Capítulo 21

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Eu tenho pensado muito onde minha vida chegou. Tudo era perfeito na medida do possível. Nada é perfeito, agora eu sei disso. Mas pra mim aquilo era perfeito.

Eu tenho meus pais, meus irmãos, tinha amigas que confiava cegamente. É tão ruim saber que era uma farsa. Não necessariamente uma pessoa que tem isso é feliz. Cada pessoa é de um jeito, afinal, umas preferem viver sozinha, outras não.

Eu não.

Sempre me achei independente em relação às minhas escolhas, mas não. Eu sou muito dependente! Hoje eu percebi que escolhas feitas por mim não foram para mim, eu nunca pensei no eu em primeiro lugar. A minha dependência resultou na minha ausência de escolhas, afinal pra eu me manter erguida a outra pessoa também deveria estar. Ou seja, as escolhas feitas por mim não eram para mim, mas mantendo a outra estável eu também estaria. Não é ?

Pelo menos era isso que eu pensava. No momento que eu parei com a minha "ausência de escolhas" e decide escolher, eu me desestabilizei e desestabilizei tudo ao meu redor.

No momento em que eu o escolhi, eu perdi tudo que eu achava que nunca iria perder. Eu perdi a noção, mas se eu realmente o amo vale a pena.

Já estou em casa e não consigo parar de pensar nas minhas próximas escolhas e em tudo que eu passei até hoje. Tenho tentado evitar Michael, até o momento tem dado certo, ele não tem tentado muito pra falar a verdade, talvez eu que devesse parar de tentar dar uma chance, ele me magoou e não ao contrário. Talvez esse amor seja apenas uma paixão.

Parece que estou bem em relação a isso, mas não. Isso na verdade tem me quebrado. Não só isso, mas...

A escola tem se tornado um inferno. Afinal, eu havia tentado suicídio, e isso já era um motivo suficiente para me julgarem. Uma pessoa não deveria ser julgada por isso. Depressão não é brincadeira. Eu tive motivos, que pra alguns podem ser considerados irrelevantes, mas pra mim não. Cada um encara as coisas de um modo.

Meus pais já estão se preparando para mudança, o pai de Jack também trabalha na mesma empresa que o meu pais pelo que eu me lembre. Tanto que esse foi um dos dos motivos de eu me afastar dele quando era mais nova. Assim como eu vou agora ele já foi. Mas um dia assim como ele, eu voltarei.

Parece que tudo está ficando pequeno, o mundo está ficando pequeno, me sinto cada vez mais sufocada. A única pessoa que parece me entender nesse momento é Jack. Ele tem feito companhia pra mim todos esses dias, desde que eu sai do hospital. Inclusive estou indo em uma psicóloga, Doutora Carter. Ela vem tentando mostrar como a vida é incrível, que passamos por momentos que queremos simplesmente sumir, mas que essa não é a solução.

A solução é se permitir. Permitir viver os momentos da vida da melhor forma possível. Afinal tudo tem pros e contras. Pode ser mais contras do que pros, mas depende do peso que cada argumento terá .

- Voce já terminou o trabalho de química?- Jack me pergunta, enquanto estamos caminhando pelos corredores do inferno. Já quase vazio.

- Vou terminar sozinha, parece que Michael não se importa. De qualquer forma, não estarei aqui para apresentar. Por isso, vou entregar para ele e que ele use da forma que quiser.

- Não fica assim, eu sei que é difícil.- ele me puxa para um abraço.

- É que eu não entendo- apoiou a minha cabeça no seu peito.- Ele disse que me amava, eu pedi um tempo, mas ele se afastou completamente. Ele disse que me amava. Que era tudo mentira o que acontecera na festa, mas...

- Pare de se importar, eu sei o quanto é difícil gostar de uma pessoa e não ser correspondido da mesma forma.- sinto seu peito subir e descer conforme sua respiração vai se tornando mais profunda- Olha pra mim- ele fala levantando meu queixo- eu estou aqui tá bom- não estava- agora estou.- ele completa, já lendo meus pensamentos e apenas assinto.- Quer matar aula? Já que é nossos últimos dias nessa escola, que tal sair um pouquinho dos trilhos?- assinto novamente.

- Espera ai, nossos? Como assim, você vai se mudar, por que não me disse?

- Hum... é ... - ele parece pensar se continua- é que eu também vou para Boston. Eu não sabia disso até ontem. Meus pais também foram transferidos para Boston.- fico boquiaberta e um sorriso surgi em minha boca e me vejo pular em seu colo.

- Por favor, fala que isso é verdade. Meu Deus.- falo abraçando seu pescoço. Enquanto sua mão está em minha cintura e percebo que estou com as pernas ao redor da cintura dele.- Desculpa- falo saindo do seu colo.

- Não, não se preocupa. Eu queria te contar depois, mas um deslise na fala e eu me entreguei.

- Obrigada por voltar, e dessa vez ir comigo.- não consigo tirar o sorriso do rosto. Essa notícia merece uma comemoração.- Mudando de assunto, vamos ao Lana's? - eu sei que esse lugar vai fazer eu lembrar do Michael, mas não vou me privar a ir a lugares que me remetem ele. Nossa história ainda não acabou.

- Vamos, só preciso ir no vestiário buscar meu casaco.- assinto. Fomos de fininho até lá, por mais que não ficaremos nessa escola por muito tempo, eu não posso comprometer meu histórico. Decido entrar. Sempre quis saber como era, mesmo imaginando um cheiro horrível e todo lotado ele era bastante diferente disso. Provavelmente por estar vazio.

  Escutamos um barulho atrás do último armário. Como sou curiosa, logo quis ver o que era. Tento me aproximar, mas Jack me impede.

- Eu vou, fique aqui.- ele sussurra. Anuí, mesmo não querendo. Ele se aproxima e inclina a cabeça. Ele parece se assustar e volta até mim correndo.- É só duas pessoas se beijando.- ele diz, mas não parece ser só isso.- Vamos.- finjo que acompanho ele, mas volto apressando os passos tentando me aproximar do último armário sem que Jack perceba.

Mas me arrependo profundamente de ver o que eu vi. Devia ter escutado, ou talvez não. Isso foi bom para me mostrar a verdade.

Eu só queria te odiar Onde histórias criam vida. Descubra agora