Capítulo 1

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– Eu quero quarta-feira... festa com você. Posso querer? – Carolina falou um tanto embolado, talvez pelo excesso de bebida.

A reação de Gabriela ao ouvir tais palavras foi de um certo desespero. Pousou sua mão gentilmente no cabelo da baixinha, como quem fosse puxar para um beijo. No entanto fechou os olhos, dando-se conta que não poderia fazer aquilo. A forma como as palavras saíram da boca de Carolina, o olhar da morena para si dizia muita coisa que Gabriela viera se forçando a não notar. Mas estava ali, mais uma vez a voz dengosa, o olhar cheio de desejo. Se abraçaram novamente e no meio do abraço sentia os batimentos acelerados. Seus corações estavam quase a mesma altura, separados por uma fina camada de pele. Foi ao sentir a respiração de Carolina em seu pescoço que Gabriela parou de respirar. Talvez não soubesse explicar tudo o que sentiu naquele instante, mas pediu internamente que aquela com quem compartilhava o abraço também dividisse os sentimentos.

Sentimentos esses que eram tantos, Gabriela nem conseguiria pensar em todos no estado em que estava. Então fez o que sempre fizera em sua vida: sentir. Sentiu aquele abraço e a verdade que ele passava. Carolina murmurava algo em seu ombro e ela respondeu no automático mais palavras que nem sabia do que se tratava. Ficou sentindo aquele momento, a energia daquela mulher. Queria ter o poder de congelar aquele momento. Queria nunca esquecer aquelas palavras. Sentia o olhar de Peixinho sobre ela, um olhar que Gabriela jurava ser de desejo. Suas peles estavam em pleno fogo. As respirações quentes, as palavras quentes. Os corações pareciam querer atravessar de um corpo para o outro. Elas se apertavam como quem dizia "faça sua morada aqui" de tão intenso que tudo parecia acontecer.

Até que ouviram um sinal de atenção, que anunciava não somente o fim daquela festa, mas também o fim daquele encontro de almas.

***

– Quem vem viver uma vida nova aqui fora... – Tiago fez uma pausa antes de anunciar o nome que Carolina temia ouvir naquele momento: – é a Gabriela.

Gabriela levantou-se após o anúncio de Tiago que seria a eliminada daquela noite. Se tinha uma pessoa que tinha orgulho naquela casa era Rizia, e por mais que um paredão com ela fosse o último de seus desejos para aquele jogo, se sentiu muito feliz em ter sido eliminada pela amiga. Abraçou os amigos de confinamento, mas foi ao encontrar o corpo de Carolina que ela cambaleou.

– Minha baianinha... – Gabriela se ouviu dizer enquanto recebia mais um abraço forte de Carol.

Trocaram palavras de encorajamento, de saudosismos e promessas. Mais uma vez os corações se encontravam naquele abraço-casa que Peixinho tinha. Seriam poucos dias dali até a final, mas a menor a puxava com tanta força que Gabriela sentiu o peso da despedida. Sorria porque era grata pela experiência, mas segurou o rosto de Carol entre suas mãos. Por um segundo se sentiu titubear. Pareceu-lhe que suas bocas iriam se encontrar. Não era o intenção de Gabriela ao segurar o rosto de Carol, mas quando esse pensamento lhe ocorreu o desejo surgiu. Passou como uma flecha em seu coração. Inclinou-se para beijar seu rosto e Carolina ofereceu seus olhos. Era um beijo singelo, de cuidado. E de certa forma aquele beijo resumia o que uma tinha sido para a outra naquela casa: cuidado.

Carolina sentia-se notada pela paulista e cuidava dela também. Por um momento se permitiu pensar em Gabriela e tudo que ela representou ali dentro. Por mais autossuficiente que fosse, era nos abraços matinais que sentia pertencente àquele espaço. Sabia que tinha o apoio da negra porque via em seu olhar toda a verdade daquela vivência. Carolina havia prometido a si mesma questionar sua vida depois de tantas situações conturbadas que havia vivido no ano anterior. Gabriela, de certa forma, representou esse questionamento. Ela não esperou por isso e talvez fosse o caminho a seguir. A vida nunca lhe dera nada de mão beijada e sabia bem que as ordens do universo seguiam um fluxo próprio, muitas vezes indecifráveis a princípio.

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