Capítulo 4

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Gente, esse capítulo ficou imenso! Tenham paciência, os outros seguirão o padrão dos anteriores. Mas precisava que tudo isso ficasse aqui pra não quebrar a sequência da história.
Beijos e abraços!



Carolina suspirou e levantou-se da cama, jogando o cabelo de forma que cobria seu rosto enquanto limpava as lágrimas. Dirigiu-se até a varanda, a passos firmes, para recolher as roupas de Gabriela. Sabia que era observada pela mulher com quem trocara fluidos e energia minutos atrás. Mas fingiu indiferença. Não era de fazer drama para ninguém e ali não seria diferente. Entregou gentilmente as peças, mas sem olhar em seus olhos. Voltou a caminhar, agora para o banheiro.

Gabriela entendeu o recado mas não conseguia entender a razão dele. Por que Peixinho estava agindo daquela forma? Vestiu-se, envergonhada, em silêncio. Entendia que depois dali teria que partir e se percebeu seguindo um caminho um tanto forçada. Sua vontade era de permanecer, sabe-se lá por quanto tempo. Não queria falar nada, nem resolver nada. Não queria ter que dizer adeus.

Desejou ter conhecido Carolina em outra situação de sua vida. Quis que estivesse solteira para poder curtir a baiana, sem que magoasse Maria Laura. Ao mesmo tempo, sabia que aquele encontro era único. Não poderia imaginar acontecendo em um bar qualquer. A raridade desse acaso tornava-o completamente diferente de uma vida ordinária. Sentiu seus olhos tomados por lágrimas ao pensar na possibilidade de nunca mais experienciar as trocas daquela noite. Mas antes que caminhasse até Peixinho, limpou as lágrimas na camisa. Não queria tornar aquele momento mais doloroso.

– Ei... – parou na soleira da porta, recostando sua cabeça na madeira. – Quer mesmo que eu vá?

– Cê já até se vestiu, nega. – disse Carol pegando uma toalha de rosto para secá-lo e esconder de Gabriela as marcas de sua dor. – Tem que fazer essa pergunta pra si mesma.

Colocou a toalha de volta em seu lugar e saiu do banheiro. Gabriela soltou o ar que nem percebia estar prendendo. Sempre agia sem pensar e aquilo a matava. Lembrou das inúmeras vezes que a vida lhe exigia mais racionalidade. Mas sempre que via já tinha feito. Era cheia de arrependimentos. Uma palavra mal colocada aqui, uma resposta sem pensar ali.

Sabia que era toda cagada, como gostava de dizer. Sempre agia no momento errado, tentando remediar os estragos que causara. Preferia magoar a si mesma,  colocar-se em segundo, terceiro e até mesmo em quarto plano antes de machucar alguém que amava.

– Olhe, Gabi, eu sei o que você ta pensando. Não quero ficar aqui me lamentando com você sobre como é difícil. Que é difícil, é. Isso a gente já sabia. Mas não precisa ficar toda amuada aí pelo quarto, se arrastando nas paredes, não. Lave seu rosto e volte pra bonitona lá, que ela está lhe esperando.

Carolina falou tão rápido que as palavras saíram rasgadas de sua garganta e atingiram Gabriela com a mesma intensidade. Ouviu a raiva misturada com mágoa que tomava de conta da sua Peixa e sentiu um nó formar-se em sua garganta. Queria envolvê-la em seus braços, queria pedir perdão por todas as atitudes sem pensar. Estava angustiada, querendo fugir dali. Forçou-se a puxar o ar e escolheu bem as palavras que usaria.

– Eu vim aqui pra falar sobre o que eu senti la dentro. Não sei qual foi a tua intenção, mas eu vim aqui pra isso. Não pense que tá sendo as mil maravilhas pra mim, porque não tá. Não tá. – Gabriela vestiu a armadura que havia construído para situações como essas, que não eram poucas em sua vida. – Eu não esperava por isso, pô. Cê tem noção do que acabou de acontecer entre a gente?! Eu sei que você sentiu o mesmo que eu porque eu vi nos teu olhar, não finge que não. Se ta arrependida...

– Você acha que eu me arrependo? Ô, Gabriela, pare de se reduzir. Eu quis você. Desse jeito mesmo que tive. – Carolina agora estava com raiva. Por que ela sempre tinha que duvidar de si? – Quem deve estar arrependida é você que namora. Aliás, nunca terminou, né?

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