, eu estou aqui.– Sei que deveria contar, mas é difícil dizer que ficarei fora por um tempo. Não perguntei quanto tempo aos meus pais, mas espero que seja pouco.

As lágrimas escorrem pelo meu rosto, sendo despejadas no moletom de Michael. Uma de suas mãos acaricia meu cabelo. As lágrimas tornam o meu rosto mais pesado, fazendo com que meus olhos se fechassem aos poucos. O que eu mais quero no momento é dormir e nunca mais acordar.

                                •••••••••••••••••

Quando eu era mais nova e sonhava que alguma pessoa da minha família ou alguém importante para mim havia morrido, eu acordava chorando, com desespero, e o coração acelerado, me levantava a procura da minha mãe e ela me mostrava que nada que tinha acontecido era real. Foi assim que eu acordei, mas não tinha a minha mãe aqui comigo para falar que era mentira. Quando abri os olhos à vista do lago, que normalmente iluminaria minha visão, se tornou negra e sem vida.

Olhar o garoto ao meu lado nunca foi tão difícil. Ele ficou aqui por mim, mas em breve não estarei aqui para ele. Acho que temos que terminar. Nem sei se temos algo, mas tenho que terminar isso. Seria tão mais fácil continuar o meu antigo ódio do que ter começado a amá-lo.

Dizem que o sentimento do ódio fica do lado do amor, por isso é tão fácil odiar uma pessoa que amava ou amar uma pessoa que antes odiava. É como quando vemos um bebê e da vontade de apertar por tanto fofura. Dez minutos observando-o se passaram e Michael começa a abrir os olhos. São os olhos castanhos mais bonitos que já vi.

– Hum... Oi. Tudo bem? Acho que já está virando rotina ficarmos aqui. - ele diz com a voz carregada de sono.

–Oi- murmuro.

– Você quer me contar o que aconteceu? - ele pergunta. Hum... aconteceu que vou morar em Boston e demorarei muito tempo para te rever.

– Eu apenas discuti com os meus pais.– prefiro mentir.

– Eu entendo, é por causa da noite do baile- assinto- se você quiser posso conversar com eles e explicar tudo o que aconteceu.- ele é tão atencioso.

– Tudo bem, não precisa.

–Hoje vai ter um dos jogos decisivos de basquete, e depois os meninos vão fazer uma festa. Você vem, não é?– não gosto de festas e não consigo pensar em me divertir com tudo o que está acontecendo. Agora que eu não posso mesmo falar da minha ida, ele pode ficar sobrecarregado e acabar não se concentrando no jogo.

–Não vou conseguir ir no jogo e não me dou bem com festas. Desculpa. - seu olhar é de compreensão.

– Então assim que o jogo acabar eu vou para sua casa se você quiser. Ou podemos vim para cá.– nego com a cabeça.

– Não deixe de ir a festa por minha causa. Você é o líder do time, eles precisam de você.– eu adoraria ter a companhia dele, mas não posso impedi-lo de viver a sua vida.

– Tem certeza?– assinto.

Quero realmente que ele se divirta. Não tenho direito de ficar prendendo-o. Nem somos namorados. Pelo menos eu acho. Como eu queria odiar ele ou que talvez ele me odiasse. É tão ruim não saber o que as pessoas sentem.

– Vou para casa, meus pais devem estar preocupados.

–Posso te levar?– assinto. A companhia dele me acalma. Ele está sendo o meu porto seguro no meio da tempestade. Ele passa seu braço sobre meus ombros e sinto o seu calor me aquecer. Alguns minutos depois já estamos na porta da minha casa.

– Então tchau.- digo abrindo a porta da minha casa.

– Eu posso entrar e conversar com os seus pais? Falar as minhas intenções com você?- balanço a cabeça freneticamente. Não, ele não pode. Meu Deus, não. Não quero magoá-lo.

– Deixa pra outro dia. Você tem que se concentrar para o jogo. Suas costas devem estar doloridas, você dormiu duas noites seguidas no chão e ainda tinha o meu peso em cima de você. - Ele sorri de lado.

–Tá bom então, deixa pra outro dia.- ele se inclina e nos beijamos. Um beijo profundo, com desejo de ambas as partes. Talvez esse possa ser o nosso último beijo, nunca se sabe do dia de amanhã. Ele ficará chateado pela minha ida?

Encerramos o beijo e o abraço com muita, muita força. E ele me abraça com a mesma intensidade.

– Assim que o jogo terminar eu te ligo.

–Okay.- entro em casa. Meus pais estão no sofá. – Só me diz uma coisa. Quanto tempo vamos ficar lá?

– Aproximadamente 7 meses. Se tudo der certo.- meu pai se pronuncia, assinto, não é muito tempo. Tomara que esse tempo passe rápido.- Ficamos preocupados. Não faça isso de novo.- assinto novamente.

Subo para meu quarto. Eu vivi 16 anos da minha vida aqui. Esse é o lugar da casa que mais amo. Os discos pendurados na parede branca. Minha guitarra e meu violão pendurados na parede. Minha cama. Meu sofá na janela. O contraste do preto com o branco e o azul estrelado no teto. Serão apenas 7 meses depois tudo irá voltar ao normal.

Estou cansada dessa vida, meu subconsciente invadi meus pensamentos.

Eu só queria te odiar Onde histórias criam vida. Descubra agora