A Culpa foi do Telefone Fixo

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Rio de Janeiro, 30 de Dezembro de 1999

Véspera da véspera de ano novo, me lembro dessa data com muito carinho. Quer dizer, no dia em questão meus nervos ficaram em chamas, porém consigo me lembrar como o dia em que Deus estendeu sua mão a mim.

Tudo começou quando recebi uma carta dos meus pais da minha terra natal, tinha me mudado para a capital  há exatamente 7 meses, pois na cidade de Cabo Frio não consegui uma vaga em Jornalismo. Estava me adaptando bem e pensei em seguir carreira por ali mesmo. Mas enquanto buscava de Deus confirmação para isso não obtinha respostas, não sabia se ao final do meu curso deveria voltar para minha terrinha e trabalhar no jornal local ou se deveria continuar onde estou e tentar emprego na grande metrópole, quem sabe na TV; como já disse eu não sabia, em nada Deus me direcionava e me perguntava se precisaria pedir que Deus desenhasse pra mim a minha história pra que eu não erre.

Foi então que li a carta, nela estava expresso todo o carinho de meus pais e o quanto eles gostariam de conversar comigo no ano novo. Não perdi tempo e corri para o telefone e percebi que não dava linha.

Oh Deus! Porque não dava linha? O único momento que poderia ser amada e me sentir bem, o único porto seguro que tinha nessa terra, meus amados que sentiam saudades de mim e eu não poderia ligar pra eles. Só havia uma saída, já que precisaria de um segundo telefone para fazer minhas reclamações com a companhia elétrica, decidi bater na porta do vizinho e não foi uma tarefa fácil.

***

E lá estava eu de frente para a porta do meu vizinho, eu sabia que era um homem porque lembro que o vi uma vez no começo da minha estadia, e certa vez ouvi uma voz masculina vinda dessa casa então fiquei mais nervosa por ele pensar que posso ser interesseira ou atirada, o que é mentira.

Já fui a minha casa e voltei várias vezes. Entre essas idas e vindas pensei em ir até o local de reclamações mas era longe demais e eu preciso do telefone para até amanhã no máximo.

Numa súbita coragem bati a porta a minha frente e somente depois notei a campainha e me senti idiota, virei para ir embora tendo certeza que ninguém ouviu minhas batidas leves mas ouvi a porta se abrir:

- Olá? - Droga! Ele me ouviu e pela voz estava certa é um "ele", decidi me virar.

- Olá... Eu... Eu sou sua vizinha.

- Eu sei. - Ele sorri como se fosse óbvio, mas eu nunca me apresentei assim, nossa! Eu nunca me apresentei!!! Ele deve me achar má educada por isso. Com esse pensamento e meu nervosismo aparente estendi a mão rápido e de modo robótico.

- Sou Mônica. - Ele aperta minha mão e não solta, acho que vou morrer.

- Fábio - Ele diz depois de um tempo.

- Desculpa te atrapalhar e me apresentar só agora.

- Tudo bem. - Seu sorriso disfarçado agora se abre muito o que faz com que eu sorria também acredito que seja por alívio.

- Sabe meu telefone não tem linha eu preciso fazer uma ligação urgente pros meus pais mas achei que seria melhor ligar pra concertarem a linha antes. Será que eu posso usar seu telefone?... Por favor?

- Pode! - Ele abre passagem - Entra.

- Obrigada! - Ele me mostra o sofá e ao seu lado a mesinha do telefone com um bloquinho e caneta para recados. - Você por acaso tem o número da companhia telefônica?

- Espera aqui. - Ele vai até vá sua rack e puxa o catálogo amarelo procura um pouco e dita o número enquanto eu fico no seu aparelho digitando os números, chama algumas vezes e espero em pé. - Você não quer se sentar?

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